15 de março de 2015

Dueto da tarde (XCIV)



Dueto da tarde (XCIV)

Esperar é inevitável. Não só por causa da esperança.
Há de se viver com ação mais a paciência de Jó e jogar ao vento a projeção da perfeição.
O inevitável nem precisa bater à porta: para ele ela está sempre aberta.
Mas claro que há de tudo; há até clero andando incrédulo, sem crédito sem cédula sem sílaba sem cerne.
Há juiz sem juízo, mestre sem mestrado, cantor que não canta, galo que não gala e portas que não fecham.
Há até poetas insensíveis; dizem que há! mas particularmente não acredito, ou talvez sejam invisíveis.
Poeta insensível não é poeta, mesmo que faça versos. Assim espero. (Esperar é inevitável?) Fecho a porta para esperar melhor.
Sei que alguém dará de cara na porta, pois obstáculos são inevitáveis. Torço para que seja alguma coisa que evito.
Do lado de dentro me centro, adentro meu parlamento particular e digo a mim mesmo o que não posso evitar: amor, contentamento, frustração, inspiração e dor.
Digo isso e muito mais do que pode mais porque chora menos. Em frente, à frente do que me afronta, tonta é a porta, que só sabe abrir ou fechar; tonta é a esperança, que só sabe esperar.
Se o inevitável nasceu inevitável e gosta de ser assim... de nada adianta evita-lo; vou apertado abraça-lo, abrir meu melhor vinho, calçar minhas botas, colocar meu casaco de frio e caminhar para o acaso. 

Rogério Camargo e André Anlub
(15/3/15)

Pensamentos



(1) A beleza é boa para quem quer levantar o ego, ostentar, se divertir, se embriagar, se iludir, passar férias, visitar... mas para fazer moraria tem que haver paz, qualidade de vida, reciprocidade, atenção e amizade... e com o tempo tente tornar sempre sua moradia ainda mais bela.

(2) A gente se habitua a tudo na vida; dá-se o nome de flexibilidade.

Quando habitua-se com assiduidade, dá-se o nome de comodismo. 

(3) O segredo é parar de bater o pé falando que o tempo voa e começar a bater as asas voando mais alto que ele.

(4) O problema não é o sujeito ter avidez exacerbada por dinheiro; o problema é ele pensar que todos seguem esse objetivo.

- André Anlub

14 de março de 2015

Dia da Poesia...

14 de Março - Dia Nacional da Poesia

O Dia Nacional da Poesia é comemorado no dia 14 de março, data de nascimento de um dos maiores poetas brasileiros: Castro Alves.

Fonte: http://www.brasilescola.com/datas-comemorativas/dia-nacional-poesia.htm

Você sabia que a poesia nacional tem um dia no calendário dedicado a ela? Pois bem, não por acaso, no dia 14 de março comemoramos o Dia Nacional da Poesia.

Criada para difundir a poesia e a linguagem literária, a data foi escolhida para homenagear um de nossos maiores poetas, Antônio Frederico de Castro Alves, nascido na cidade de Curralinho (hoje Castro Alves), em 14 de março de 1847. Castro Alves foi considerado um dos mais brilhantes poetas românticos, responsável por uma nova concepção de amor na Literatura, além de um notável entusiasmo por grandes causas sociais, como a abolição da escravatura. Depois dele, muitos outros vieram, mas como grande poeta que foi, teve seu nome perpetuado em nossa história, sendo, então, digno de reverências e homenagens.

Nossa Literatura brasileira é profícua, sendo representada magistralmente por grandes poetas que fizeram do ofício da escrita sua profissão de fé. A poesia é uma das expressões artísticas mais populares e, permeada por seu lirismo característico, arrebata leitores e penetra em diferentes contextos, pois até mesmo diante da mais dura realidade pode nascer um poema (e como eles nos comovem!). Para comemorar a data, selecionamos para você belíssimos poemas de alguns de nossos maiores poetas que certamente o farão ter vontade de revisitar a poesia também em outros dias, não apenas quando avisar o calendário. Dos primeiros românticos aos poetas contemporâneos, do Olimpo à pedra, do púlpito das igrejas à poesia social, dez poemas brasileiros para você ler, reler e contemplar. Boa leitura!

