4 de novembro de 2017

Manancial


Manancial 

Bebi em fontes de águas puras, outras nem tanto
Ri com os anjos e joguei com as bestas
Coisa besta é não citar os meus prantos;
Coisa e tanto é que eu não me envaideça.

Em diversos sonhos banhei-me em cachoeiras
Que iam além dos vales, dos tempos, da verdade.
Minha vaidade não me deixa enfermo, arrependido;
Minha crença ensinou-me o aprendizado desde menino.

Nos inúmeros afluentes que percorri,
Me sequestrei, me sabotei, me socorri;
As memórias fortes de quando fui fraco,
Fizeram meu olhar mais amplo e menos vazio
Me colocando sempre e corretamente nos trilhos.

Manancial que nunca seca, de vida não tão sã,
Fez o que fui, o que sou... fará meu amanhã...
Transformará os destroços em uma nova muralha,
Beijará o meu momento abençoando minha alma.

André Anlub (5/12/15)

Das Loucuras (bakku-shan)


Das Loucuras (bakku-shan)

Era um teste, ou um trote, um tatu sem toca, só podia ser;
A vida indo estava belíssima, com um rebolado fenomenal;
Natural um assobio, um gesto cínico, mas evoluímos...
Era um blefe, bife de carne de soja, caviar é uma ova, vamos ver.

A vida vindo com outra cara: 
Chupou limão galego depois da feijoada
A vida fez da minha alma, à vida, submissa.
A via fez da minha escrita,
No oceano, um obsceno pingo d’água.
A vida viva e a nova cara:
Tomou suco de beterraba com limonada suíça.

Há fanáticos montados em suas motos enaltecendo as estradas;
Há homens de toga – desses falo sem qualquer intensidade.

Vejo futuros incertos com rojões, lágrimas e plenos juramentos.
Vejo você pintando o cabelo, e nesse espelho eu perco o jogo.
A escuridão me encalça, e realça o meu “mudar de argumento”;
Sem perceber a ressalva, entrei no poema do “Círculo de Fogo”.

A vida de costas é simples, sigo seguindo, atrás e só observo;
A vida de frente é o verso, o reverso e o grito da síntese do infinito.

André Anlub (4/11/17)

De jeito

De jeito, deleite
Bom bocado das línguas – dos beijos;
Lençóis de seda
E de penas de ganso.

Os travesseiros...
Doce delícia é nossa doce vida:
A cobiça reflete na minha íris...
É a malícia da sua infalível conquista.


Claros Gemidos (2012)

Quebrando a monotonia dos dias frios de inverno
coração é lar
marco de uma linda biografia.
Todo barco é vida e procura o mais perfeito rumo
um encharque de amor 
que é bem-vindo e “bem-indo”.

O fio que foi tecido pode ter sido aquele que me amarrou em você
pode querer que eu aceito
pode ser feito do que for...

Eu quero!

Você é meu lar
puro ar no meu naufrágio.
Doce abelha que se ateia o fogo carnal
um absurdo que pousa em um eu de mel
jovial perambulante por todo meu adágio.

Vamos delinear e saborear os momentos sem qualquer asco
abro você como um frasco
perfume dos mais caros.

Joia rara que enfeita o pescoço 
em nada raro instante.
O montante da paixão guardamos em claros gemidos
ah, bem claros.

2 de novembro de 2017

Então queres ser um escritor?



Então queres ser um escritor?
Charles Bukowski

se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.

se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.

se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.

não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.

quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.

não há outra alternativa.
e nunca houve.

Tradução: Manuel A. Domingos


1 de novembro de 2017

Há vidas


Sem inspiração ele morre por dentro
Surta e larga os pincéis - rumo ao pesadelo
Epiléticas mãos fazem movimentos elípticos
A tela, antes natureza morta, torna-se morto abstrato
Sem tato o artista desmonta, senta e chora.

Inspiração é mágica
Manda calar em silêncio, desmascara a arrogância
Jamais tornou amiga a ganância, tampouco a demência
Faz da anciã criança que outrora esquecida
Faz da recém-nascida o ser experiente.

