25 de abril de 2015

O sábio e o tolo

Forromob em Colôniagalera dançando forró em frente a catedral de Colônia
Posted by Bicho de Pé on Quarta, 13 de junho de 2012


O sábio e o tolo 
(André Anlub - 24/3/13)

O mais sábio homem também erra,
Erra ao tentar ensinar
Quem nunca quis aprender.

Os tolos morrem cedo!
Senão por fora
Morrem por dentro... ou ambos.

O mais sábio homem
Também ama.
E nesse amar,
Mergulha... e se entrega,
Confia e muitas vezes erra.

Os tolos desconfiam, nunca arriscam,
Nunca amam, por isso acabam não vivendo...
Morrem por dentro e por fora,
Acabam errando sem jamais terem sido sábios. 

Dueto da tarde (CXXXIV)



Dueto da tarde (CXXXIV)

Uma pequena modesta singela flor obscura na beira da estrada.
Jeito jovem de imaculada nua, menina moleca, selvagem delicada, isolada só e nada à toa.
Seu perfume imperceptível soma-se a tudo mais de imperceptível nela.
Faz do externo sentinela e dos olhares alimento. É inércia e movimento, escultura e aquarela.
Quem passa por ela passa pelo nada de uma vida toda e pela intensidade infinita de uma vida toda.
O vento a beija e nada, então ele se vai; o sol a embriaga e nada, então ele se vai; a lua lhe paquera, flerta, beija, embriaga e fica até amanhecer.
A tudo deixa passar estando. Não por acaso escolheu o anonimato. Escondida em si mesma, brilha ao sol de si mesma.
É flor formosa dona do pedaço, ocupando seu espaço de maneira magistral. É flor quieta de quenturas internas, sonhos intensos na saliva do açúcar e do sal.
Não há uma história para contar dela. Mas toda e qualquer história cabe nela, inteira, da maneira que quiser.
É apenas uma em mil, em mim, em nós, mas em todos ela desperta alguma coisa, algum sentimento, e isso ela já deixa de lembrança.
Flor particular, flor genérica; apenas uma e todas elas; insignificante e sustentando o universo. 
Confesso que cria o fascínio, faz o dia ainda mais belo, menos arredio
E se eu tiver que lhe contar, vou lhe contar apenas isto: 
É uma pequena modesta singela flor obscura na beira da estrada, bela e formosa como outra qualquer.

Rogério Camargo e André Anlub
(25/4/15)

Madrugada de 25 de abril de 2015



Madrugada de 25 de abril de 2015

Não se diz ganancioso, apenas não se contenta com pouco; só não percebeu ainda que também não se contenta com muito.

Uma corda:

Já baixou a noite, deitado e cansado vejo pela janela as estrelas sorrindo no céu;
Faz um frio atípico que pode futuramente principiar um temporal.
Já fiz minha leitura noturna, escovei os dentes e bochechei o enxaguante bucal.
Vou até a cozinha e abro o freezer deixando sair aquele bafo de fumaça gélido e gostoso, pego um copo comprido e coloco gelo até a borda e na porta pego a garrafa de vodca (resfriada/intensa – branca/alva – coloidal/viscosa – irresistível/fatal).

As asas querem voo, me incomodam, querem que eu volte à leitura ou pegue a caneta.
Mas com o copo na mão e o líquido na cabeça: estou de muleta.

Um acordo:

Fiz um acordo certa vez, um pacto com um dos meus medos e com o mais forte deles.
Nosso encontro foi em sonho: eu solitário no mar com ondas gigantes – é impossível estar sozinho quando se tem ondas gigantes, mas eu estava –, nada de terra em volta, nada de ilha nem sequer um barco. O medo voava enquanto soltava uma forte chuva sobre mim e soprava um vento muito frio e extremamente forte, no estilo terral, que fazia nas ondulações pequenas chuvas ao contrário. Era um cenário “Hitccokiano”, só um pouco pior, que parecia durar uma eternidade; eu gritava a ele para deixar-me livre, para expor a verdade, para não me enrolar mais... Ele concordou e eu então acordei.

Quando o tempo passa em branco é como estar alegre na jaula o Corvo; se acomodando no contrassenso de ser castrado da liberdade do voo.

Um acorde:

Pego minha faca importada, minha faca de guerra, sento na varanda ao relento e começo a amolar – é um bom passatempo. A madrugada grita em silêncio, os cães das casas vizinhas e os daqui fecharam suas bocas sorridentes e babonas. Agora falta pouco, falta o parco: um mar, uma vara de pescar, uma lua cheia, inspiração e um barco.

André Anlub

24 de abril de 2015

Manhã de 24 de abril de 2015



Manhã de 24 de abril de 2015

“Êta, porreta” deixo para trás o rompante e no montante e na montanha vejo essa manhã, tamanha, sedenta de inspiração. Manhã avermelhando ao longe...
Cereal, frutas, café – sustentação –, o branco da parede e quadros coloridos, aqui.
Vou dar minha corrida e ganhar pensamentos; ganhar sonhos e novidades;
Vou dar minha pitada de irrealidade e abarcar fingindo ser um monge.

Não escondo minha simpatia pelo Budismo! Nem deveria.
À revelia está em quilo/peso a religião contraditória, algumas oratórias sem noção;
Há momentos em que não me queixo, e o quebra-cabeça se deixa e se encaixa... 
Na maioria dos momentos não.
Prefiro sempre a adequação...
Ter uma/duas/três escolhas (fiz escola nisso) e fazer o que acho sensato, justo e honesto: sem ordem – desordem – prevaricação.

“Êta, disposição”, é bom acordar para vida depois de acordar da cama e depois de anos estagnado; não vou mais reacender tal (nenhum) carma (não foi para fazer trocadilho, gente. Juro!).
Já vivi na lama; já vivi no limo; já vivi no limbo; já vivi sem gama e “me virei” na vida sem colorido – sem poesia – sem improviso, com garrafas e ideias sempre vazias (ou a caminho)... Sem fim, sem confetes e sem ninho.
Na obsessão pela saída achei a poesia. Hoje a amo sem a necessidade da recíproca.

