27 de junho de 2016

CXXXIV


CXXXIV
(André Anlub e Rogério Camargo)

Chega da rua com as mãos carregadas de outras mãos
Os pães ficaram na padaria, os cães na esquina.
Ainda tem olhos de perguntar: onde estão os pães? On-de estão os cães? Que mãos são essas?
Esqueceu as histórias que iria contar: quem é Mrs. Dal-loway? Quem é Daenerys? Quem é Cinderela?
Tem olhos que perguntam mas não tem olhos que res-pondam. Então chega da rua carregado e descarrega.
O coração, a cabeça, a alma, a voz de esquizofrênico há tempos não dizem nada.
De frente para si mesmo está de costas para si mesmo.
É meio torto, mas o espelho só tem valia de frente a ou-tro.
Chegou da rua e não foi procurar um espelho. Chegou da rua sem pensar que espelhos existem. Chegou da rua carre-gado e descarregou.
As mãos que carregava carregavam sonhos; e os sonhos largados ao chão foram se espalhando por toda a casa.
As mãos que carregava e carregavam sonhos bateram palmas, pedindo urgência, pedindo muita urgência.
A imagem sem alguma inocência avivou a memória, remetendo ao palco e a outras histórias.
Não iria contá-las. Não para si mesmo. Mas sonhos que caem de mãos trazidas da rua não eram novidade no chão da sua casa.
Suas mesa e cama estava há tempos vazias de fantasias. Todas as suas musas e seus mousses ficavam na nostalgia.
Vivia pelo sonho dos outros. Chegava da rua com as mãos carregadas de mãos carregadas deles. Elas o incitavam a juntá-los. Ele os mirava do alto da apatia.
Nunca teve medo de carregar mãos vazias, de levar uma tapa ou até ser morto.
Seu problema não era falta de coragem. Seu problema era falta de si mesmo.
Deu-se então um abraço tristemente desconsolado e prometeu no dia seguinte ir em busca dos cães e trazer pão quente para casa. Nem que fosse o da véspera.

26 de junho de 2016

XXXIX


XXXIX
(André Anlub e Rogério Camargo)

Amanheceu com calor extremo e sol quente; gente indo às praias e piscinas,
Gente deixando a pele em casa, para não queimar de-mais, e alugando outra pelo caminho.
Há pessoas de essência e atitudes frias, sentadas em su-as mesas frias onde só o café está quente.
E há pessoas que sustentam estas mesas, como se as carregassem nas costas.
Não seria desatino, se porventura – de repente – afinal, vivessem o tempo de trás para frente, como uma contagem re-gressiva para um funeral.
Amanheceu com calor extremo e o sol implacável fazia fermentar algumas verdades na pele sensível da indiferença.
Caíam mitos, ritos e crenças, tiravam as chupetas das bocas de algumas crianças
E o tempo súbito pareceu gelado, embora escaldante. Estar de frente para si mesmo não é tão fácil quanto ir à praia, abrir guarda-sol, passar creme e olhar o desfile dos corpos.
“O hábito não faz o Monge” – um monte de gente indi-ferente ao que verdadeiramente é por dentro, no cerne, no seu montante.
O sol brilha generoso, mas quase sempre ilumina a es-curidão. A luz está sempre ali, mas quem enxerga é quase sem-pre a cegueira.
A covardia não fica de bobeira (toma posse do corpo feito um espirito de porco) faz do ser um ser oco, e no caminhar do tempo segue destruindo seus dias.
Dias que às vezes amanhecem tão bons de ir à praia, de ir à piscina, de gastar dinheiro tranquilamente, porque há mais dinheiro pra gastar.