31 de outubro de 2017

Das Loucuras (verdades carecas e mentiras cabeludas)


Das Loucuras (verdades carecas e mentiras cabeludas)

Nas perfeições da natureza, a minha mente monta o acampamento;
Aprecio cada pássaro, bicho, som, folha, rio, cor, cheiro, tons dessa beleza.
O futuro não importa, o passado entorta e o presente é torta de limão.
Nada não é até que então surja a razão de apenas ser, inovação. 

Quero colocar mais cores: expor o amor guardado no peito;
É egoísmo deixá-lo trancado e não compartilhá-lo nessa perfeição.
Mas gargalho em voz alta ao perceber que o amor me falta...
Não vejo jeito, me revolto e volto a um tempo de um Eu imperfeito.

Agora amo quem e quando quero; espero somente o que vier nua...
Saboto-me e ponho-me à mesa; sapeco a sobremesa: nua carne sua.
Minha refeição é fria, e nessa linha ao vivo eu vivo e sobrevivo sem pressa.
Pulo e mergulho na gruta: sem grilo, com grelo, com gula.

Pulo de galho em galho, sou Tarzan atazanado, pessoas são quebra-galhos, 
Reencarno o escárnio, reaproximo-me do exílio e encaixo os frangalhos.
Nesse mesmo instante eu desperto, foram sonhos que pariram pesadelos,
O amor me circunda como sangue; a paixão vai dos pés aos cabelos.

André Anlub (30/10/17)

29 de outubro de 2017

Ótima semana


O PINTO DO PRESIDENTE
ACABOU PAGANDO O PATO

"No Distrito Federal,
O mundo está revirado,
Tem um prato para cima
E tem um prato emborcado.

Contra o povo brasileiro,
Todo dia, o ano inteiro,
Cada prato está lotado.

Lotado de delinquentes
Da nossa democracia
Que levam tudo de eito,
Com as leis à revelia.

A Capital Federal
Se transformou, afinal,
No reino da putaria.

Na quarta-feira passada,
No meio do triste ato
De uma votação imunda,
Houve de repente um fato,
Para ninguém comovente:
O pinto do presidente
Acabou pagando o pato.

O xerife Tenebroso
Acompanhava entretido
Os discursos dos seus pares,
Cada qual o mais bandido;
Sentiu a coisa apertar
E quando foi urinar,
Seu pinto estava entupido.

Naquele grande sufoco,
Tentava, não conseguia.
Espremeu-se, fez esforço,
Mas a coisa não saía.

E quanto mais pelejava
E mais o tempo passava
Mais o seu pinto entupia.

O Tenebroso esqueceu
Seu autoritário estilo,
E começou a chamar
Pessoas para acudi-lo.

Foi levado à enfermaria,
Mas quem era que queria
Chegar nem perto daquilo.

Para discutir o caso,
Fizeram mesa redonda.
Pra salvar o Tenebroso
Daquela coisa hedionda,
Foi chegada a conclusão
De que melhor solução
Era lhe meter a sonda.

Foi de maneira forçada
Que resolveu consentir.
Um torçal logo trouxeram,
Mas quem quis se garantir,
Num momento como aquele,
De pegar a ‘coisa’ dele
Para a sonda introduzir?!

Tenebroso então falou,
Com seu jeito autoritário:
“Corram logo e vão chamar
Um correligionário
Que me salve desse aperto;
Os outros, conforme acerto,
Me salvam lá no plenário.

Chamem o Valdir Colatto,
Ou por outra, Alceu Moreira;
Chamem o José Fogaça,
Ou mesmo Mauro Pereira.

E se tiver ocupado,
Chamem Simone Morgado
Ou o Ronaldo Nogueira.

