17 de abril de 2016
Ótimo domingo!
Uns tem sujeira no umbigo, outros um piercing e alguns uma hérnia... Mas tem aquele que tem um Rei claustrofóbico com síndrome de Estocolmo.
O livro que fez meu cavalo livre - parte I (3/6/13)
A priori...
Tudo está a contento, e sobrevivi!
Lembro-me da vastidão do picadeiro,
O cavalo da loucura em galope louco.
Nunca se deixa de fazer pouco
Quando tudo se tem...
É você em primeiro!
Alucinações, parábolas, cogumelos,
Nos desenhos, moravam duendes,
Pras crianças, eram casas...
Salgados caramelos.
Cavalguei sobre o campo de tulipas
Amassadas pelas pegadas do cavalo.
E na queimada da mata...
Pelo ralo foram-se alguns anos,
Pelo corpo farejei meus desenganos.
Chorei ao deparar-me com o tempo perdido
E no dito e não dito que ignorei.
Com a felicidade tinha perdido o compromisso
E no chumaço do chá de sumiço,
Hoje me achei.
Enfim, estacionado o cavalo,
Dei banho, água e feno,
Abri o cercado do terreno
E o deixei livre ao regalo.
Se todas as tulipas fossem negras - parte II (4/6/13)
Meu cavalo nesse momento é livre,
Porém, ainda com alguns fantasmas.
Também há as estradas íngremes
Que estendem um tapete vermelho para o nada.
Agora as tulipas estavam inteiras,
Não mais pisadas pelas patas.
Brilhantes tulipas, com cores vivas
E força para enfrentar a tempestade.
O amanhã próximo de letras e tintas:
A sina que mudaria o caminhar.
Nas mãos, preparados para tocar a alma:
Os livros de Emily Dickinson e Sylvia Plath.
E as tulipas se tornaram negras
Ao conhecerem sua história e sua dor.
Regadas e afogadas pelas flores coloridas
Que também afogaram junto seu rancor.
E meu cavalo livre...
Hoje tenho novo cavalo,
Ele está perto, mas não temos contato.
Ele me inspira, traz força e medo,
Me respeita e impõe respeito.
O coração se abre, vejo meu próprio inventário...
Martírio empoeirado de um achaque guardado
E o amor incrustado de um todo imaginário.
Hoje a vida é um constante cenário,
Como o mar que me conhece
Até mais do que eu mesmo.
A moradia na emoção
É o botão da alma incendiária.
Pago a diária desse hotel
Com a locação do meu bordel,
Com o papel, meus rabiscos
E a loucura ponderada.
Os cavalos, as tulipas e uma vida - parte III (7/6/13)
Meu cavalo relinchou por comida,
Quer algo esquecido e sem fim.
Quer banquete farto e antigo,
Quer minhas loucas iguarias,
Pois já está farto de capim.
Meu cavalo veio à minha porta
Nessa torta manhã de domingo.
Ouvi com delicadeza sua clemência
E chorei feito menino.
Mais uma vez só vejo as tulipas negras
E o verão mergulhado no inverno.
O inferno com suas portas abertas,
Badalou os sinos
E colocou o capacho escrito: “bem-vindo”.
Mas, minha gente amiga...
Beijo a vida vadia.
Deem-me as mãos, me deem guarida,
Não quero ser julgado. (é covardia)
Como réu confesso, meu cavalo se vai,
Some ao longe, pelo canto da estrada.
Sua estada é sempre trágica
E, como mágica, ressuscita as tulipas.
Anti-herói filósofo
Meu livro na vitrine da Nobel de Juazeiro do Norte (Jan/2010)
Anti-herói filósofo
(André Anlub - 2/1/13)
Não me acostumo a recear paixões,
Em qualquer esfera.
Já com meus quarenta e poucos anos,
Afortunado, burro de carga
Nos caminhos da vida
Em estradas esburacadas,
Dias nublados, na fome, na sede e na imaginação.
Será que sou anti-herói filósofo?
- Que tem a cabeça dura de pedra,
De frágil esteatito.
- Que tem perigosa peçonha
E usa para criar o antídoto.