Cansaço

O NÁUFRAGO nadou por longas horas...
Na praia dorme frio num desmaio.
A força após a luta abandonou-o,
Do sol queimou-lhe a face ardente raio.
Pois eu sou como o nauta... Após a luta
Meu amor dorme lânguido no peito.
Cansado... talvez morto, dorme e dorme
Da indiferença no gelado leito.
Sobre as asas velozes a andorinha
Maneira se lançou nos puros ares...
Veio após o tufão... lutou debalde,
Mas em breve boiou por sobre os mares.
Eu sou como a andorinha... Ergui meu vôo
Sobre as asas gentis da fantasia.
A descrença nublou-me o céu da vida...
E a crença estrebuchou numa agonia.
Como as flores de estufa que emurchecem
Lembrando o céu azul do seu país,
Minha alma vai morrendo, suspirando
Por seus perdidos sonhos tão gentis.
E que durma ... E que durma ... ó virgem santa,
Que criou sempre pura a fantasia,
Só a ti é que eu quero que te sentes
Ao meu lado na última agonia.

Castro Alves

O menino doente
O menino dorme.

Para que o menino
Durma sossegado,
Sentada ao seu lado
A mãezinha canta:
— "Dodói, vai-te embora!
"Deixa o meu filhinho,
"Dorme . . . dorme . . . meu . . ."

Morta de fadiga,
Ela adormeceu.
Então, no ombro dela,
Um vulto de santa,
Na mesma cantiga,
Na mesma voz dela,
Se debruça e canta:
— "Dorme, meu amor.
"Dorme, meu benzinho . . . "

E o menino dorme.

Manuel Bandeira

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

Carlos Drummond de Andrade

A Educação pela Pedra

Uma educação pela pedra: por lições;
Para aprender da pedra, frequentá-la;
Captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
Ao que flui e a fluir, a ser maleada;
A de poética, sua carnadura concreta;
A de economia, seu adensar-se compacta:
Lições da pedra (de fora para dentro,
Cartilha muda), para quem soletrá-la.

Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
E se lecionasse, não ensinaria nada;
Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
Uma pedra de nascença, entranha a alma.

João Cabral de Melo Neto

"Dois e Dois são Quatro"

Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
E a tua pele, morena
como é azul o oceano
E a lagoa, serena

Como um tempo de alegria
Por trás do terror me acena
E a noite carrega o dia
No seu colo de açucena

- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena.

Ferreira Gullar

Via Láctea

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”

Olavo Bilac

É preciso não esquecer nada

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a ideia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.

Cecília Meireles

Canção do dia de sempre

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...

Mario Quintana

Bem no Fundo

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Paulo Leminski

Desilusão

Como a folha no vento pelo espaço
Eu sinto o coração aqui no peito,
De ilusão e de sonho já desfeito,
A bater e a pulsar com embaraço.

Se é de dia, vou indo passo a passo
Se é de noite, me estendo sobre o leito,
Para o mal incurável não há jeito,
É sem cura que eu vejo o meu fracasso.

Do parnaso não vejo o belo monte,
Minha estrela brilhante no horizonte
Me negou o seu raio de esperança,

Tudo triste em meu ser se manifesta,
Nesta vida cansada só me resta
As saudades do tempo de criança.


