20 de março de 2016

Ótimo final de tarde

Doido Adoidado (ascetismo hedonista, porém certeiro e cético)

Nas manhãs o sol piegas prega uma peça: se esconde atrás de uma nuvem e torna ainda mais glacial a água da cachoeira. As novas selvas não são anfitriãs, são as selvas de pedras e as de podres; há deusas anãs; há duendes gigantes. O tempo está estafado; está estufado; está estatelado. Muita pimenta no pirão; muito pernil com paçoca; mas o pulso ainda pulsa. Já foi descrito algo assim, fatos mais que conhecidos; até eu já debati mentindo, já me bati me debatendo. Enganando a escória pisaram na Lua e correram em Marte, fiquei corado e fui coroado um mártir eunuco e maluco; no final das contas joguei os dados: fumei ópio no hospício, e doido, deu para mentir adoidado. Que fatalidade: ao fechar seu zíper, Zappa perdeu seu Zippo; ficou com o fumo, mas sem consumo, sem fogo, sem fósforos; ficou famélico e – quem diria – com fisionomia de abstêmio, perfume de absinto e sorriso de feijão-fradinho. Não foi um ano velho e não há o novo – não começa pelo fato de não terminar; a vida é um dia de cada vez, e cada dia uma nova jornada, novas ideias, perdas, vitórias, escritas, leituras... tudo dentro das lacunas entre as rotinas. Samba do crioulo doido na casa da mãe Joana é tudo naquela bolha de sabão; o mundo, o universo, as aves, o mar... Tudo coloridamente alucinatório na majestosa bolha de sabão. Chegam os louros de toda a vitória: o pódio, as coroas de flores, a beijoca aqui e outra acolá; chega o conforto num colchão de molas, vão-se os odores de podre do peixe dourado morto e vão-se as duradouras dores no ponto morto das costas. Cada pétala dessa certa rosa coloriu-se com as cores preferidas de todos, foi um bafafá, foi uma correria – para aqui, para lá. O canto esfarela e professa dançando com cada caravana sem freio (tudo dentro de uma densa atmosfera niilista). Riu dos ventos úmidos que não deixam as fardagens secarem nos céus; mas chora com seu som abafado pelo sol escaldante pendurado na ponta da lança de um Deus. Seriam sonhos? Ergue os mais belos castelos, barro por barro, pedra por pedra, para depois deixar vazio, sem libertinagens, sem histórias... Só com o eco do silêncio, com o vazio e o tempo, com a fantasia de um achismo simplório. Não, não se vê mais um tesouro que os atrai, tampouco a própria arca vazia. Alguém o roubou e levou para muito longe (além da estrada), e esse alguém morre de sede ou de fome (e fica a arca) ... um anjo a viu em lugar deserto aonde ninguém ia, ninguém fala, canta, lê poesia, late ou mia... enfim, ninguém vai. E ficou a arca! Ficou a arca com a morte; ficou a arca com a morte e a foice; ficou a arca, a morte, a foice e a lança... ficaram os quatro para a próxima ganância, pois não se diz ganancioso, apenas não se contenta com pouco; só não percebeu ainda que também não se contenta com muito. 

André Anlub

A Luz e o Diamante


CXXII

O tempo não andava. Parecia estar com os pés enterra-dos em concreto
E o que é concreto confessar é que do jeito que está sua vida também não anda.
Procura marretas, martelos, picaretas, ajeita-se em mu-tretas. Procura, procurava: o tempo não andava.
A vida estacionada em vaga de deficiente esperando algo diferente e aguardando o hipotético estouro do rebanho.
Ganho ou perda dão no mesmo se este a esmo não se resolve. Não se dissolve o concreto mandando embora o que não vai embora.
O tempo estacionado em vaga de idoso esperando esperançoso que os ponteiros corram soltos e saiam nada vagarosa-mente desse casulo inerente.
Autopoliciamento: multa e guincho. Talvez uma troca de prisão tenha aroma de liberdade.
Pelo menos assim agitam-se! O tempo e a vida liberam as vagas para os que realmente devem ficar parados:
Todos os que sustentam. Todos os que, caso se movam, deixam cair o que repousa sobre os seus ombros. Sobre os ombros dele o peso é o da gravidade – a responsabilidade de não carregar pesos.
E então o tempo não andava, o tempo não anda e ele não entende a relação entre uma coisa e outra, é uma loucura que ele ande para quem está parado e que estacione para quem se movimenta.
Nas loucuras do tempo muitos se afogam, implorando para que ele passe logo ou demore mais tempo. A insatisfação não é culpa do tempo, pois ele é o mesmo e dependendo do ângulo que é visto pode causar, ou não, o descontentamento.
Então, de quem é a loucura? Ele estaciona e desliga o motor.

André Anlub e Rogério Camargo

19 de março de 2016

Toalhas novas


Toalhas novas
(André Anlub - 11/4/12)

A cada giro do globo é mais um passo do colosso:
Novo dia, novas imagens e palavras.

Podemos dar até o passo maior que a perna,
Desde que seja sempre para frente.

Na corda do varal há todos os tipos de panos:

- Dos bem quentes para o inverno extremo

- Chiques de seda e linho branco

- Calças velhas que vestem bem

- Calças novas que estamos nos adaptando.

