12 de dezembro de 2017

À francesa


À francesa

Assim se diz paixão: ardente e única
Na pluma que cai no silêncio, e aos ouvidos insiste...
Na fleuma fina que com nada se parte
Aparte à parte da razão que inexiste.

Assim se diz mistério: ela e amanhã
Na ação e ressurreição dos sentimentos subtraídos
Atraídos ao sim – ao não, ao tanto – ao pouco
Louco varrido, desgarrado e desvalido – sã.

Assim nada feito: saída singela à francesa
Comida à mesa, sem fome – olhos atentos à cegueira
Sem eira nem beira, novamente entregue ao caminho...
Sem afã, à procura, abraços ao vento – lento redemoinho.

11 de dezembro de 2017

Ótima terça aos amigos



"(...) Música clássica? É Mozart, Bach, Beethoven! Você sente o poder desses nomes, mas não vê que está delegado somente a eles o poder de definir o que é a música erudita.
É curioso a gente observar como apenas hoje, a partir da tentativa de um resgate do papel da mulher na história, começamos a ter uma vaga noção da participação delas.
Ainda mais curioso é nos darmos conta de que as 'mulheres' mais conhecidas da música clássica são músicas. 'Fur Elise', do Beethoven. 'O pequeno livro de Anna Magdalena', do Bach. Curiosamente, essas músicas, inclusive os autores dela, Beethoven e Bach, nasceram depois de Maddalena Casulana, a primeira compositora a ter uma obra impressa e publicada no ocidente.
E pode ficar muito mais curioso (para não dizer mais triste) quando as estatísticas nos dizem que mulheres consomem mais cultura que os homens. Leem mais, visitam mais museus, teatros, etc. Mas se você analisar os dados, são os homens que continuam a comandar os museus, a literatura e o teatro.
Mulheres consomem e participam mais da cultura, mas a cultura não é feita para elas e nem por elas. Mesmo nas orquestras mais equiparadas, os regentes são homens.
Na verdade, aquele montinho ali embaixo do tapete é a história delas, que foi escondida.
Cuidado para não pisar em cima." - @diogobatalha


Três matérias sobre o Mercado de Fakes - Importante!


Exclusivo: investigação revela exército de perfis falsos usados para influenciar eleições no Brasil
Juliana Gragnani
Da BBC Brasil em Londres ---> Aqui


Ainda que ilegais, as fazendas de bots no Facebook ajudam políticos e marcas a ganharem relevância em troca de milhares de reais.
----> Aqui



Jonh Azevedo estava sempre cansado. Em dois meses, disse 20 vezes a seus seguidores do Twitter que era hora de repousar: "Descansar, que amanhã será um longo dia, boa noite", "Descansar, que hoje foi um dia bastante cansativo. Boa noite", "Descansar depois desse longo dia de trabalho, boa noite a todos".  ----> Aqui

Corpos



Corpos

Entre quatro paredes geralmente não há frio
Como as palavras que bem encaixadas se tornam um samba
Correnteza lenta que desce sem fim o rio
Entre as pernas, pedras, contornos e subornos...
Calafrio.

As sensações misturam-se em desvairo
Não mais se sabe os inícios, os meios e os fins
Lençóis em êxtase e o leito em vida
Malabaristas tântricos se travestem de querubins.

O tempo é dedicação e ternura
A luxúria e o reto da ação se fazem tortos
O absorto é de pura candura
Corpos que se tocam vivos não se entregam mortos.

10 de dezembro de 2017

Das Loucuras (tá com fome? mata um homem e come)


Das Loucuras (tá com fome? mata um homem e come)

Procura em seu medo a resposta de quem era em seu meio
A nova feia fera enfrenta o mundo com a faca nos dentes.
Tiro no peito, dor de cotovelo e o amor que nasce na gente.
A visão nada rente, a maçã e a serpente e sua alma “for sale”.

Posto em prova, disposto em pé com sua prosa;
Pau Pereira no copo e nas mãos magras um tridente.
Visa vencer qualquer besta, toda a busca, nenhuma bosta...
Mete o nariz onde não deve; mata o que vier pela frente.

A seriedade do seu mundo sobressai na ligeireza da escrita:
Vê-se morto na cripta e vivo decrépito...
Não se entrega nem por decreto.

Decorou direitinho sua guerra, conhece de cor os cadetes;
Abre sua boca danada, lança seu grito, lança uma granada.
Sua vida sobressalente; é ciente que não dá em nada,
Vê que sua mente é empregada servindo café aos doentes.