André Anlub

Dueto da tarde (CXXXIII)



Dueto da tarde (CXXXIII)

O peso da consciência desafia a lei da gravidade; é dilema, é problema, é iniquidade.
Culpa não é solução: é problema. Teorema muito mal conduzido. Cinema mudo e comprido como o arrependimento.
Já não há mais idade para se sentir capaz. Vê agora por cima: cenas em câmera lenta o que deixou para trás.
Cobre seus passos com outros, iguais e diferentes, os mesmos mas nunca os mesmos. Porque hoje é ontem, mas hoje é hoje.
Não há mais planeta em que caiba a certeza do cimento pronto e seco, e de refresco seu desenho em afresco na muralha que sobe voraz.
O peso da consciência, o peso da muralha, o peso nos pés, que poderiam andar e só se afundam neste pantanal.
Mais uma vez veio à gravidade moldando a consciência como um peso pesado (grande muralha)... Não haveria nada de errado em errar urrando estar correto, se estivesse correto.
Roído pelo que o corrói, abre estradas no rosto com as unhas. Nelas transita o transe intenso em velocidade máxima, que vai muito além da compreensão, rompe a barreira do som, vai ao espaço vencendo enfim a gravidade.
É grave vencer a gravidade. É ela quem mantém a coesão da matéria. Em matéria de desespero, ele ainda não conheceu tudo...
O mais grave vem agora, pois terá que vencer o peso da consciência... E por ter derrotado a gravidade está ainda mais pesada.
É a derrota na vitória. Enfim, pra frente é que se anda, diz ele, patinando no ar sem sair de onde está.

Rogério Camargo e André Anlub
(24/4/15)

Dia no vácuo

Somos todos vira latas! <3
Posted by Irene Nunes on Terça, 21 de abril de 2015


Dia no vácuo
(André Anlub - 3/2/12)

Ontem a inspiração não deu as caras,
Tornou-se peça muito rara
De um dia chuvoso de março.

Ontem nem sinal de uma ideia,
Mesmo com choro e com vela,
Com água que encharcou a janela,
Respingou nas minhas pálidas folhas.

Ontem mudei na arte o meu foco!
Já estava com saudade das bolhas,
Nas tintas e em minhas mãos dos cinzéis;

Dos pincéis tirei a poeira
E encruei na mente a aquarela.

Hoje na alva das nuvens...
Como bela ave do paraíso,
Desceu e mostrou-me em sorriso
E pintou as folhas brancas e telas.

Politicagem



Politicagem 2010 (do livro “Poeteideser”)
(Música originalmente escrita em 2004)

Se liga que vou te contar agora
Como acontece essa triste história:
O lado mais pobre um trabalho árduo
E o outro lado representa a escória.

Uns morrem de fome numa fila,
Outros compram porcelana;
Uns se perdem da família,
Outros brigam por herança.

Viver com dividas não é vantagem
Você é quem paga essa politicagem.

É vereador, deputado, senador ou presidente.
E o povo está doente/está sem dente/está demente.

Politicagem os babacas e as bobagens.
Cara de pau, ipê, jacarandá...
Até onde essa zona vai parar.

Pra tudo ele tem resposta
Sempre uma proposta
Sem jeito, indecorosa.

Sobe em um palanque:
- um terno, uma gravata,
Com um sorriso
Preparando a mamata.

Estende as mãos
Estende os braços
Desfaz-se em pedaços
Tudo vai resolver.
O mundo ficar quadrado
O inferno, congelado
É só ele prometer.

Já sabem de quem eu falo?
Mas é melhor, eu me calo
Se não, vão me prender.
Vou indo sem rumo sem graça
Andando por toda praça
Até desaparecer.

Viver com dividas não é vantagem
Você é quem paga essa politicagem.

É vereador, deputado, senador ou presidente.
E o povo está doente/está sem dente/está demente.

Politicagem os babacas e as bobagens.
Cara de pau, ipê, jacarandá.
Até onde essa zona vai parar.

Num pais que reina a violência,
O governo uma indecência;
Discursos sem coerência
Sem jeito nem vontade de mudar.
Vai chegando à época
Aparece a solução
Para fome, os buracos, o transito...
É eleição!

- Aumento de salário, 
- Acabar com as filas
- Escolas para as crianças...
É ilusão para as famílias.

Invadem os rádios, os postes e a tv,
Depois o sujo (o porco) é você.
Enganam o povo, falam mentira,
Estão loucos pra mudar lá pra Brasília.

Mas essa história não termina aqui,
Sem um emprego virando faquir.
Faça uma greve, vá para as ruas,
Saia da lama... A escolha é sua.

E assim levamos a vida,
Abrindo e fechando a ferida,
Lutando pra isso acabar...
Durmo assustado também,
Rezando esperando alguém,
Pra tudo melhorar, amém. 

23 de abril de 2015

Samba do crioulo doido na casa da mãe Joana




Samba do crioulo doido na casa da mãe Joana 
(André Anlub - 5/7/14)

Tudo naquela bolha de sabão,
O mundo, o universo, as aves, o mar...
Tudo coloridamente alucinatório
Na majestosa bolha de sabão.

Chegam os louros de toda a vitória:
O pódio, as coroas de flores,
A beijoca aqui e outra acolá;

Chega o conforto num colchão de molas,
Vão-se os odores de podre
Do peixe dourado morto;

Vão-se as duradouras dores
No ponto morto das costas.

Cada pétala dessa certa rosa
Coloriu-se com as cores preferidas de todos,
Foi um bafafá, foi uma correria – para aqui, para lá.

O canto esfarela e professa
Dançando com cada caravana sem freio, 
Ri dos ventos úmidos
Que não deixam as fardagens secarem nos céus,
Mas chora com seu som abafado
Pelo sol escaldante
Pendurado na ponta da lança de um Deus.