- Que tem o coração guardado
A sete ou oito chaves...
Mas deu cópia aos amigos.
A meu ver o amor foi descoberto
Na era Cenozoica, período Quaternário.
Perdidos, corações de artistas, traçados rupestres,
Ecos de pesares nas paredes das cavernas
E nas mentes apaixonadas.
16 de abril de 2016
Ponderações
Ponderações:
A cobiça gasta seu tempo e cansa seus olhos, pois os deixam perdidos em um frenesi baldio. A impunidade é como um patrono para a contravenção: apoia – encobre – estimula; a lei e seu longo braço ficam sem a mão: impotente – descrente – nula. Ao ver teu choro da fumaça danada, senti-me com uma facada, uma dor aguda nos ossos, na alma e no peito; nos olhos as pupilas dilatam, e na lata a vermelhidão do sem jeito... pela carência do ar da armada e a dúbia imposição do respeito.
A admiração equivocadamente confundida por paixão, nascida da idolatria pelo trabalho – pela arte de alguém –, cria uma projeção de perfeição ao ‘amado’ e esculpe às cegas algo inatingível até para as almas mais bondosas do planeta. O amor verdadeiro costuma ser o inverso – às claras –; é conhecer os alicerces e os escombros de alguém que já foi, é, ou pode ser algo belo e sólido.
Ótimo final de tarde...
Olheiros (2/4/14)
Em ziguezague, cá e lá, tantos olhos nus aguardando a ponta do sol que vai nascer num mote distante... de um lugar nenhum... não importa! Como sossegos que assustam morcegos escondidos em cavernas, companheiros dos sentimentos tímidos; alma cálida daquela paixão nada passageira, derramando na veia, demudando o que corre no corpo. Da sola do pé ao topo: vinho tinto - vinho do Porto. Saboreia. Seu lugar à mesa não está vazio, é seu disponível - é seu abrigo. Inimigo e amigo do seu espírito, em plena consciência da compaixão... humildade. Venha fartar-se tão breve, nessa mesa ou naquela, na panela de quem se atreve. Venha sentar-se tão logo, nesse ou naquele colo, ou no solo frio do chão.
As torradas estão prontas, saltam da torradeira na hora exata de derreter; a manteiga; o aroma intenso do inexperiente mel, espalha-se pela mesa, junto com as tintas de um novo artista que os olheiros cobiçam.
Excelente sábado
A admiração equivocadamente confundida por paixão, nascida da idolatria pelo trabalho – pela arte de alguém –, cria uma projeção de perfeição ao ‘amado’ e esculpe às cegas algo inatingível até para as almas mais bondosas do planeta. O amor verdadeiro costuma ser o inverso – às claras –; é conhecer os alicerces e os escombros de alguém que já foi, é, ou pode ser algo belo e sólido.
André Anlub
15 de abril de 2016
Ponderações
É um sujeito que gosta tanto de copiar os outros que até suas ideias são de Jerico.
Dependendo do ponto de vista, as manchas da vida
Não fazem vento, fazem brisa.
Abrigo-me com humildade num ninho,
Aprendo a voar como águia,
Correr como água e seguir o meu guia.
Até mesmo os artistas porcalhões
Não deixam jamais sua arte de lado:
Preferem lugares com clima úmido
Para esculpirem melhor suas melecas.
Lembra? vale ressaltar: até se derramam as tintas;
Até se misturam as cores;
Até não se pintam amores...
Mas a tinta não pode acabar.
Haverá um menino e tornar-se-á bem sabido,
Verá tudo se repetindo:
Sorridente - indiferente
E a alcunha de sobrevivente,
Sentará feliz lá na praça
Jogando milhos às garças.
Mudei de século, moldei o crédulo
E passei a sonhar com as Valquírias.
Vi um mundo sem máscaras,
Sem muita diplomacia.
14 de abril de 2016
Ótimo final de tarde aos amigos
Há 30 anos, no dia 14 de abril de 1986, morria Simone de Beauvoir.