Jamais deu importância às suas feridas
Mergulhado como agulha na filosofia de Platão.
Entrega-se aos deuses tortos de suas linhas,
E as vinhas de qualquer céu de plantão.

André Anlub
(10/12/17)

Ótimo domingo!


O Funeral da Reforma Agrária: arte e política em 1964

"Prefiro ter a vida como inimiga, a ter na morte da vida, minha sorte decidida” (Gilberto Gil, Viramundo, música composta um ano após o golpe militar).

"Há um elemento na “natureza” humana que não nos permite dissociar arte e política, os afetos. Ambos, cultura e poder, apelam para a razão, mas alcançam as emoções. O poder atravessa o ser humano e produz efeitos ambíguos. Ora reprimindo, ora mostrando o caminho da emancipação. Seja como for, a política atinge o sujeito no seu íntimo e produz emoções conflitantes. A opressão pode levar ao desejo pela liberdade ou à melancolia e à resignação. Essa gangorra afetiva não age apenas no âmbito individual, mas também na esfera social, no coletivo. Uma atmosfera social de certezas, de fé e de euforia, produz esperanças que, caso frustradas, podem ser vertidas em profunda decepção.
Os avanços e recuos do jogo político, sobretudo em momentos de alta intensidade como os anos 1960, produzem fortes sentimentos que são extravasados na forma de arte. A relação entre estética e poder deve ser entendida como uma avenida de mão dupla. De um lado, é possível perceber o quanto o ambiente social transforma a cultura; mas, de outro, a produção artística tem o poder de mostrar às pessoas que outra realidade é possível. Portanto, a arte é também transformadora, ela é afetada e afeta os rumos da política. A arte tem o poder de subverter o poder.
Um dos períodos mais emblemáticos para entendermos essa relação é o golpe militar de 1964. A derrubada de Goulart não foi somente o fim de um governo, mas de um projeto, de um momento da história brasileira em que homens e mulheres sonhavam com a justiça social. O golpe foi forte, certeiro e sepultou nossas esperanças.
Mas, na época, nada disso estava claro. Muitos brasileiros pensavam que a intervenção seria curta e que, em breve, as lutas sociais voltariam. Outros, talvez pela sensibilidade, tinham uma percepção diferente e transmitiam a sensação da solidão presente no momento em que a festa termina e os convidados seguem suas vidas, deixando apenas vestígios de um momento de alegria que se acabou, que é parte do passado, que se perdeu.
Havia uma única certeza, como cantará Elis Regina anos depois, “nada será como antes amanhã”. Mas como as coisas ficariam, depois de um trauma tão grande, ninguém sabia ao certo. Num cenário de tantas incertezas, a razão é incapaz de nos orientar. Restando-nos as emoções, os sentimentos. Os afetos, porém, em muitas ocasiões, são proféticos.
A música brasileira produzida em 1964 oscilava entre a esperança da resistência e a melancolia da perda. Ambos estavam certos. Essa foi a história da ditadura, um misto de perda e luta. De destruição e reconstrução. No início dos anos 1960, os brasileiros acreditavam num país mais justo e tinham um projeto para alcançar tal destino, as reformas. Na segunda metade desse mesmo decênio, perdemos o projeto, mas não os sonhos.
Três canções – a primeira pré-golpe, Hino da Reforma Agrária (autor desconhecido); as outras duas pós-64, “Funeral do Lavrador” (Chico Buarque) e Sina do Caboclo (Nara Leão) –, nos ajudam a sentir, mais de cinco décadas depois, um pouco do impacto que representou o abrupto corte na política brasileira. Poucos anos separam as composições, porém, as escolhas estéticas nos indicam que algo muito forte havia acontecido. O que exatamente?
A reforma agrária pode ser considerada o grande tema político do Brasil na segunda metade do século XX. Até 1980 éramos um país majoritariamente agrário. Nossa história também foi marcada, desde os primeiros anos, pela formação dos chamados “latifúndios”. A concentração de terra era vista como a fonte do poder de poucos e da opressão de muitos. Mas nada estava perdido, o caminho estava traçado. A solução viria da reforma, da redistribuição da terra. Esse era, com efeito, o maior sonho do Brasil pré-golpe. Em torno dele, os camponeses se organizaram em ligas e em sindicatos. O Hino da Reforma Agrária expressava tais anseios e conclamava os camponeses a lutarem pelo seu pedaço de chão. O ritmo, marcial, cadenciado, havia sido construído para transmitir a sensação de movimento, de progresso e de evolução. O homem rural avançaria, em direção à reforma agrária, como uma tropa no meio da batalha. Essa era a imagem. Como na guerra, era preciso colocar-se em movimento, avançar para o outro lado recuar.
Romantismo em excesso, porém, ofusca a visão e esconde os perigos. O avanço pode deixar a retaguarda desguarnecida e o contra-ataque é fulminante. E foi. Em poucos dias, os militares estavam no poder, os sindicatos rurais perseguidos e os camponeses ativistas presos e torturados. A reforma agrária, que, dizia-se, seria o destino do homem explorado, enterrada. Havia um objetivo, um fim, mas este era uma miragem que, em instantes, havia desaparecido. O que fazer?