Chamem lá do Ceará
Deputado Genecias,
O Ronaldo e o Aníbal,
Que são minhas companhias;
Chamem o Danilo Forte,
Pois com eles, tenho sorte
De sair das agonias;

Chamem o Gomes de Matos,
Chamem Gorete Pereira,
Moses e Domingos Neto,
Chamem Vaidon Oliveira
Ou deputado Macedo
Pra desentupir sem medo
A minha velha torneira!”.

Enquanto lá no plenário
Pegava fogo a “prissiga”
Da corja de deputados
De todos nós inimiga,
Lá fora, até o “tinhoso”
Ajudava o Tenebroso
Esvaziar a bexiga.

A bexiga esvaziou-se,
Mas o Brasil segue cheio
De pilantras desonestos,
Ladrões do dinheiro alheio
Que roubando nosso erário
Deixa o povo e o operário
Sofrendo grande aperreio.

Urina presa tem jeito,
Embora provoque dor.
A medicina, faz tempo,
Corrige esse dissabor.

Não tem jeito verdadeiro
É o povo brasileiro
Preso à mão de um ditador.

A ninguém nunca desejo
Que mal algum aconteça,
Mas o senhor Tenebroso
Duma coisa não esqueça,
Pois conforme o que pressinto,
Nunca mais seu velho pinto
Vai levantar a cabeça."

PPP (Pedro Paulo Paulino)
26/10/17

Das Loucuras (la vérité surgit de la méprise*)




Das Loucuras (la vérité surgit de la méprise*)

Num telhado qualquer, agora, o gato angorá caolho observa;
Na selva, ao lado do bem-me-quer, há um coelho malhado.
Não há, sob a luz do luar, um trocadilho que salva;
Porém, uma salva de palmas ao mar, ao rio, ao filho, ao jus da alma.

Tudo do jeito que deve ser; desse jeito explica-se tudo – peça louca.
Lembra-se da chuva, do sol, ombros amigos, anjos caídos;
Esquece-se do sonho rasteiro, da melancolia, do preço da gasolina...
Comprimidos comprimido pelo cacoete de voar ao céu da boca.

Sonhos orgânicos, comidas orgânicas – somos o que comemos...
Entramos/entrando pelos canos – e tudo sem glúten.
É nada absurdo sermos herdeiros do mundo... temos escudos, ao menos.
Tolos e dolos no núcleo do globo – verdadeiro útero... Ferrugem.

A sombra cobre toda a praia; todas prenhas, as ondas somem...
Marmotas no mar morto vestidas de salva-vidas: letargo.
As águas-vivas estão mortas; não há lobisomem.
As cenas já foram montadas, no palco atrizes e atores dão o recado:

Conclui-se que quando se reza, rezam errado, e nada, e rezo... 
E enfim:
*A verdade surge do desprezo.

André Anlub (29/10/17)

Das Loucuras (se cura, se curta, secura não é cicuta)


Das Loucuras (se cura, se curta, secura não é cicuta)

Quem ainda está vivo poderá eternamente surpreender;
A palavra ‘nunca’, mesmo no presente, tem o teor de passado...
Só ao morrer – de verdade, deitado – ela poderá se encaixar nos atos.

Viva, veja, verse, voe e respeite – tão-somente – os outros viventes.
É tudo um velho-novo, é tudo noite, dia, céu azul e nuvens, arrebol;
Mil ofícios, orifícios, sacrifícios e os medos em tê-los...
Nos esquecemos dos edifícios que se multiplicam calando o sol.

O estranho é que só não há receio de manter seu ego,
Tampouco de novamente pôr um homem puro no prego;
Não há receio de se viver morto (num esgoto de ouro)...
Mas há de se inverter o apego, na falsa visão de ralo,
E mais temor ainda do mundo expor o Falo.

Os falsos segredos são os mesmos (nossos membros),
Fazem zumbis pedirem bis ao saírem de seus sarcófagos.
Seguidores do sagrado não são vistos como tolos,
Apenas alguns que se acham cerejas dos bolos.
Há perseguição aos que falam outros dialetos,
São criticados, difamados, agredidos por pseudófobos.

(29/10/17)

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.