"Em nosso site, releia artigo – publicado em especial dedicado à filósofa e escritora francesa, capa da edição 207 da revista CULT – em que Carla Rodrigues, professora de Filosofia da UFRJ, analisa as contribuições da autora de "O segundo sexo" para os estudos de gênero."
---> Aqui!
"Em nosso site, releia artigo – publicado em especial dedicado à filósofa e escritora francesa, capa da edição 207 da revista CULT – em que Carla Rodrigues, professora de Filosofia da UFRJ, analisa as contribuições da autora de "O segundo sexo" para os estudos de gênero."
---> Aqui!
13 de abril de 2016
Seleções
Poemas para a Gincana do Rô com a palavra "horas":
Saudade
Nas horas mortas da noite
Como é doce o meditar
Quando as estrelas cintilam
Nas ondas quietas do mar;
Quando a lua majestosa
Surgindo linda e formosa,
Como donzela vaidosa
Nas águas se vai mirar!
Nessas horas de silêncio
De tristezas e de amor,
Eu gosto de ouvir ao longe,
Cheio de mágoa e de dor,
O sino do campanário
Que fala tão solitário
Com esse som mortuário
Que nos enche de pavor.
Então — Proscrito e sozinho —
Eu solto aos ecos da serra
Suspiros dessa saudade
Que no meu peito se encerra
Esses prantos de amargores
São prantos cheios de dores:
— Saudades — Dos meus amores
— Saudades — Da minha terra!
Casimiro de Abreu
Horas mortas - Alberto de Oliveira
Breve momento após comprido dia
De incômodos, de penas, de cansaço
Inda o corpo a sentir quebrado e lasso,
Posso a ti me entregar, doce Poesia.
Desta janela aberta, à luz tardia
Do luar em cheio a clarear no espaço,
Vejo-te vir, ouço-te o leve passo
Na transparência azul da noite fria.
Chegas. O ósculo teu me vivifica
Mas é tão tarde! Rápido flutuas
Tornando logo à etérea imensidade;
E na mesa em que escrevo apenas fica
Sobre o papel — rastro das asas tuas,
Um verso, um pensamento, uma saudade.
Uma didática da invenção (Manoel de Barros)
I
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.
II
Desinventar objetos. O pente, por exemplo.
Dar ao pente funções de não pentear. Até que
ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou
uma gravanha.
Usar algumas palavras que ainda não tenham
idioma.
III
Repetir repetir — até ficar diferente.
Repetir é um dom do estilo.
IV
No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava
escrito:
Poesia é quando a tarde está competente para dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa.
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole as auroras.
V
Formigas carregadeiras entram em casa de bunda.
VI
As coisas que não têm nome são mais pronunciadas
por crianças.
VII
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá
onde a criança diz: Eu escuto a cor dos
passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um
verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz
de fazer nascimentos —
O verbo tem que pegar delírio.
VIII
Um girassol se apropriou de Deus: foi em
Van Gogh.
IX
Para entrar em estado de árvore é preciso
partir de um torpor animal de lagarto às
3 horas da tarde, no mês de agosto.
Em 2 anos a inércia e o mato vão crescer
em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até
o mato sair na voz .
Hoje eu desenho o cheiro das árvores.
X
Não tem altura o silêncio das pedras.
O Tempo de Mário Quintana
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando dever, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é Natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a vasva dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está à minha frente e diria que eu o amo...
É tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
Passagem das Horas
Trago dentro do meu coração, Como num cofre que se não pode fechar de cheio, Todos os lugares onde estive, Todos os portos a que cheguei, Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias, Ou de tombadilhos, sonhando, E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero. A entrada de Singapura, manhã subindo, cor verde, O coral das Maldivas em passagem cálida, Macau à uma hora da noite... Acordo de repente Yat-iô--ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô ... Ghi-... E aquilo soa-me do fundo de uma outra realidade A estatura norte-africana quase de Zanzibar ao sol Dar-es-Salaam (a saída é difícil)... Majunga, Nossi-Bé, verduras de Madagascar... Tempestades em torno ao Guardaful... E o Cabo da Boa Esperança nítido ao sol da madrugada... E a Cidade do Cabo com a Montanha da Mesa ao fundo... Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei... Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos... Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti, Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.