O que sobraria para o homem do campo? Sem a esperança da justiça, da emancipação, restaria a velha e dura realidade de sempre. Trabalhar para sobreviver, sobrevier para trabalhar, a espera do momento da morte e do esquecimento.
Os hinos saem do cenário cultural brasileiro, em seu lugar, entra a MPB. O ritmo agora era fúnebre. Nara Leão fala da “Sina do Caboclo”. O mesmo camponês do Hino da Reforma Agrária, que trabalhava com a certeza de que dias melhores logo chegariam, ressurge sem esperança. Ao caboclo, como no mito de Sísifo, resta o trabalho árduo, pois esse é o seu destino. Não há sentido, não há luta, apenas o curso natural da vida. Ele nasceu para ser explorado. E a esperança? Essa não existe, pelo menos no mundo rural. Lá, a batalha foi perdida. Se o caboclo quiser ter o direito de sonhar novamente, será preciso, mesmo com os olhos cheios de água, buscar outros horizontes, outras terras, outros senhores.
A reforma agrária estava enterrada. No mesmo ano, um jovem e, na época, pouco conhecido Chico Buarque decretava o fim do sonho. “O Funeral do Lavrador” é a imagem do enterro das esperanças no campo. O lavrador lutou pela sua parte no latifúndio e o que havia recebido? Qual parte seria sua por direito? Chico responde:
Esta cova em que estás com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho nem largo nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a parte que te cabe deste latifúndio 
(Funeral do Lavrador, Chico Buarque)
Sem justiça, sem terra, sem luta, sem esperança. Esse era o Brasil de 1964, que, como o caboclo, seguia seu triste destino histórico de país injusto e desigual. Triste sina. Triste velório dos nossos ideais. Triste luto.
Mas não há dor eterna. Nossas reformas foram enterradas, o fato estava consumado, o que fazer depois do luto? Se a melancolia leva a paralisia, a inação produz tédio, angústia que, por sua vez, clama por movimento. O abismo da política afundou a arte na depressão, mas os artistas logo reagiriam. Já em 1964 começaram a aparecer músicas mais agressivas, mais rasgadas. A raiva também é um sentimento potente, político, transformador.
O sertão era tanto a terra do triste caboclo, quanto do altivo carcará, ave de rapina, acostumada a suportar as intempéries de um ambiente inóspito, hostil e sobreviver. Maria Bethania avisava aos que comemoravam a vitória: “Carcará, pega, mata e come/ Caracará não vai morrer de fome” (Carcará, 1964).
Se a volta da “escravidão” nos imobilizava, Edu Lobo nos lembrava de Zumbi dos Palmares, escravo que nunca aceitou seu destino; “chega de viver na escravidão/ é o mesmo céu/ o mesmo chão/ o mesmo amor/ a mesma paixão” (Zumbi no açoite). Sim, estávamos sobre o mesmo chão de zumbi, movidos pela mesma paixão pela liberdade e, seguindo o exemplo do mártir negro, era preciso resistir.
O sonho da emancipação foi substituído pela raiva rasgada da resistência. Liberdade e resistência são afetos, por excelência, políticos. Estávamos debaixo do mesmo céu que cobria o quilombo dos palmares, movidos pelas mesmas paixões. Dessa vez a história não seria diferente, haveria luta. Se o destino nos reservava o mesmo fim de Zumbi, era impossível prever, a única certeza era que o futuro poderia ser construído, não precisaria ser uma triste sina.
Era hora de o caboclo enxugar as lágrimas. A política afundou a arte na escuridão do abismo. Mas ele tinha um fundo e, quando a vertigem da queda foi substituída pela segurança de um solo para pisar, nosso artistas nos lembraram que, caso olhássemos para outra direção, perceberíamos que no topo havia luz. E, se quiséssemos claridade, precisaríamos nos mexer. O caminho seria duro, longo, mas nunca deixamos de nos movimentar.
Em 1964 a política deu um duro golpe de realidade no romantismo da arte. Após esse primeiro baque, a arte, ao romantizar a realidade dura, deu sentido ao caos. A maré, aos poucos viraria, e as vicissitudes do poder deixaria de conduzir os rumos estéticos da cultura e a arte iniciaria a reação que conduziria o país na direção de outra realidade. Sim, 1964 foi o início de uma longa e difícil ditadura, mas também marcou a emergência de novos sonhos e de novas lutas. Como dizia Gilberto Gil: era preferível ter “a vida como inimiga, a ter na morte da vida, minha sorte decidida” (Viramundo).
Abril de 1964 mostrou aos brasileiros que a história não é linear. A arte, porém, nos lembrou que o mundo roda e a vida gira. Se o Brasil estava de ponta-cabeça, precisávamos rodopiar. Viramundo, roda a porta estandarte, roda meu povo eram as imagens presentes nas letras do compositor baiano. Todos queriam girar, rodopiar, na esperança que a Roda Viva (Roda Viva Chico Buarque) nos levasse para bem longe. Nesse turbilhão, Chico Buarque nos consolava afirmando que, mesmo com o sentimento de “quem partiu ou morreu”, nós ainda queríamos ter voz ativa.
O mundo, de fato, havia crescido. Mas o povo brasileiro também. A banda passou (A Banda, Chico Buarque) deixou seu recado, os brasileiros ouviram e se colocaram em movimento mais uma vez. Seja “caminhando, cantando e seguindo a canção”, seja rodopiando, “nas voltas do coração”, o importante era não ficar estático.
Se sofrer é a sina do caboclo, resistir é a sua única alternativa. É o destino do povo brasileiro."