Lavo e coloco para secar as toalhas velhas,
Ficam ao vento
Não balançam pelos furos do tempo

Chegando a hora de trocá-las, eu faço...
Por enquanto as traças se deliciam.

18 de março de 2016

Amor e a Poesia, Poesia e o Amor

Amor e a Poesia, Poesia e o Amor      
(André Anlub - 3/1/10)

Frio intenso como nos polos,
O calor das mais altas temperaturas...
É de rachar todos os solos,
De congelar qualquer clima.

Mais escuro que a pior cegueira,
Tem a claridade da explosão nuclear.
Saem das bocas – vomitam besteiras,
Somem as palavras – perde-se a rima.

Olho no olho e dente por dente,
É coerente que os opostos se atraem;
Na beira do abismo um passo à frente,
Mergulho fundo é que só o amor constrói.

No amor e na guerra vale tudo,
Na poesia não é diferente...
Todos os três fazem parte do meu mundo,
Basta ser sábio e não ser prepotente.

Batendo as asas:
Rimas voam com paixão...
Fogo, explosão e resfriamento,
Devagar vai já, pousa na imaginação
Leitura, viagem e contentamento.

A lua olha por todos os lados,
Chora por quaisquer dores,
Explica a atual loucura
De não mais existir o pecado
E nascer cada vez mais pecadores.

17 de março de 2016

Bonifrate


Bonifrate       
(André Anlub - 11/10/11)

Nem imagino por onde é o começo,
Quiçá pela dor que corrói em saudade;
Nessa idade que se iniciou o apreço
Que migrou para incontrolável vontade.

Decompondo o corpo de bonifrate (brinquedo)
Trazendo a pior das tramas do enredo.

O coração tornou-se ferro e ferrugem,
Carecendo do óleo quente da amargura;
Talvez o erro de almejar o impossível,
Senão a demência de só ver a negrura.

Não tenho mais rotatividade na alma:
Velho, meu coração anda torto.
E o porto que há muito tempo vazio,
Expõe os corais de um amor absorto.

16 de março de 2016

Tempo de ser servido

Eu pensei que este homem fosse um sem-teto com um violão na mão. Mas, de repente, ele fez ISSO.
Publicado por Não Acredito em Sexta, 11 de março de 2016


Tempo de ser servido
(André Anlub - 2/3/12)

Quero me doar ao máximo:
Perder (por livre e espontânea vontade) a liberdade.
Quero a salutar realidade de um amor:
Aos quatro olhos, eterno.

Quero ter filhos, ou não
Quero repartir e debater nossa opinião.
Ser servido e servir,
Ser a ilusão mais verdadeira e óbvia.

Vamos nos fartar em mesas fartas,
Comer salmão ou sardinha,
Beber vinho oneroso ou sangria,
Juntos, tudo será sempre o melhor.

A taça fina, que ao rodar do dedo canta,
Ouço o som mais doce e apaixonado;
Junto ao seu cálice que me acompanha
Fecho os olhos, embarco e me entrego.

15 de março de 2016

Panos Quentes

O problema é que alguns transformam em idolatria a inveja que tem aos 'de cima'; enquanto que o egoísmo aos 'de baixo' eles transformam em ódio.


Panos Quentes
(André Anlub - 11/03/13)

Pura sorte!
No meu equinócio
O sol se põe diferente.

Seu sorriso na lembrança,
A lágrima desce na fraca luz.

É a cruz que carrego
Sem descanso ou preguiça,
Sem pavor ou embaraço,
Sem “atiça”.

Vou seguindo com o tempo.
Dizem que dando tempo ao tempo,
Tem seu tempo certo pra tudo.

É chavão, ouvi dizer...
É piegas, talvez.
Mas sei que é verdade.

Observando meus próprios episódios,
Sorrisos - lágrimas – desprezos.
Sou retórico e isso é notório
E sou otimista realista
Nos meus propósitos.

Corro dos momentos,
Fujo dos vigentes amores,
Sejam quais forem;
Abafo bem abafado os rancores
Com os panos quentes dos esquecimentos.

Falando com nuvens


Falando com nuvens      
(André Anlub - 16/1/14)

Noite passada sonhei com poesia,
Aquele sonho arranjado de calores misteriosos.
Ao som de uma orquestra as janelas se abriam
E em mil cantorias - pássaros curiosos.
Longe, no alto, algo reluzia,
Mas não sei o que era, tampouco queria.
Sempre enfoquei seu belo rosto em tudo
- é de um absurdo - é meu mundo de gosto.
No sonho alagado os caminhos imersos,
Feito um delírio aos montes, na mente famélica.
Estrelas pratas formavam de tão doces quimeras
E transbordam à vera, e transcorrem os versos.
Fiz de mim um homem pássaro
(o passo)
No meu eixo um homem peixe
(muito avexo)
No meu mundo, homem comum
(o oriundo)
Longe, as nuvens comunicam:
Surgirá a estigma do amor sem fim.
Tudo se torna arquipélago numa única ilha,
Uma desmesurada esperança que contente habita,
Fazendo-se amiga e parte de mim.

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.