Seriam sonhos?
Ergueram os mais belos castelos,
Barro por barro, pedra por pedra,
Para depois deixarem vazios, sem libertinagens, sem histórias...
Só com o eco do silêncio, com o vazio e o tempo,
Com a fantasia de um achismo simplório.

Não, não se vê mais um tesouro que nos atrai,
Tampouco a arca vazia.
Alguém o roubou e levou para muito longe 
(além da estrada)
E esse alguém morre de sede ou de fome (e fica a arca)...
Um anjo a viu em lugar deserto aonde ninguém ia,
Ninguém fala, canta, late ou mia,
Ninguém vai.

E ficou a arca... ficou a arca com a morte,
Ficou a arca com a morte e a foice
Ficou a arca, a morte, a foice e a lança...
Ficaram os quatro para a próxima ganância.

Dueto da tarde (CXXXII)


 Dueto da tarde (CXXXII)

Já não era sem tempo: o tempo estava comendo seus calcanhares e nem as lembranças resistiam mais.
Os olhos embranquecidos e as rugas por todo o corpo lembram um ser já morto que persiste em estar vivo.
Puxar uma cadeira de balanço para a frente da janela. Puxar uma janela para a frente da cadeira de balanço, acender um charuto cubano, ouvir uma salsa ou um tango... Pensando bem: nenhum dos dois.
Melhor ficar ouvindo o vento nas árvores, algum pássaro e o som da saudade.
Melhor fica tentando lembrar de algum momento e esquecer do esquecimento que o invade.
Uma sensação de urgência, no entanto, faz trepidarem as paredes. As velhas fotografias penduradas quase caem; e nas telhas escurecidas, umedecidas e com limo passa um felino faminto olhando de lado para tudo, olhando de vulto para o nada.
Como se fosse a noite, como se tivesse a noite à sua disposição. Caça e não se preocupa em ser caçado.
Já não era sem tempo: o tempo agora lhe prega uma peça, fazendo retornar algumas memórias, fazendo boas imagens florirem no ar, no céu e nas folhagens.
Hora de levantar e encontrar chão sob os pés. De colocar os pés sobre (algum) chão. Levanta. E leva a cadeira de balanço junto.
Com o tempo como inimigo, cada minuto que passa é como um pequeno corte de navalha. Quer catalogar as memórias: emoldurar as imagens, sintetizar os sentimentos e gravar as vozes.
É assim que vai entrar para a História – para a sua história: desce até o velho e esquecido porão e abre algumas caixas; tira as teias de aranha da velha máquina de escrever, dos formões e martelos, das telas e dos materiais de pintura. 
Suspirando um grande, um imenso “talvez”, abre o primeiro sorriso dos últimos... (Séculos? Milênios?) minutos.

Rogério Camargo e André Anlub
(23/4/15)

Dia Mundial do Livro

O Dia Mundial do Livro é comemorado, desde 1996 e por decisão da UNESCO, a 23 de abril. Trata-se de uma data simbólica para a literatura, já que, segundo os vários calendários, neste dia desapareceram importantes escritores como Cervantes e Shakespeare, entre outros. A ideia da comemoração teve origem na Catalunha: a 23 de abril, dia de São Jorge, uma rosa é oferecida a quem comprar um livro. Mais recentemente, a troca de uma rosa por um livro tornou-se uma tradição em vários países do mundo.

Despedida (I – XII) - Salve São Jorge


“Em breve” e “logo mais” não são “pra já!” 

VII
Enquanto o sol beija meu corpo
Na fria manhã dessa quarta,
A folhinha com os dias marcados,
Parece caçoar da minha cara.

Veio tranquilidade, mas logo a má notícia;
Veio no dia à perícia, para dar certeza ao estrago.
Mas ponho forte o cordão, São Jorge pendurado,
E faço o branco pendão, a paz em imaginário reinado.

X
O Natal bate à porta,
Entorta e revive as letras já tortas e mortas;
O novo dia chega chegando,
Breve e erudito, compromissado compromisso
De haver algo novo e harmonia.

Beijo meu anel de São Jorge,
Ato falho, desnecessário...
Pois na fé sempre me agarro!
Coloco as chinelas que trouxe
De couro velho e sola de pneu de carro;
Coloco o pijama bem leve, 

E para o frio de Itaipava me preparo.

Despedida (I – XII) (Crato/Itaipava)