25 de junho de 2016

LXXXV


LXXXV
(André Anlub e Rogério Camargo)

Aquele corpo delineado – no sol suado – contornos per-feitos que ainda carrega no íntimo uma imensa inteligência,
Tomara, Deus queira, queira Deus não seja apenas ima-ginação de quem o deseja.
Com o psicológico inalterável e a certeza de vestir-se mulher maravilha, vive de bem com a vida e os olhares discre-tos alheios são apenas olhos bem-vindos.
Com os olhares indiscretos faz uma sopa e dá aos po-bres.
Aquele corpo delineado foi envelhecendo, perdendo as linhas certas, retas, mas ganhando ainda mais brilho.
A indiscrição dos olhares talvez não perceba. Não im-porta. A dona do corpo não se importa. Nunca foi catequista, e todas as suas conquistas deram-se pelo completo, irretocável, delineado e nada velho e acabado intelecto.
Quem a levou para a cama reclama créditos. Ela sim-plesmente desconsidera e espera que desconsiderar seja sufici-ente.
Quem a levou ao nirvana de nada reclama, pois sendo experiente procurou além da cama, a companheira, a respeitosa faceira que faz sexo interna e externamente.
Sexo complexo para quem não percebe, sexo reflexo para quem atravessa as espessas camadas da bruma e só vê o sol.

24 de junho de 2016


De coração
(André Anlub - 2/10/12)

Esperança na cabeceira de papel e madeira
E afeição que germinou logo no plantio.

Na delicadeza do poema da oficina da vida:
Expõe o ontem
O hoje
O amanhã
O eterno.

Pelas artérias corre solto o coração cativo,
Expondo a perspectiva que cintilou a cena.

Beleza do afago que afogou o amargo...
Traga um trago de ideias,
Pois amo esse fardo.

Laço de aço no mútuo,
Fruta fresca na feira.

Prezo os amigos que ficaram ao meu lado em tempos idos de épocas negras;
Quando fiquei doente (pesado fardo)
Falando línguas estranhas, abraçado aos capetas.

22 de junho de 2016

Coração de um ser otimista


Coração de um ser otimista
(André Anlub - 23/2/11)

No lume de caminhos claros,
Em ruas bem calmas,
Ao som de pianos clássicos,
Sigo com passos certeiros.

Vejo roseiras em alfobres,
Perfumando o nariz distraído,
Adornando em insano colorido,
O preto e branco da tempestade.

E na fotografia da mente
Que, enfim, a memória revela,
Com efeitos da primavera
Vejo a janela da realidade.

Risquei do foco a tristeza,
Fiz macro nos suntuosos detalhes;
Acolhendo os desprovidos na sina,
Regando o tempo na filantropia.

De cada gesto altruísta
Eclode nova majestosa flor,
Embelezando o jardim escondido
No coração de um ser otimista.

Flor de lis, de lírio e lírico


Flor de lis, de lírio e lírico
(André Anlub - 6/1/13)

Chegando do silêncio veio como tempestade
E mordia suas ideias.
Tirava os laços dos futuros presentes,
Mostrava o onipresente,
Que ao botar pra fora os dentes,
Provava não ser um Oni enfim:

Nomeada como imperatriz de amores,
Que ganha de súbito
Sua coroa, trono e sonho,
Se aproximando do súdito
Com suas suntuosas flores.

Ouço você falar em público:
- o que seria mais certo - onde estaria o erro - qual a importância disso

A resposta vem com o ar fecundo,
Quebrando o coeso silencio,
Queimando mil brancos lenços,
Prevendo o fim dos futuros lamentos.

A resposta bateu de frente,
Com seu cheiro de alfazema,
Com seu humor de hiena
E interpretação eloquente.

Na tela do cinema da esquina
Já se viu esse filme antigo
De um multicor lírico
Com tons de pura boemia.
Sim, é poesia! Faz crescer as flores
E nasce nas flores crescidas.

A ignorância só não agride e quase mata, 
Quando a mão fica inerte e a boca calada.

Abrigo-me com humildade num ninho,
Aprendo a voar como águia, correr como água
E seguir o meu guia.

Pérfido imaginário



Pérfido imaginário
(André Anlub - 1/1/12)

Distraído com fotos espalhadas pela cama
A saudade está mais perto.
Chega e me cerca, aperta e acerta o que já seria certo no cerne...
(Querer você)

Eu saberia como agir em outras épocas,
Mesmo que falte o mesmo entusiasmo.
Seria simplesmente uma aventura,
Ainda não estava atrás da mais perfeita escultura.