Talos de Bambu
Era um humilde cuidador de ovelhas,
belo menino que tocava flauta.
Rude instrumento, mas cuja centelha
inebriava a alma ainda incauta.
HORAS passava, longas e parelhas,
sentado numa pedra, um argonauta
a viajar pelo que o som espelha
e poesia faz, mesmo sem pauta.
Alguns pequenos talos de bambu
atados fragilmente e mal soando,
faziam as delícias do menino.
O pastorzinho grego seminu
com olhos bem abertos e sonhando
imagens para além do seu destino.
- Rogério Camargo
Elegia 1938
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guardas chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores HORAS de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
( Carlos Drummond de Andrade )
Às cinco horas da tarde
Federico García Lorca
A CAPTURA E A MORTE
Tradução: Oscar Mendes
Às cinco horas da tarde.
Eram cinco da tarde em ponto.
Um menino trouxe o lençol branco
às cinco horas da tarde.
Um cesto de cal já prevenida
às cinco horas da tarde.
O mais era morte e apenas morte
às cinco horas da tarde.
O vento arrebatou os algodões
às cinco horas da tarde.
E o óxido semeou cristal e níquel
às cinco horas da tarde.
Já pelejam a pomba e o leopardo
às cinco horas da tarde.
E uma coxa por um chifre destruída
às cinco horas da tarde.
Os sons já começaram do bordão
às cinco horas da tarde.
As campanas de arsênico e a fumaça
às cinco horas da tarde.
Pelas esquinas grupos de silêncio
às cinco horas da tarde.
E o touro todo coração ao alto
às cinco horas da tarde.
Quando o suor de neve foi chegando
às cinco horas da tarde,
quando de iodo se cobriu a praça
às cinco horas da tarde,
a morte botou ovos na ferida
às cinco horas da tarde.
Às cinco horas da tarde.
Às cinco em ponto da tarde.
Um ataúde com rodas é a cama
às cinco horas da tarde.
Ossos e flautas soam-lhe ao ouvido
às cinco horas da tarde.
Por sua frente o touro já mugia
às cinco horas da tarde.
O quarto se irisava de agonia
às cinco horas da tarde.
A gangrena de longe já se acerca
às cinco horas da tarde.
Trompa de lis pelas virilhas verdes
às cinco horas da tarde.
As feridas queimavam como sóis
às cinco horas da tarde,
e as pessoas quebravam as janelas
às cinco horas da tarde.
Ai que terríveis cinco horas da tarde!
Eram as cinco em todos os relógios!
Eram cinco horas da tarde em sombra!
A UM AUSENTE [Carlos Drummond de Andrade]
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas HORAS.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
Antes do começo
Ruídos confusos, claridade incerta.
Outro dia começa.
Um quarto em penumbra
e dois corpos estendidos.
Em minha fronte me perco
numa planície vazia.
E as horas afiam suas navalhas.
Mas a meu lado tu respiras;
íntima e longínqua
fluis e não te moves.
Inacessível se te penso,
com os olhos te apalpo,
te vejo com as mãos.
Os sonhos nos separam
e o sangue nos reúne:
Somos um rio que pulsa.
Sob tuas pálpebras amadurece
a semente do sol.
O mundo
No entanto, não é real,
o tempo duvida:
Só uma coisa é certa,
o calor da tua pele.
Em tua respiração escuto
as marés do ser,
a sílaba esquecida do Começo.