De tudo que foi vulto, agora é muito o que é céu, e é seu, e é meu, que me cerca e cega – num todo! Caço tumulto, e acho, porém não gosto mas finjo que gosto e me enrosco (chega a ser tosco). Vejo verdade e abraço; vejo regaço, trago no laço; procuro calmaria: amizade de João; desenho de Maria (um dia foi fosco) – num nada! De tudo que foi concreto, continua sendo, continua a sede da procura; achando miragem viu-se correto, beijou o insano, do assanho foi/é primário – aquele dia foi pouco – qualquer dia é pouco; vejo o que vejo, já basta; vejo o que resta do festejo; preparo asas para a travessia, e já que não podia, acabei não sendo (foi até muito) – nu tolo! Dia cheio, dia quente, dia rente, muita gente na frieza em Paris (qu'est-ce que c'est?), fanatismo, “marquetismo”, dedo em riste; bala, vala – boletim, infeliz. É cá e lá; é diz que não diz, é borogodó balangadã, é melhor inquietar o tantan. Aqui de repente à esperança, trem bala do tempo, o sol belo na varanda, cedro puro e o verniz. 
O coração faz cálculos no abracadabra das horas; lubrifiquei minhas dobras, ensopei minhas válvulas; beijos soltos na terra, céu e mar, afogando bem no fundo as intolerâncias; sou aquela ave que foge da gaiola e por dentro sai cantarolando Wild Horses dos Stones, mas pelo bico sai o canto mesmo; é aquele animal em extinção, que anda na lenha, no lema, na linha; aquele “ex-tição” que ganha lume; é tal que tem tal de compaixão e com paixão põe à mesa e na sobremesa assopra as quarenta e quatro velinhas. Somos um só, somos complementos: 
imaginação e momento, arco, flecha e arqueiro; temos um amigo: o mundo; temos o reduto: a escrita; o vagabundo passa ser somente vago, e o hábito de conhecer a si mesmo é corriqueiro. O mundo canta ao toque da bateria, entra o ritmo em arritmia, então levanto e danço: “Mercy” de Dave Mathews; os pés se agitam e a mão trabalha no bloquinho: tinta, frase, crase, pinta – é a perturbadora calmaria, você quer que ria, talvez chore; quer que implore, obrigue: algo seja feito (mesmo de fininho). “Prefiro Toddy ao tédio”; é punk, só que (infelizmente) não; é a tal perseguição do silêncio (stalker), que vem, silencia – vai, silencia; lá ao longe: avião. 
O mundo se cala ao toque do botão, fones de ouvido descansam: caneta freneticamente eletrizada, o papel é namorado, e a amante é “inspiração”: caneta é “bi”, é tri, é tetra, é triatleta; ligo “Mercy” de novo (misericórdia), Dave é unanimidade. “Bucolicozidade” – O sol parou de lascar o beijo quente no asfalto, fim de tarde, mais um dia; ônibus passa, crianças voltam a brincar de bola, roupas voam em varais e levam o cheiro do café e pão frescos; pessoas passam com sacolas e o bucólico torna-se culminante; viajo no espaço por um instante, meu corpo suado – estafado – planeado quase que atravessa o país; o cheiro da minha casa penetra o nariz: fina flor que invento para a comodidade. As pernas hoje pediram longa rua, queriam andar, ver novos caminhos; sons se repetem, horas ecoam sozinhas, o tempo estaciona e me açoita nas nádegas; meus olhos buscam novos rostos, tristes ou alegres, mas novos. Amanhã tomarei coragem e irei à luta, sair novamente, quero rua. A perpendicularidade do raciocínio chega a desafiar a gravidade; nem sei a gravidade desse desafio, prefiro distrair minhas ideias, escrever; amanhã é outro dia, nova sexta-feira, e o tempo vai ter que mexer e me mexer. Foi dada a pausa no ponteiro dos segundos, é aquela noção de congelamento; senti-me voando num céu de brigadeiro, vendo formigas da cidade grande. 
O alerta foi dado ao público, nisso, nessa, nossa, “bola”; o amor pode estar parco, e não é desesperança, é realidade. Então façamos assim: mais afeto/abancar coragem, engraxar engrenagens, largar a flecha e o arco, pegar os rumos, pegar os remos e flores e abarcar e embarcar nos amores: “de quebra”, no majestoso barco. Tiraram a pausa do ponteiro, acabaram com o imbróglio, vou por meus pés na estrada. (a vida é curta quando é corte; a vida é longa quando é logo). Sábado de sol, de sola de sapato sendo gasta pelos amigos que passam e se vão, ao longo da rua. Sábado de poesia; acordei escrevendo, depois li um pouco; agora escrevo novamente; voltando algumas horas no tempo: essa noite fez um frio de inverno, acordei na madrugada em posição fetal e com uma estalactite no nariz. “Eta ferro”, me meti no frio da Serra; frio que me serra os ossos e quase gela meu sangue. Foi por um triz. Voltando ao tempo atual: almoço pronto, deixo meu “boa tarde” ao moço que passa (mais solas gastas); barulho de maquita cortando algo completa o som que ouço aqui: qual música? hoje deixarei à imaginação de quem lê. Indo adiante no tempo: em casa com os cães, meu salmão pronto, o mesmo som de agora, sol queimando a cachola, e ao tédio meu afronto. Preciso só imaginar e já sinto o cheiro de café, aquele fresco – novo – aquele meu; misturando-se ao perfume L’occitan que estou usando; vejo o céu limpo, ouço os cães distantes e os cães aqui também latem. Preciso só 