Patativa do Assaré

Dueto da tarde (XCIII)



Dueto da tarde (XCIII)

Nada prática essa noite antipática que deixou minha empatia aperreada.
Praticou uma teoria de profunda nostalgia e depois, um tanto hipócrita, lembrou-me o juramento de Hipócrates.
Ela passou morosamente com a acrobática insônia “churrasqueira”, rolando o corpo de um lado para o outro e os olhos no relógio da cabeceira.
Marcação de tempo num compasso de agonia. Lentidão provocada pela sofreguidão: anda, anda, anda! Para onde?
Com o sol nascendo nascem olheiras, banho gelado, café e pão.
O sol nascer é outra história, inacreditável no meio da noite, quando parece que nunca mais vai haver sol.
Queria pesadelos, mortos puxando meu pé, tempestades de neve, chuvas de granizo; queria até o guizo da cobra ou o grunhido do porco, tudo se dormisse um pouco.
Com o sol nascendo, morrem os mortos que a noite não enterra, acendem-se luzes que a noite desconhece. 
A vida outra vez brota bela e pede o abrir das janelas não se importando com os fantasmas notívagos.
Janelas abertas, fantasmas livres para voar. E voam. Pena que não voltem só para contar suas aventuras quando a noite cai e as janelas fecham.
Tudo prático nesse dia fantástico que deixa minha empatia entusiasmada.
Entrego ao coração elástico o que há de plástico no que parece tão de aço no cansaço e, barba feita, preparo a colheita.

Rogério Camargo e André Anlub
(14/3/15)

Árvore de Josué



Árvore de Josué
(18/10/12)

Isolado no deserto, na sombra da grande árvore de Josué,
Escrevo alguns singelos rabiscos líricos...
Com o pensamento em nossa casa, lá, distante,
Em nossos cães correndo, deselegantes...
Vindo de encontro a você.

Por um instante a alma estacionada aqui se eleva
- Não há treva nem angústia.
Sinto meu corpo a acompanhar
Por dentro de memórias - sublimes histórias.

Sentindo o belo em todos e em tudo,
Caminhando na chuva por cima de um arco-íris sem cor,
Surdo para qualquer som absurdo...
Um banho de chuva e de glória.

Estou no alto e vejo-me pequenino sentado,
Estendo as mãos e solto um dilúvio de letras,
Estas se unem formando versos - eles se casam como uma bola de neve...
Banham meu corpo deixando-me ainda mais extasiado.

São dois de mim que se completam,
Ilustrei para expor como me sinto;
O porre de absinto de inspiração
Fez banho de chuva no verão.

13 de março de 2015

Gurufim


Gurufim
(André Anlub - 6/5/14)

Principiou-se o gurufim do fim das horas,
E príncipes negros, índios e gurus
Aplaudem fora.

Já foi tido o caminho com trilhas fáceis
E tão hábeis são ditos sábios ao atravessá-las.

Leram em pergaminhos com preconceitos,
O mito e o medo, a carne e o osso,
São peças frágeis.

Alguns quiseram viver em museus de idos tempos
E oprimindo seus inimigos se sentem bravos.

Lá no alto, bem no alto, da mais baixa montanha,
Avistaram o ser importante com sandálias velhas.
Descia lento e cantava baixo um antigo mantra,
Sentindo a brisa, notando o novo, suando o samba.

E caem as primeiras gotículas álgidas das chuvas,
De uma nuvem única que bailou com o sol
- Arriscando a luta.

Voaram as aves brancas, negras,
Pardas e as aves raras,
E ao se verem vivas e ralas 
– ao se verem importantes e análogas...
Tornaram-se plumas.

O respeito alcança seu ápice quando compartilhado.

Bloquinho de papel de pão



Bloquinho de papel de pão
(André Anlub - 22/3/14)

Viagens na forma e na cor,
De contornos vê-se a alvura das nuvens 
E o livre leve nacarado da flor.

Esparramando nas entranhas,
Eis entranhas que fulgem:
De paixão e luz tamanhas
Que aqui e ali nomeamos de amor.

Sonhos que voam e pousam num flash,
Longínquas dimensões são transpostas
Nos pífanos porretas do agreste.