Octávio Paz
(Trad. Antônio Moura)
As Horas
Victor Pozas/Alexandre Castilho
Outra vez eu não ouvi tuas palavras
Você sempre tem razão
Como posso me arriscar sem dar ouvidos
Seu instinto me querendo sempre bem
Refrão
Eu vejo nas horas o que não se vê
Me perco lá fora pensando em você
Um dia eu aprendo e mudo de rumo
Sei que posso te provar que não há nada
Nessas horas de ilusão
Me perdoa, me aceita no seu mundo
Me devolve tudo que já era bom
Refrão
Eu vejo nas horas o que não se vê
Me perco lá fora pensando em você
Um dia eu aprendo e mudo de rumo
Na verdade o que importa
O que trago na canção
É o amor que hoje entrego em suas mãos
Seu sorriso, uma palavra, sua voz no coração
É o amor que hoje entrego em suas mãos
Refrão
Eu vejo nas horas o que não se vê
Me perco lá fora pensando em você
Um dia eu aprendo e mudo de rumo
Um dia eu aprendo e mudo de rumo
Saudade
Nas horas mortas da noite
Como é doce o meditar
Quando as estrelas cintilam
Nas ondas quietas do mar;
Quando a lua majestosa
Surgindo linda e formosa,
Como donzela vaidosa
Nas águas se vai mirar!
Nessas horas de silêncio
De tristezas e de amor,
Eu gosto de ouvir ao longe,
Cheio de mágoa e de dor,
O sino do campanário
Que fala tão solitário
Com esse som mortuário
Que nos enche de pavor.
Então — Proscrito e sozinho —
Eu solto aos ecos da serra
Suspiros dessa saudade
Que no meu peito se encerra
Esses prantos de amargores
São prantos cheios de dores:
— Saudades — Dos meus amores
— Saudades — Da minha terra!
Casimiro de Abreu
Horas mortas - Alberto de Oliveira
Breve momento após comprido dia
De incômodos, de penas, de cansaço
Inda o corpo a sentir quebrado e lasso,
Posso a ti me entregar, doce Poesia.
Desta janela aberta, à luz tardia
Do luar em cheio a clarear no espaço,
Vejo-te vir, ouço-te o leve passo
Na transparência azul da noite fria.
Chegas. O ósculo teu me vivifica
Mas é tão tarde! Rápido flutuas
Tornando logo à etérea imensidade;
E na mesa em que escrevo apenas fica
Sobre o papel — rastro das asas tuas,
Um verso, um pensamento, uma saudade.
Uma didática da invenção (Manoel de Barros)
I
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.
II
Desinventar objetos. O pente, por exemplo.
Dar ao pente funções de não pentear. Até que
ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou
uma gravanha.
Usar algumas palavras que ainda não tenham
idioma.
III
Repetir repetir — até ficar diferente.
Repetir é um dom do estilo.
IV
No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava
escrito:
Poesia é quando a tarde está competente para dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa.
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole as auroras.
V
Formigas carregadeiras entram em casa de bunda.
VI
As coisas que não têm nome são mais pronunciadas
por crianças.
VII
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá
onde a criança diz: Eu escuto a cor dos
passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um
verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz
de fazer nascimentos —
O verbo tem que pegar delírio.
VIII
Um girassol se apropriou de Deus: foi em
Van Gogh.
IX
Para entrar em estado de árvore é preciso
partir de um torpor animal de lagarto às
3 horas da tarde, no mês de agosto.
Em 2 anos a inércia e o mato vão crescer
em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até
o mato sair na voz .
Hoje eu desenho o cheiro das árvores.
X
Não tem altura o silêncio das pedras.
O Tempo de Mário Quintana
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando dever, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é Natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a vasva dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está à minha frente e diria que eu o amo...
É tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
Passagem das Horas
Trago dentro do meu coração, Como num cofre que se não pode fechar de cheio, Todos os lugares onde estive, Todos os portos a que cheguei, Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias, Ou de tombadilhos, sonhando, E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero. A entrada de Singapura, manhã subindo, cor verde, O coral das Maldivas em passagem cálida, Macau à uma hora da noite... Acordo de repente Yat-iô--ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô ... Ghi-... E aquilo soa-me do fundo de uma outra realidade A estatura norte-africana quase de Zanzibar ao sol Dar-es-Salaam (a saída é difícil)... Majunga, Nossi-Bé, verduras de Madagascar... Tempestades em torno ao Guardaful... E o Cabo da Boa Esperança nítido ao sol da madrugada... E a Cidade do Cabo com a Montanha da Mesa ao fundo... Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei... Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos... Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti, Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.
Talos de Bambu
Era um humilde cuidador de ovelhas,
belo menino que tocava flauta.