imaginar e já sinto o beijo... Ah, o som é Joni Mitchell, do disco Blue. Subiu a colina íngreme, audaz cabrito montês, fez seu filme na bravura, desenhou nas pedras a astúcia, onde passou com os seus fortes cascos. Penso na vida assim: às vezes desafios sem nexo que buscamos por aventura, por comodidades, por boemias; às vezes desafios concisos, extremamente necessários. A cena se fez diante dos meus olhos, talvez na importância da minha história; o homem atrás de sua glória, fugindo dos terrenos fiascos. 
Um mortal louco subiu a montanha mais alta; talvez para outros olhos seja pouco, talvez para outros poucos sejam olhos; A cena se desfez em um instante com o toque do telefone; agora a questão já é outra, pintar de rosa o elefante. Desceu a montanha mais alta, a imaginação passageira; de dia a luz não faz falta, de noite trouxe à luz a parteira. A vida é assim: de repente a batucada do Olodum; de repete um “pam” e tchau. Foi nesse pensamento antigo que começou a abraçar excessos, nessa sensação de trem expresso que já vai chegar, já está chegando. Usava como sombras a boemia, nostalgia e a arruaça. Ontem ele era um pouco doido, hoje continua sendo, apenas segue fazendo um pouco menos de alvoroço. Foi cachorro louco, daqueles que despontam nas esquinas, com alma de menino e pensamento torto. Hoje ele é mais ponderado, muito mais “na dele”; hoje segue na trilha de trem Maria Fumaça, sentindo na alma e na pele o que deixou no passado. A vida é assim: de repente acaba o repente, acaba o velho e o novo, acaba a sobra e acaba o ouro. É nesse estouro que se vai um corpo: casca de ovo no galinheiro de um Deus. Cobiçando a luz do sol que passou pela porta e me deu um sorriso. Fui correr atrás, fui ao encontro do calor; desci pela rua feito a bola da pelada de domingo. E a chuva?  também amo, clamo e quero; gosto da água batendo no corpo e no rosto; gosto do gosto, do cheiro e do aspecto. Vai deixar lembrança; vai deixar vontade de voltar, curto o zelo; assim quem sabe eu volto em outro tempo (há esperança), no lamento em saudade, no aumento das panças e cair dos cabelos. Pego novamente a espada (sempre fui eclético), sempre tive sorte; esqueço minha lança, deixo-a na estrada, mas só por empréstimo, deixo com São Jorge. (corpo e café – torrados e moídos) Hoje me sinto dentro da melodia “Rio quarenta graus”; mas quarenta só se for na sombra. A aura parece que quer deixar a carcaça e se perder na atmosfera; o sossego berra, a quietude é onipresente, mas “péra”... ouço o tilintar dos dentes, como se fossem lâminas de aço, saboreio a pera e o sumo resseca meus lábios. 
Meu lema para sair da lama é sorvete de lima-limão e um chá verde gelado. Estão bebendo cafés quando esfriam, vi gente saindo pela rua, pelado. Agora a aura quer ficar no corpo, um bom banho gelado; ao alto as audaciosas asas de Ícaro, há tempos derretidas, agora aparecem em nuvens, desenhadas; vejo o futuro, não vejo sempre muito boa coisa; há decepção, sempre há; há ressurreição, tem que haver; há de aparecer alguma ligeira solução nas poesias sinceras despontadas. Sai da melodia, penetrei no sigilo, já são bem mais de meio dia; entrei entre as almofadas e sorri para a nostalgia. 
Quando busca a inovação encontra o aconchego, não tem medo, e o mergulho é de cabeça; na sinceridade da devoção pelas letras, na fé na escrita, na aflição esquecida, morta, afogada na tinta, mergulha... e de cabeça. Solve a arte, respira até pirar, come a arte, sente, brinca, briga e se esbalda; balde de água fria, quando ele quer que seja; balde de água quente, quando ele quer que ferva. Na construção das linhas, ele sonha... é um gigante em solo de gigantes (é um ser igual). Nada é pequeno ou menos, mas ele é gigantesco; nada é estranho no pensamento sereno (a mente é sã). Criou algo mais do que o passo à frente, excedeu-se, ousou – usou e abusou; chegou a ser inconsequente... até achou que passou rente do perfeito (foi bem feito), pois assim tentará mais e mais, e irá tentar sempre; e aquele gigante, aquele ser igual? foi para terras inóspitas e foi jogar novas sementes, agarrar novidades e desbravar castos campos. 
E aquele cozinheiro? (sonhou e se levou) cozinhou pratos raros e fabricou azeites, adornou a mesa com belos enfeites, chamou parentes, chamou amigos, encarou os indigestos... assim tornou-se quase um guerreiro, escritor, amigo, artista, rico e mendigo, cozinheiro de banquetes, ritos e festas... tornou-se gente e verdadeiro. 

- André Anlub

Assumo (ou não) o assanho



Assumo (ou não) o assanho

Rasga-me neste tempo mesmo, este tempo teu; mostre tua alegria de ter-me todo.
Não, não é carência: é desenvoltura – é ser escravo da tua cultura, por querer ser feliz e ama(n)do.
Pegue teu chicote; minhas nádegas esperam para queimar, pois o coração já queima.
Abra minhas asas que há tempos escondo, encolho e ficaram no encalho... 
Faça-me voar só para ti – ao teu encalço – ao teu malho.

Assanho, assumo e ascendo e nada mais pode faz-me mal;
Assino embaixo para o assassino que me assente e encare a morte de frente.
Quero me ver envelhecer em frente a um grande e azul Mar de sal,
Não vou mais me envenenar em frente ao grande e turvo Mar de gente.

Sim, sim é solidão  muito além do “solidinho” e até mesmo do sólido.
Há muito material aqui: fiz armadura, fiz escudo, fiz espada, fiz garfos e facas, pontes e estradas e ainda sobrou para um imaginável e cômodo futuro.
Sim, sim é amor; e até algo além mais, além-nuvem e céu, além eu e além-vida... É algo além-morte.

Interrupção para expor meu sonho da noite passada: 
Algo estranho atípico: eu fazia parte de um grupo de amigos íntimos, pessoas que na vida “aqui fora” jamais vi. Éramos belos, mas mal arrumados, íamos descalços por ruas de pedras, estreitas, rindo alto e lendo manuscritos escritos com letras em diversas cores que decoravam as mãos. As outras pessoas que passavam em volta, olhavam, acenavam e riam com um olhar de “até logo”. Havia uma mulata, em particular, magra, com um lindo sorriso muito branco, traços simpáticos e andava sempre ao meu lado e de seios à mostra; aquilo era natural, não incomodava a ninguém. No sonho eu sempre prestava mais atenção nela e a distinguia das outras pessoas por ser minha amiga preferida, confidente e extremamente íntima.

De volta à realidade: penso agora nas palavras de alguns amigos: certa mutação – vamos mudar – devemos mudar! A meu ver tal alteração em determinada sociedade deve-se que principiar unicamente nos próprios umbigos; caso contrário é plantar limão e esperar laranja.

Rasga-me novamente, desta vez sem fim; enfim, a fim de querer-me sempre como estou e sou para o mundo: como capim que nasce em todos os cantos e se adapta ao terreno.
Largue teu chicote, não irá mais precisar dele. 
Quero entregar-me por inteiro como metade fictícia, como cura da ferida e da tolice que é possível ser sozinho.

Não mais assanho, não assumo, tampouco ascendo; sou só eu mesmo que já estou satisfeito de chegar aonde cheguei! 
Mas continuo com nada podendo faz-me mal.

André Anlub
(23/4/15)

Mesmo assim

Pipe DreamThis is pretty damn amazing
Posted by Krafty Kuts on Domingo, 19 de outubro de 2014


Mesmo assim 
(André Anlub - 19/1/15)

Agora mesmo a alegria passou por uma rua,
Ela estava nua, estava fula, estava atormentada e vadia.
Olhou em todas as portas, portões, porteiras;
Olhou por cima dos muros e em murmúrios
Resmungou algumas asneiras... eram loucuras, coisas cruas...