Segurando um ínfimo lápis mal apontado,
Com a borracha aos pedaços no outro extremo
- Desenha a clave de sol - escreve um belo soneto
Num papel de pão amarelado.

Dueto da tarde (XCII)



Dueto da tarde (XCII) 

Paisagem de passagem. Todos estão, ninguém está. Perene eternidade efêmera...
É fêmea, é a mãe natureza que sempre marca presença em mim... mas quero mais.
O mais que eu quero me diminui, talvez. Porque já está tudo ali. E tudo aqui já está.
Serei ganancioso? – não! – sou apenas um ser ansioso em busca de escopos para continuar feliz e respirando.
Felicidade também é perene eternidade efêmera. Está e já não está. Pousa nas mãos e ainda está solta no ar com as andorinhas. Mas respiro.
Veio um ar mais frio em navalha; veio uma chuva em ventania, dando alento e alimento aos rios e mares e colocando mais melancolia no meu bucólico dia.
Tristeza de cortar com a faca? Não sei. Até isso é talvez. E faz parte da paisagem de passagem. Logo estarei rindo. Depois rindo de ter estado rindo.
As plantas já me olham sorrindo; as nuvens já pintam alegria em degrade de preto, branco e cinza; o João de Barro limpa os pés no tapete de entrada da sua casa e entra, não antes de me olhar com olhar afortunado.
Paisagem de passagem. Do branco para o preto. Do preto para o branco. Do não sei para o continuo não sabendo.
Tudo bucolicamente enamorado, mas eu sem a amada. No jardim, nos rios e na janela sorrio o amor do passado.
Amar o amor até que amo. Mas perco meu tempo querendo saber se o amor me ama. 
É a passagem da paisagem e é minha vida em evidências – nos ventos, nas chuvas, nos pássaros, no efêmero... todas as coisas que invento/desinvento para continuar amando/amado.

Rogério Camargo e André Anlub
(13/3/15)

Politicagem




Politicagem 2010 (do livro “Poeteideser”)
(Música originalmente escrita em 2004)

Se liga que vou te contar agora
Como acontece essa triste história:
O lado mais pobre um trabalho árduo
E o outro lado representa a escória.

Uns morrem de fome numa fila,
Outros compram porcelana;
Uns se perdem da família,
Outros brigam por herança.

Viver com dividas não é vantagem
Você é quem paga essa politicagem.

É vereador, deputado, senador ou presidente.
E o povo está doente – está sem dente – está demente.

Politicagem os babacas e as bobagens.
Cara de pau, ipê, jacarandá...
Até onde essa zona vai parar.

Pra tudo ele tem resposta
Sempre uma proposta
Sem jeito, indecorosa.

Sobe em um palanque:
- um terno, uma gravata,
Com um sorriso
Preparando a mamata.

Estende as mãos
Estende os braços
Desfaz-se em pedaços
Tudo vai resolver.

O mundo ficar quadrado
O inferno, congelado
É só ele prometer.

Já sabem de quem eu falo?
Mas é melhor, eu me calo
Se não, vão me prender.

Vou indo sem rumo sem graça
Andando por toda praça
Até desaparecer.

Viver com dividas não é vantagem
Você é quem paga essa politicagem.

É vereador, deputado, senador ou presidente.
E o povo está doente – está sem dente – está demente.

Politicagem os babacas e as bobagens.
Cara de pau, ipê, jacarandá.
Até onde essa zona vai parar.

Num pais que reina a violência,
O governo uma indecência;
Discursos sem coerência
Sem jeito nem vontade de mudar.

Vai chegando à época
Aparece a solução
Para fome, os buracos, o transito...
É eleição!

- Aumento de salário, 
- Acabar com as filas
- Escolas para as crianças...
É ilusão para as famílias.

Invadem os rádios, os postes e a tv,
Depois o sujo (o porco) é você.

Enganam o povo, falam mentira,
Estão loucos pra mudar lá pra Brasília.