Pensando bem, criarei a própria artista,
Vendo outra dela em vagos corpos.
Lógico que deixarei isso em mistério,
Disfarçarei com toda minha fúria.

No íntimo considero um adultério
Ver o sorriso dela em outras bocas,
Sentir seu cheiro em todas as roupas,
Mas pagarei para ter essa luxúria.

Voam versos de afeto tão cálidos no conforto,
No forno do sentimento;
Voam tão meigos ou salsos,
Verdadeiros ou falsos;
Voam se for de gosto
Ou até desgosto
(assim querendo).

Deleito-me nesse teu jeito tenro quase sofrido;
Que me completas e que me interpretas em poliglotas sensações...
Mostro com sinceridade de emoções que tu és simplesmente minha vida.

Às vezes queremos tanto
Pertencer a tal coisa,
Estar dentro de certo universo,
Que não percebemos que a porta abre para fora (teimamos em empurrá-la)
Quando bastava apenas recuar um pouco
Para a porta se abrir...
Facilmente.


Não me enfastio quando falo de amor
(André Anlub - 12/9/12)

Dizem que de nada vale uma luta 
Se não for por amor.
Mesmo que não seja
De um modo direto e/ou visível.

Por sobre barreiras,
Andando por cima das águas,
Atravessando penhascos
E aguentando o calor.

Elogiando e rasgando seda para o verdadeiro amor:

- intrínseco e salutar - precioso e impagável
O verdadeiro é quase sempre eterno.
Encontrado em variadas esferas,
Quando dividido é insuperável.

Andando na fina camada de gelo do lago congelado:

- é frágil, isso é incontestável!
Cristal fino – bebida rara em fina taça
É mágico, enfático, abracadabra!
Cada respirar – cada passo.

Lutando contra o tempo da saudade e da distância:

Se um segundo é piscar dos olhos,
Sozinho é uma eternidade.

Aperta o peito e cai uma lágrima.
Amor é aquém e além da realidade.

Tenho os pés muito estáveis
No chão... 
Mas minha cabeça excedeu há tempos
O mundo da lua.

O amor é intrínseco
No ser mais brioso.
Meticuloso com a mais esplendida jornada.
Eleva as nuvens, voando baixo, o ser vistoso; 
sempre o amparo da sensação resignada.

Brotaram no desabrochar dos lindos campos, 
Suas essências... 
Deixadas como folhas em vendavais;
Voando, vagando, sem destino; 
Por entre pensamentos, 
como mãos que tocam almas 
fazendo de harpas sons siderais.

21 de junho de 2016

Parte VI (continuação)



Parte VI (continuação)
(19/3/12)                      

Constante Ramos – Copacabana
No bar da esquina tudo a contento
Ampola gelada e aperitivo
E eu já estava tocando minha gaita...

Mas a paz se quebrou naquele exato momento:

Barulho forte de freio e colisão,
O som vinha da praia
E ecoava em agonia.

Levantei – estiquei o pescoço
Vi o carro em contramão,
Estava pegando fogo
E ainda em movimento.

Corremos para prestar alguma possível assistência,
Não havia mais carros envolvidos no acidente.

Juntaram os curiosos – os transeuntes;
Fumaça demais
E o carro queimava na minha frente.

Fui ao quiosque da praia
Peguei um extintor de incêndio,
Havia uma pessoa dentro do carro...
Nas chamas – no volante.

Ao mesmo tempo em que ligavam...
Ambulância – bombeiro.

Aquela cena de fumaça e fogo era chocante.

Mesmo sem poder vê-la
Falava para a pessoa no carro ter calma,
Corri para bem perto usando o extintor
E me sentindo um herói.

Quando extingui o fogo pensei
Que tivesse acabado o tormento,
Mas o ego inflado demais às vezes dói.

Não era uma pessoa,
Era apenas o encosto do assento.
O motorista havia saído muito antes
(pulou do carro andando)

Meu ato heroico havia se tornado amargura,
De mocinho virou louco
(vida nua e crua).


Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.