Ela abriu janelas e meteu a mão nos cestos de frutas
E nas caixas dos correios...
(pegou algumas contas, cartas de amor, maças, peras).

A alegria soprou uma brisa, apagou algumas velas,
Espalhou a fumaça dos charutos e incêndios;
Atrapalhou as preces, os cantos nos terreiros;
Atrapalhou enterros e desacelerou as pressas.

Agora mesmo senti seu cheiro de mato lavado,
Senti seu ar gélido, fresco, encanado;
E como um refresco me afagou por dentro...
Acalentando meu mundo e meus imundos pulmões.

Vi alegria em multidões, senti suas fragrâncias...
Mas novamente vi a dor;
Senti o odor do suor dilapidado
Pelo horror de intolerância.

Mesmo assim a alegria me deu “bom dia”,
Concomitante que media o tamanho do estrago,
Tragada e hipnotizada pela hipocrisia
Da constante desarmonia dos cínicos embargos
Nos livres-arbítrios de nossas/fossas vidas.
Mesmo assim a alegria me deu “bom dia”.

22 de abril de 2015

O Desenho



O Desenho 
(André Anlub - 6/2/10)

Apenas desenhei seu rosto
Com sombra e luz, com ar de desgosto,
A melancolia que te conduz.

Comecei pelos cabelos: completamente lisos,
Tom de fogo na madeira que deixam de paixão
A atração em teus vários vestígios.

Os olhos: de pantera, brilhantes, verdes.
Esfaqueiam de repente meu desejo, minha quimera.

Boca: não tem igual, toque de refúgio sensual...
Se movem em câmera lenta,
Cria um desenho na beleza que ostenta.

Depois de pronto fui ao extremo,
Beijei ardentemente tua face de papel,
Tintas me borraram todo o rosto
E por gosto, fui de palhaço ao céu.

Manhã de quase Natal

BUSKER IN BRISBANE AUSTRALIA! WTF!Like ----------> Fortafy | Fortafy DailyCredit - talissa.brooke
Posted by Fortafy on Terça, 16 de dezembro de 2014


Manhã de quase Natal 
(André Anlub - 22/12/14)

Veemência ao máximo, mas a corda ruída;
Troca-se a música erudita por um funk pesado.
Na beira do abismo com o pensamento equivocado,
Constrói-se o equilíbrio conforme a necessidade.
E atravessa-se o vale: agora se vê cedros secos e regadores lotados d’água; ave cinza voando ao redor de arco-íris.
Foca-se a íris em bocas que com todos falem,
Palavras inexatas – incoerências em dialéticas.
E retorna-se à corda, não se sossega o facho:
Acorda os olhos, pois agora é real perigo;
Nostálgico tempo, vento e desabrigo.
Pede-se o ofuscamento, pois coragem em andamento...
O sangue corre quente e rente à corda balança a mente.
(troca-se o funk alto por Ron Carter e seu contrabaixo)
E acorda-se do sonho, agora voa-se baixo:
Céu encoberto, nuvens à vera, ventos fortes de leste varrendo a estação; o sol quente que preste, a cachoeira à espera, nos poemas – quimeras; para as feras, oração. (fica Ron Carter e seu contrabaixo).

PurOOsSo

Não são escombros da segunda guerra que terminou em 1948. É um vídeo atual feito com a tecnologia-drone. Coisas que a...
Posted by Expedito Gonçalves Dias on Quarta, 22 de abril de 2015


              Outro dia flagrei-me lembrando de certa véspera de Natal, lá pelos idos de 1992, quando encontrei nas areias finas da praia de Grumari, um grande amigo de infância; foi realmente uma enorme coincidência, já que estou falando de uma praia que se encontra numa reserva ambiental, que conta com a presença de poucos “points” e que é brindada com ondas em quase toda sua extensão (2,5 km). O encontro: estava na praia num dia ensolarado, dando minha corrida pela areia e esquecendo-me da advertência do médico a respeito do meu joelho bichado... Advertência esta que eu não deveria correr nem pela areia mais dura, perto do mar, muito menos pela areia fofa... de repente vi aquela prancha fincada na areia, ao lado de uma cadeira vazia e um guarda sol com estampa de cerveja. Reconheci a prancha e já voltei meus olhos ao mar. Lá estava o “brother”, surfando de jacaré, bem ao estilo de nossa meninice... sentei-me na cadeira, meu joelho “sorriu”, olhei novamente para o mar e assobiei... trocamos acenos e me ofereci à poesia. Ele, morador do Bairro Peixoto em Copacabana, era meu vizinho de bairro, andávamos na mesma turma e dividíamos as mesmas praias e namoradas... Ele, que sempre após a ceia na casa dele passava na minha para comer mais um pouco e beber mais um vinho, já avisou que naquele ano não seria diferente, deixando-me extremamente feliz. Nesse dia, nessa cena congelada na hora, e agora se congela na memória, começou meu mergulho no mundo poético, uma de minhas razões de viver. Um poema nasceu, amadureceu e se concretizou anos depois; o poema melhor lapidado e com respingos dos Natais que passamos juntos, sorrisos que dividimos e das opiniões e namoradas que trocamos... 
Um poema de saudade, de falta e da sensação que deveria ter ficado mais datas ao seu lado... grande amigo.

O poema:
Acordei com uma lágrima;
No sonho bem claro o rosto,
De pronto sorriso me olhava;
Amigo de praias e farras
Que o vento levou sem aviso;
Deixando a doce lembrança,
Momentos que não amarelam,
E regam o verde singelo
Desse jardim da saudade.