Mas essa história não termina aqui,
Sem um emprego virando faquir.
Faça uma greve, vá para as ruas,
Saia da lama...
A escolha é sua.

E assim levamos a vida,
Abrindo e fechando a ferida,
Lutando pra isso acabar...

Durmo assustado também,
Rezando esperando alguém,
Pra tudo melhorar, amém.

12 de março de 2015

Pássaro do meu Eu



Pássaro do meu Eu

Vai sem pressa à mesa – mas com firmeza, ao menos dessa vez.
Os pássaros estão inquietos:
O beija-flor parou seu beijo e ficou inerte, de butuca na sobremesa;
O Pintassilgo pinta a selva e voa.
Não há necessidade, tampouco idade, para se buscar ternura;
Há sim o sol escasso, pois morre um pouquinho todos os dias, 
Mas não perde as vigílias, mesmo lá ao longe no espaço.

Vem com pressa, pois há a recompensa que não condensa aos olhos da Condessa;
Eis os muitos sensatos planos, pois não são de roubos a bancos...
São planos no âmbito das paixões insanas, nas conjecturas sanhas,
Que recentemente e sempre falta/faltou coragem de um Eu que impeça.

Quer ter coragem para encarar o meu medo, é simples:
Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa;
Sou aquele pássaro que escapa da gaiola
E por dentro sai cantarolando “Wild Horses” dos Stones,
Mas pelo bico sai meu canto de ave mesmo;
É aquele animal em extinção que anda na lenha, no lema e na linha...
Aquele “ex-tição” que ganha brilho; é tal que tem tal de compaixão,
E com paixão põe à mesa e assopra as quarenta e quatro velinhas.

André Anlub
(28/1/15)

LUTO NO ÔNIBUS


Diario de Pernambuco
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LUTO NO ÔNIBUS
por Marcionila Teixeira/foto Alcione Ferreira

A comida começava a rarear em casa quando Jessé de Paula agarrou-se com força àquela oportunidade. Não era um trabalho dos sonhos de um violinista, mas ajudaria no sustento da casa modesta, em Rio Doce, na periferia de Olinda. A tarefa era aparentemente simples: venderia CDs e DVDs piratas nas ruas. Um dia, soube de um amigo preso por fazer o mesmo tipo de comércio ilegal. Amedrontado pela possibilidade de parar atrás das grades, afastou-se do bico. De um dia para o outro, estava novamente na mesma. Sem dinheiro, morando sozinho e sem qualquer horizonte de emprego pela frente. Jessé, o violinista, precisava de uma solução.

As sugestões vieram rápido, dos próprios amigos músicos. “Por que você não se apresenta nos ônibus?”, disseram. Jessé, que conhecia de música erudita, andava dedicando-se, na época, a ler e escrever canções da Música Popular Brasileira (MPB) no J. Duo, dupla instrumental de violino e violão que fazia com o músico Jau Melo. Convencido de que a ideia poderia dar certo, montou um repertório de MPB, colocou o violino no braço, junto com o aprendizado obtido no Centro de Educação Musical de Olinda (Cemo) e no Conservatório Pernambucano de Música, e seguiu em busca de paradas de ônibus que o fizessem melhorar de vida.

Pouco a pouco, o jovem reuniu dinheiro suficiente para pagar o aluguel de um lugar melhor e até a prestação de uma moto. Os passageiros gostavam da atração inusitada. Até nas horas em que os motoristas tentavam barrar a entrada do músico, havia quem o defendesse entre os bancos desconfortáveis dos coletivos.

Nascido em Rio Doce, Jessé conheceu o universo da música nas igrejas evangélicas do bairro, ainda criança. A avó e a mãe bancaram a arte da música para o jovem. Uma suposta guinada na carreira aconteceu depois de Jessé suar muito nos coletivos. Decidiu, um dia, apostar em uma apresentação surpresa na frente da casa de Ariano Suassuna, em Casa Forte, no Recife. Deu certo. O mestre paraibano convidou Jessé para entrar na residência famosa e até o contratou para algumas apresentações nas aulas-espetáculo. O cachê foi dos melhores que já havia conquistado na vida.