Rude instrumento, mas cuja centelha
inebriava a alma ainda incauta.
HORAS passava, longas e parelhas,
sentado numa pedra, um argonauta
a viajar pelo que o som espelha
e poesia faz, mesmo sem pauta.
Alguns pequenos talos de bambu
atados fragilmente e mal soando,
faziam as delícias do menino.
O pastorzinho grego seminu
com olhos bem abertos e sonhando
imagens para além do seu destino.
- Rogério Camargo
Elegia 1938
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guardas chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores HORAS de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
( Carlos Drummond de Andrade )
Às cinco horas da tarde
Federico García Lorca
A CAPTURA E A MORTE
Tradução: Oscar Mendes
Às cinco horas da tarde.
Eram cinco da tarde em ponto.
Um menino trouxe o lençol branco
às cinco horas da tarde.
Um cesto de cal já prevenida
às cinco horas da tarde.
O mais era morte e apenas morte
às cinco horas da tarde.
O vento arrebatou os algodões
às cinco horas da tarde.
E o óxido semeou cristal e níquel
às cinco horas da tarde.
Já pelejam a pomba e o leopardo
às cinco horas da tarde.
E uma coxa por um chifre destruída
às cinco horas da tarde.
Os sons já começaram do bordão
às cinco horas da tarde.
As campanas de arsênico e a fumaça
às cinco horas da tarde.
Pelas esquinas grupos de silêncio
às cinco horas da tarde.
E o touro todo coração ao alto
às cinco horas da tarde.
Quando o suor de neve foi chegando
às cinco horas da tarde,
quando de iodo se cobriu a praça
às cinco horas da tarde,
a morte botou ovos na ferida
às cinco horas da tarde.
Às cinco horas da tarde.
Às cinco em ponto da tarde.
Um ataúde com rodas é a cama
às cinco horas da tarde.
Ossos e flautas soam-lhe ao ouvido
às cinco horas da tarde.
Por sua frente o touro já mugia
às cinco horas da tarde.
O quarto se irisava de agonia
às cinco horas da tarde.
A gangrena de longe já se acerca
às cinco horas da tarde.
Trompa de lis pelas virilhas verdes
às cinco horas da tarde.
As feridas queimavam como sóis
às cinco horas da tarde,
e as pessoas quebravam as janelas
às cinco horas da tarde.
Ai que terríveis cinco horas da tarde!
Eram as cinco em todos os relógios!
Eram cinco horas da tarde em sombra!
A UM AUSENTE [Carlos Drummond de Andrade]
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas HORAS.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
Antes do começo
Ruídos confusos, claridade incerta.
Outro dia começa.
Um quarto em penumbra
e dois corpos estendidos.
Em minha fronte me perco
numa planície vazia.
E as horas afiam suas navalhas.
Mas a meu lado tu respiras;
íntima e longínqua
fluis e não te moves.
Inacessível se te penso,
com os olhos te apalpo,
te vejo com as mãos.
Os sonhos nos separam
e o sangue nos reúne:
Somos um rio que pulsa.
Sob tuas pálpebras amadurece
a semente do sol.
O mundo
No entanto, não é real,
o tempo duvida:
Só uma coisa é certa,
o calor da tua pele.
Em tua respiração escuto
as marés do ser,
a sílaba esquecida do Começo.
Octávio Paz
(Trad. Antônio Moura)
As Horas
Victor Pozas/Alexandre Castilho
Outra vez eu não ouvi tuas palavras
Você sempre tem razão
Como posso me arriscar sem dar ouvidos
Seu instinto me querendo sempre bem
Refrão
Eu vejo nas horas o que não se vê
Me perco lá fora pensando em você
Um dia eu aprendo e mudo de rumo
Sei que posso te provar que não há nada
Nessas horas de ilusão
Me perdoa, me aceita no seu mundo
Me devolve tudo que já era bom
Refrão
Eu vejo nas horas o que não se vê
Me perco lá fora pensando em você
Um dia eu aprendo e mudo de rumo
Na verdade o que importa
O que trago na canção
É o amor que hoje entrego em suas mãos
Seu sorriso, uma palavra, sua voz no coração
É o amor que hoje entrego em suas mãos
Refrão
Eu vejo nas horas o que não se vê
Me perco lá fora pensando em você
Um dia eu aprendo e mudo de rumo
Um dia eu aprendo e mudo de rumo
Parabéns Fortaleza
Gosto demais de Pernambuco
De Recife, Olinda, Porto de Galinhas, Caruaru...