- Eduardo Migowski

9 de dezembro de 2017

Das Loucuras (nunca andou olhando por cima dos ombros)


Das Loucuras (nunca andou olhando por cima dos ombros)

Saquei, a Lua não gosta mais de mim...
Estou minguante, cheio, com desânimo crescente sem boa nova.
Já sei, falar de amor é uma ova...
Sou página virada, antiga, chego a ser engraçado – Pasquim.

Sentei-me a semana toda na varanda e olhei para o céu;
Ela luzente, sorria contente atrás das nuvens...
Devo estar velho, sem encantamento, entregue às ferrugens.
Ela ainda é moça, quase virginal com seu ego no apogeu.

Agora entendo o porquê da Lua nunca ter medo...
Ela é segura, sem embaraço, mesmo nua... Sei seu segredo.
Devo a paz da noite a ela, sentinela de tudo que aconteceu;
Devo a angústia a ela, pois faz parte do que sou ao meu Deus.

Saquê, a Lua e seu coelho agora, numa “nice”, numa boa...
Estou minguado, saciado, mas trago boas novas:
Peixe assado, pimenta caiena, cogumelos variados e batata-baroa;
Livro da Hilda Hilst, papel e caneta, uma prancheta e muitas trovas.

À beira dos quarenta e sete, menos de um mês e o sorriso largo;
Vivendo meu fato dentro de um faz-de-conta sem rédea curta.
Casa pronta, à mesa com a vida – a poesia embarco e embargo...
É Janeiro, confirmo o vento, iço as velas e vou rumo à permuta. 

André Anlub
(7/12/17)

6 de dezembro de 2017

Cinco Sylvia(s)


Espelho
Sylvia Plath
tradução de André Cardoso

Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo imediatamente
Do jeito que for, desembaçado de amor ou aversão.
Não sou cruel, apenas verdadeiro –
O olho de um pequeno deus, de quatro cantos.
Na maior parte do tempo medito sobre a parede em frente.
Ela é rosa, pontilhada. Já olhei para ela tanto tempo,
Eu acho que ela é parte do meu coração. Mas ela oscila.
Rostos e escuridão nos separam toda hora.

Agora sou um lago. Uma mulher se dobra sobre mim,
Buscando na minha superfície o que ela realmente é.
Então ela se vira para aquelas mentirosas, as velas ou a lua.
Vejo suas costas, e as reflito fielmente.
Ela me recompensa com lágrimas e um agitar das mãos.
Sou importante para ela. Ela vem e vai.
A cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão.
Em mim ela afogou uma menina, e em mim uma velha
Se ergue em direção a ela dia após dia, como um peixe terrível.