Dueto da tarde (CXXXI)

This is a massive wave! Huge respect to Mark Matthews riding this!
Posted by Extreme on Segunda, 20 de abril de 2015


Dueto da tarde (CXXXI)

Pulou de uma desmedida altitude, soltou o grito estilo “Munch”, murchou as flores em volta, voltou a se vitimar no escuro.
Procurou nos bolsos da esperança, mas viu que havia saído sem ela naquela manhã gelada.
Na queda a antiga balada, enquanto o fundo não vinha; tinha faro imaturo para a vida e roía a corda escondido. 
Ferido de si mesmo, não sutura nem cicatriza. Supura e profetiza: isso vai acabar comigo!
Já viu a luz no fundo no poço, mas fechava os olhos na vista; já está à vista o cheque com fundo para pagar sua dívida à vista.
Quer liquidar a fatura. Mas a pressa tem inimigas. A perfeição também. Senta para esperar, mas o banco é tão desconfortável quanto a espera.
Então retorna à queda fazendo piradas piruetas no ar. Ao longe o céu o observa – a cada instante mais longe – a cada momento menor.
Grita enquanto cai. Munch pintaria mais um grito se o escutasse. E qualquer poeta reconheceria o desespero.
Já longe de tudo e todos, até mesmo da luz, chega a lugar nenhum, chega ao fino funil.
Ir é continuar indo. Parar é continuar indo. Não há saída em procurar saída.
Vagando na escuridão de Caravaggio ouve uma voz e o sufrágio: 
- volta logo ao topo, pois Monet quer pintá-lo de novo.
E eu conheço Monet? Devo conhecer Monet... Pelo menos parece que Monet me conhece...
Decide-se a fugir de  Caravaggio, mesmo levando Caravaggio consigo; fugir de Guernica e Picasso, com Guernica e Picasso no coração. Levanta os olhos e dá com um pássaro de Aldemir Martins.

Rogério Camargo e André Anlub
(22/4/15)

21 de abril de 2015

Vem assim no repentino

Meanwhile, in Australia.  Snapchat me @PazPaz
Posted by Paz on Segunda, 20 de abril de 2015


Vem assim no repentino 
(André Anlub - 15/6/14)

O amor qualquer de qualquer uma pessoa,
Visto num lugar abandonado,
Esparramado com folhas secas
E sombras anêmicas.

As árvores já estavam nuas,
Céu nublado e o vento seco;
Era de dar medo tal quadro, causava transtorno
Já em pensamento.

Faria tortura se estivesse realmente acontecendo.
O amor nessa brenha largado,
E as aves que aqui já deixaram
Abandonados seus velhos ninhos.

O sol (coitado) só batia de lado,
Tímido e afastado quase que sentindo frio.

O amor nesse terreno baldio,
Cercado por uma cerca velha e enferrujada,
Que em toda sua extensão
Servia de apoio para uma parreira.

Há um portãozinho branco descascado,
Empenado, torto, caído, pálido, podre,
Cheirando a lenha velha,
Louco para ser queimado,
Ser alforriado, mas para os cupins ainda com serventia.

E o amor ainda lá, deitado,
Quem sabe aguardando a chuva
Ou talvez a uva da parreira ao lado...
E de repente o amor lá, sorriu, avistou o pão, o vinho...

Viu alguém andando sozinho, vago, 
com a cabeça baixa e o rosto cálido; 
novamente riu, gargalhou...
Avistou seu alvo, sua vítima. 
Ajustou sua mira e arrebatou. 

Dueto da tarde (CXXX)



Dueto da tarde (CXXX)

Nenhuma dúvida sobre a dúvida nenhuma: é um sonho e a gente acorda.
As paisagens, as pessoas, os amores, os amanhãs, as dores, gostos e contragostos estão ai... E são enigmas.
Levamos as imagens no coração e o coração às imagens, como se ele pudesse animá-las.
São os santos de barro, são as casas de pedras; no alto na nuvem ou no centro da terra, alguém sério atenta irrequieto.
É preciso dominar o que é preciso e nos domina, pensa. Mas enquanto pensa, o que é preciso age com precisão. 
Na exaustão da procura descansa na consequência; na observação da essência se agarra na sua própria construção.
Cobra engolindo a si mesma com a mesma frequência da rejeição. Refeição indigesta. Gesta de sapo ao sol.
Nenhum equívoco no invólucro nada lúcido de uma fidúcia infinda: não há dúvida quando só se vê o que se quer ver.
As costas à frente, a frente deixada para trás. E a certeza da certeza, que não separa separação de afastamento.
Alguns enigmas da vida vão se desfazendo pelo caminho, deixando michas que ao longo do tempo vão se unindo até formar um novo enigma.
O que resta de dúvida é um lago. Nele os peixes da sobrevivência crescem até serem fisgados e acabarem na mesa das satisfações, engordando o comodismo e como dito: Gesta de sapo ao sol.

Rogério Camargo e André Anlub
(21/4/15)

Vídeo sobre agrotóxicos produzido por Frei Gilvander continua fora do ar


Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/12501

"Retirado do ar desde outubro do ano passado, vídeo denunciava o envenenamento da população da cidade de Unaí (MG) e região pelo abuso de agrotóxicos utilizados na marca “Feijão Unaí”

01/04/2013

do jornal A Verdade

O juiz do município de Unaí, região Noroeste de Minas Gerais, pediu, em outubro do ano passado, a prisão de Frei Gilvander, padre Carmelita, assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e militante dos direitos humanos. O motivo para o pedido de prisão foi a divulgação de um vídeo - já retirado do ar - produzido pelo frei no qual denuncia o envenenamento da população da cidade de Unaí e região pelo abuso de agrotóxicos utilizados na marca “Feijão Unaí”.

No vídeo, depoimento de uma trabalhadora de uma escola municipal de Arinos, cidade vizinha de Unaí, relata que o feijão foi enviado para a merenda escolar e que as cozinheiras não suportaram o mau cheiro e os sinais de veneno contidos no feijão, chegando, inclusive a passar mal. Isso se repetiu várias vezes, chegando ao ponto de até descartar o feijão no lixo.

A cidade de Unaí é a campeã nacional em casos de câncer. Segundo os dados da Comissão Parlamentar da Câmara Federal, em Unaí há 1260 casos de pessoas com câncer por ano. A média mundial não ultrapassa 400 casos anuais para cada 100.000 habitantes. A cidade também é a campeã nacional em produção de feijão e de uso de agrotóxicos, uma verdadeira ameaça a saúde da população.