Gosto de sarapatel, praia, carambola,
Verr o Sport jogar bola,
Comer carne de sol e sururu;
E mesmo vivendo no belo Ceará,
A distancia não é mal que há!
Por incrível que pareça
Antes que eu me esqueça,
Vejam que incrível:
Estou a um passo de Pernambuco,
e cem mil de Fortaleza...
Como é possível?
André Anlub®
Exposição Sérvulo Esmeraldo (2013)
projeto World Body Project
Para Cantar Fortaleza
Com direção musical de Cristiano Pinho, nove artistas cearenses realizam nova edição do show “Para Cantar Fortaleza”, na abertura do show do dia 13 de abril, no Aterrinho da Praia de Iracema. Sobem ao palco os cantores Lorena Nunes, Lucinha Menezes, Levi Castelo Branco, Vitoriano, Felipe Cazaux, Roberto Viana, Marcus Café, Pingo de Fortaleza e as bandas Veronika Decide Morrer e Selvagens à Procura de Lei.
Confira a programação completa:
Dia 13/04
- Show “Para Cantar com Fortaleza”: Lorena Nunes, Lucinha Menezes, Levi Castelo Branco, Vitoriano, Felipe Cazaux, Roberto Viana, Marcus Café, Pingo de Fortaleza, bandas Veronika Decide Morrer e Selvagens à Procura de Lei
- Waldonys
- Alceu Valença
Local: Aterrinho da Praia de Iracema
Horário: a partir das 18h
Dia 14/04
- Tarcísio Sardinha e Banda Fortaleza Folia
Local: Mercado da Aerolândia
Horário: a partir das 20h
Dia 15/04
- Camila Marieta
- Cordas que Falam
Local: Mercado dos Peixes
Horário: a partir das 20h
Saiba mais: Aqui!
Ótima quarta a todos
Nossos Olhos (haja idiossincrasia) - Olhos em trocas - Na prévia sem privo. Vai os braços em direção aos contornos do corpo; toda a beleza; sobem, descem, revezam-se e em uma dança dionisíaca... se sentem sortudos... e são! Velhos tempos de conquistas, novos tempos de colheitas... sujas e limpas mãos! Ontem mel de abelha, hoje doce de melado... E a colmeia ilesa. A fruta no pé - pé descalço no chão; céu azul como outro dia, dia com a ‘cuca fria’, chá quente, cheiro de pão. Havia mais na procura, deixamos assim pois assim está perfeito; cheiros instigantes, drinks elaborados e a observação de casais à beira mar... Enamorados. Lua em breve ilustrará o cenário, deixará seu brilho nos amores, nas areias e no mar... E, quiçá, aos nossos olhos incendeia. Tragam vozes e resmas, versos e temas, porque meu amor pela praia passeia; na orelha uma açucena, emoção é plena, o coração está sereno e o olhar está sereia.
12 de abril de 2016
100 anos de Manoel de Barros
Nesta quarta-feira, dia 13, a Biblioteca Parque, no centro do Rio, celebra o centenário de Manoel de Barros. Um bate-papo sobre a obra do poeta acontece às 11h. A entrada é Catraca Livre e as senhas são distribuídas às 10h30.
Saiba mais: Aqui!
O livro sobre nada (Manoel de Barros)
É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Tem mais presença em mim o que me falta.
Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário.
Sou muito preparado de conflitos.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
O meu amanhecer vai ser de noite.
Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção.
O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo.
Meu avesso é mais visível do que um poste.
Sábio é o que adivinha.
Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições.
A inércia é meu ato principal.
Não saio de dentro de mim nem pra pescar.
Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore.
Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma.
Peixe não tem honras nem horizontes.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, faço poesia.