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Palavra
Sylvia Plath
tradução de Ana Cristina Cesar

Golpes,
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.

A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
sobre a rocha

Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro

Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto
Do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.

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Outono de rã
Sylvia Plath
tradução de Jorge Wanderley

O verão envelhece, mãe impiedosa.
Os insetos vão escassos, esquálidos.
Em nossos lares palustres nós apenas
Coaxamos e definhamos.

As manhas se dissipam em sonolência.
O sol brilha pachorrento
Entre caniços ocos. As moscas não chegam a nós.
O charco nos repugna.

A geada cobre até aranhas. Obviamente
O deus da plenitude
Está morando longe daqui. Nosso povo rareia
Lamentavelmente.

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Os Manequins de Munique
Sylvia Plath
Tradução de Claudia Roquette-Pinto

A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos.
Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero

Onde os teixos inflam como hidras,
A árvore da vida e a árvore da vida.

Desprendendo suas luas, mês após mês, sem nenhum objetivo.
O jorro de sangue é o jorro do amor,

O sacrifício absoluto.
Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu

Eu e você.
Assim, com sua beleza sulfúrica, com seus sorrisos

Esses manequins se inclinam esta noite
Em Munique, necrotério entre Roma e Paris,

Nus e carecas em seus casacos de pele,
Pirulitos de laranja com hastes de prata

Insuportáveis, sem cérebro.
A neve pinga seus pedaços de escuridão.

Ninguém por perto. Nos hotéis
Mãos vão abrir portas e deixar

Sapatos no chão para uma mão de graxa
Onde dedos largos vão entrar amanhã.
Ah, essas domésticas janelas,
As rendinhas de bebê, as folhas verdes de confeito,

Os alemães dormindo, espessos, no seu insondável desprezo.
E nos ganchos, os telefones pretos

Cintilando
Cintilando e digerindo

A mudez. A neve não tem voz.

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Canção de Amor da Jovem Louca
Sylvia Plath
Tradução de Maria Luíza Nogueira

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)

Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:

(Acho que te criei no interior de minha mente.)

Das Loucuras (ISO 9001)


Das Loucuras (ISO 9001)

A morte é indolor, é inodora, é insípida, mas tem cor;
A meu ver, a minha é azul-marinho,
Ou só um tom mais denso de azul.
Mas num todo, a todos, é furta-cor...
Fica à mercê da imaginação, à escolha de cada um.

Entre o tempo presente, vivente, e a primeira lembrança,
Há um orbe de cenas, de sons, de sentimentos – flashes;
Nós e eles, nossas falas, cheiros, olhares, vestes...
Tudo na construção sustentado pelo alicerce da esperança.

O muro, entre as coisas ruins e boas, é fácil atravessar...
Tão apoucado, assim, pequeno, mas largo; tão frágil, mas hábil...
Variamos entre aqui, agora, em cima dele e acolá. 

Meu café quente: vários motes metidos a besta,
Nababescas metas, cópulas, copa de árvore, manga, abacate,
Poema que sopra, adequações de tempo, espaço e matéria,
Etérea mente aberta... Arte.

Meu café morno: ponteiro que anda depressa, represa de sentimentos,
Caneta convulsa, conversa, beijos, sexo, nexo, alarme que toca,
Perplexo, a vida ao contrário, torta, o mundo se sabota e aborta.

Meu café frio: montanhas íngremes, realidade do homem, dívida, dúvida,
Da vida, Davi, avalanches, lanches do Mcdonalds, “c’est la vie”...
E requenta o café, requebra o pé, levanta o copo, vai ao escopo...
Toda a canção ouvida, toda vida, poesia lida, linda, preenche o corpo oco.

André Anlub
(6/12/17)

Ótima quarta aos amigos



Dueto V

Eis as primárias linhas do poeta, desabando, gotículas de chuva na vastidão do mar.
Não são as primeiras mágoas, mas são as primeiras águas de um esteta.
Ao longe abandona a solidão com a ambição de companheirismos perfeitos.
Costura as ondas com o olhar, alinhava nuvens, prende gaivotas à liberdade.
Vendo em tudo “qualidades”, aspira e respira respeito como um rei em seu reino...
Eis então as primárias linhas do poeta, afetas a seus afetos, diretas em seus completos:
Visam apagarem suas últimas mágoas, as últimas lágrimas que a sua face banharam.
É uma viagem do sim atravessando os desertos do não
Dando um banho de inspiração na lúgubre escuridão do sem nada.

Rogério Camargo e André Anlub
(6/12/14)

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.