A prisão de Frei Gilvander se daria caso não retirasse de circulação o vídeo que fazia a denúncia, um verdadeiro ataque à liberdade de expressão e informação. Os diretores do Google e do Youtube estão respondendo a processo pela veiculação do vídeo.

Frei Gilvander é um grande companheiro da luta do povo pobre e por isso desperta o ódio dos poderosos. Em maio, por seu apoio à luta do povo por moradia e denúncia do despejo da Ocupação Eliana Silva e de outras comunidades sofreu dezenas de ameaças de morte (veja na entrevista ao Jornal A Verdade clicando aqui). Mas segue firme na luta contando com cada vez mais apoio das comunidades e das pessoas de luta, justas e honestas.

No dia 25 de outubro, organizações da sociedade civil e movimentos sociais lançaram manifesto contra a criminalização do Frei Gilvander Luís Moreira e o uso abusivo de venenos."

É a hora de Botticelli pintar-te



É a hora de Botticelli pintar-te 
(André Anlub - 22/6/13)

Tu és a oitava maravilha do mundo.
És amor, nostalgia, atualidade,
A alegria que criaste ao redor.

No suor da tua labuta, 
Na gota do teu pranto,
Há o brilho da vida minha, 
Há o tempo que é nosso dono.

Fizeste meu ar mais ameno, mais leve...
E em breve momento fizeste nosso destino,
Que agora eternizado.

Tens nas mãos a magia,
O poder de dar vida no que tocas.

Tua fala levanta longo voo nos teus cantares,
E na pequenez de curtos versos
Nascem grandes histórias,
Cordéis... dos melhores.

Digas sempre sim,
Minha alma carece desse afago,
Desse amor,
De teus flertes.

Foste lá:
No colorido do novo mundo,
Onde os poetas sorriem
E erguem castelos.
Onde os martelos penduram belas pinturas,
Onde esculturas são vivas e beijam,

Onde há o amargo só nas frutas mais verdes.

Dos antolhos


Dos antolhos 
(André Anlub - 5/6/12)

Quero um apropriado escudo Celta,
Pois há lanças voando sem rumo,
Almejando ébrias mentes sem prumo,
Mas por acidente a mesma me acerta.

Quero o melhor dos virgens azeites,
Pois nas saladas só tem abobrinhas,
Na disparidade de várias cozinhas,
Todos adotam a mesma receita.

Quero ver e ler o que outros registram,
Sem antolhos nem cínica mordaça,
Sem caroço impelido na garganta,
Faz o engasgo que mata na empáfia.

Mas não só quero como também ofereço,
Meus singelos poemas com terno adereço.
E com pachorra e olhos modestos,
Vê-se admirável o que era obsoleto.

20 de abril de 2015

Noite de 20 de Abril de 2015



Noite de 20 de Abril de 2015

Iniciava-se: há ditadores querendo salgar a carne do churrasco. 
Isso é inadmissível!

Fiz aniversário no começo do ano. Não tinha bolo, mas tinha bala! 
E da boa e bem doce.
Não sou mais um consumidor assíduo de doces, só os mais “light”.
A criação atualmente é meu carboidrato, minha glicose, minha paçoquinha, meu doce de leite com suco de amora.

Agora vi na televisão: mulher deu a luz a cinco crianças; agora olhei para o céu e cinco estrelas se destacaram.

Medianamente o meridiano escolhe uma ponta. Espontaneamente o espontâneo fica indeciso.
É muito siso para um inciso nessa pouca boca; é muito oca para se construir uma oca e ocupar todo espaço preciso.

Farei aniversário no começo do ano que vem. Talvez tenha bolo, talvez tenha bala!
E, de boa: nada de doce.

André Anlub

Dueto da tarde (CXXIX)

Essa mergulhadora ganhou um novo amigo!Climatologia Geográfica
Posted by Climatologia Geográfica on Segunda, 20 de abril de 2015


Dueto da tarde (CXXIX)

A lâmina da espada reluziu ofuscando os olhos inimigos.
O mesmo brilho partiu do escudo e do peitoral, abrindo estradas na escuridão assassina.
Caiu à tarde escarlate com uma flecha atravessada no sol de um domingo.
A marcha do olhar determinado avançou sobre a covardia infame, fazendo da fama a foice e da fome a sina.
Batalhas não são fáceis e guerras são batalhas após batalhas. Quando desembainha sua espada o guerreiro sabe disso.
Os brilhos se apagam enquanto o sol dorme na colina. O sangue fica fosco, o rosto fica triste, o poço é fossa e cova para os guerreiros que perderam seu viço.
É dor, é grito de dor. Mas não é grito de socorro nem de piedade. É a guerra da vida, cotidiana e implacável. E é a vida da guerra.
Uma fera que nasce todos os dias – noites, se cria – cresce, se defende – ataca, se maltrata – achincalha, se descobre – se enterra.
Morre e renasce. Renasce e morre. Nem sempre pela espada do guerreiro. Mas ela está sempre ali, a espada do guerreiro.
A lâmina futuramente pode ficar sem fio, pois amolarão somente à paciência alheia; na lâmina poderá não haver mais luminescência e assim perder a ciência e ganhar certo mistério:
Como conseguiu vencer a guerra, se as batalhas continuam? Como vive em paz, se ainda é um guerreiro?
A fera ouve a pergunta e se resguarda na incoerência de uma possível resposta torta; em silêncio e apavorada ela ouve o som da paz e da inexistência de cobrança; ela se desfaz e se delicia.
Ele também se desfaz e se delicia. Ele é a fera. Ele é a luta e o campo de luta. Ele é a morte e o que resulta da morte, num brilho que é sol mais do que sol.
Agora vemos a lâmina ainda mais afiada, ainda mais frenética e sedenta – porque está em (merecido) repouso.

Rogério Camargo e André Anlub
(20/4/15)

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.