Eu queria ser lido pelas pedras.
As palavras me escondem sem cuidado.
Aonde eu não estou as palavras me acham.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
Uma palavra abriu o roupão pra mim. Ela deseja que eu a seja.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Esta tarefa de cessar é que puxa minhas frases para antes de mim.
Ateu é uma pessoa capaz de provar cientificamente que não é nada. Só se compara aos santos. Os santos querem ser os vermes de Deus.
Melhor para chegar a nada é descobrir a verdade.
O artista é erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
Por pudor sou impuro.
O branco me corrompe.
Não gosto de palavra acostumada.
A minha diferença é sempre menos.
Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria.
Não preciso do fim para chegar.
Do lugar onde estou já fui embora.
Saiba mais: Aqui!
O livro sobre nada (Manoel de Barros)
É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Tem mais presença em mim o que me falta.
Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário.
Sou muito preparado de conflitos.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
O meu amanhecer vai ser de noite.
Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção.
O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo.
Meu avesso é mais visível do que um poste.
Sábio é o que adivinha.
Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições.
A inércia é meu ato principal.
Não saio de dentro de mim nem pra pescar.
Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore.
Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma.
Peixe não tem honras nem horizontes.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, faço poesia.
Eu queria ser lido pelas pedras.
As palavras me escondem sem cuidado.
Aonde eu não estou as palavras me acham.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
Uma palavra abriu o roupão pra mim. Ela deseja que eu a seja.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Esta tarefa de cessar é que puxa minhas frases para antes de mim.
Ateu é uma pessoa capaz de provar cientificamente que não é nada. Só se compara aos santos. Os santos querem ser os vermes de Deus.
Melhor para chegar a nada é descobrir a verdade.
O artista é erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
Por pudor sou impuro.
O branco me corrompe.
Não gosto de palavra acostumada.
A minha diferença é sempre menos.
Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria.
Não preciso do fim para chegar.
Do lugar onde estou já fui embora.
Ótima terça
Na casualidade dos caminhos tortos
(André Anlub - 13/4/13)
Parece sinóptico tal gesto simples,
Esse teu, que brilha num todo...
Precata, de jeito torto,
Serem delicadas quaisquer escolhas.
Aberto o enorme fosso,
Que aos brados chama aflito.
Equidistante é carne e osso,
Pequena fenda que flerta,
Num zunido.
Vejo estática tua íris,
Por compreenderes tamanha epístola.
Voas feito águia, tão majestosa,
Tal qual a vida.
Há brilho demais no inconformismo,
Sufoca e cega.
Há equilíbrio e imagem
E na miragem não há cegueira.
E qual atitude seria mais certa,
Senão entregar-te ao próprio destino?
Vai-te logo, fizeste o prólogo,
Sigo-te, em linha reta, feito menino.
11 de abril de 2016
Sorriso Inato
Sorriso Inato
(André Anlub - 11/4/12)
Maga amarga e nada calma,
Fica-se na sentinela;
Esperando a mão que afaga
Que traga a luz de longas velas
Tão pálida e cálida alma.
Frágil no chão da lamela,
Que quebra ao fino toque,
Mostrando o colorido enfoque,
Quente ao centro da terra.
Mas aprecio tal dor
Com longo sorriso inato.
Se o feio é odor no olfato,
Importante é não ter tal rancor.
Sozinho e sempre pendente,
Fraco coração valente...
Insiste na batida constante,
Regado com sangue e calor
É o belo expoente do amor.
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Biografia quase completa
Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)
Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas
Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)
• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)
Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha
Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas
Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)
Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte
André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.
Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.
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- Que fatalidade: ao fechar seu zíper, Zappa perdeu seu Zippo; ficou com o fumo, mas sem consumo, sem fogo, sem fósforos; ficou famélico e...
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Das Loucuras (Inhotep) Não faz pouco pois ele é um louco; Um corvo que vive incluso na informalidade de um jogo Em puro ouroboros, catando...
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Isadora de madeira (28/5/12) Desabrochando a vida na beleza do lírio No quintal, ao pé do pé de tâmara. Começa o dia com o vento ligeiro, ...