Jessé imaginava que estava mais perto do estrelato e distante do anonimato dos ônibus. Não era bem assim. Chegou a se apresentar no Janeiro de Grandes Espetáculos, com a banda Armorial Rock, um trabalho autoral, e no carnaval de Olinda, em 2013. Ganhou matérias em jornais e televisões. A carreira que parecia desabrochar para um maior reconhecimento, voltou a ser levada nos ônibus. Ultimamente, dizem que ele buscava o metrô como palco. Coisas da vida de artista, que parece ter mais altos e baixos que qualquer outro profissional.
O violino de Jessé silenciou para sempre no seu último cenário de apresentação. Depois do músico ser atingido por uma composição de metrô, na Estação Largo da Paz, e cair morto, o instrumento foi recolhido por funcionários do metrô. Testemunhas disseram que Jessé estaria tentando pegar um dinheiro que havia caído além da faixa de segurança. Outras afirmaram que ele estava de costas ou mexendo no celular. As câmeras da CBTU apontaram que a última hipótese era a correta. O músico morava em Porto de Galinhas, em Ipojuca, e pegava o metrô para vir ao Recife.

O delegado de Afogados, Humberto Ramos, abriu um inquérito para apurar o ocorrido. Hoje pedirá as imagens da câmara do metrô e dará início à intimação do condutor do vagão e das testemunhas. A princípio, analisa, teria sido um acidente, mas nenhuma hipótese está descartada, mesmo a de suicídio. 
Jessé, dizem os amigos músicos, tinha um extraordinário talento no violino. Nos ônibus, no entanto, lançava sempre o bordão de que estava naquelas condições para ajudar a mãe e porque não havia abertura de concurso para músicos no Recife. Jessé, em tese, poderia estar tocando em uma orquestra sinfônica ou em uma Banda da Cidade do Recife, por exemplo. Mas qual o espaço adequado quando falamos de atingir as pessoas com a música? O violinista levou sua arte embora em meio a um acidente trágico, exatamente por conta da forma que escolheu para tocar sua música. Mas não sem deixar um traço de pioneirismo em centenas de viagens realizadas no transporte público da Região Metropolitana. O metrô e os ônibus não serão os mesmos sem Jessé.

*Colaborou Alice de Souza

Leia outras edições do Em Foco no blog Direto da Redação: http://blogs.diariodepernambuco.com.br/diretodaredacao/
ALGUNS MINICONTOS

Abre os braços para a vida e dentro deles vê cair toda uma alegria que julgava perdida. Parece piegas. Mas se você fosse ele, saberia o quanto é verdade.


Pai muito orgulhoso de seu filho. Filho muito orgulhoso de seu pai. Observador isento sorrindo muito levemente do que há de ingênuo e do que há de inocente em tanto orgulho.


- É um jogo de paciência, nada mais que um jogo de paciência.
- E quem é que perde, quem se irrita com ele?


- Ele tem dinheiro?
- Não. Mas tem uma cara de pau infinita.
- É um ótimo capital inicial, sem dúvida.


O Para Que encontrou o Por Isso meio deprimido, caidão, quase a chorar encostado num poste. Fez um gesto de aproximação, mas no olhar que recebeu de volta viu que de nada adiantaria. Levou sua pergunta básica mais adiante, então.


Kaspa Milina era alegre como a brisa tocando o parreiral e fazendo músicas singelas nas folhas. Era alegre como um cavalo novo solto no campo com liberdade. Era alegre como um pássaro descobrindo a vida. Então Kaspa Milina descobriu a vida. E precisou encontrar espaço para mais coisas além da alegria.


- Me alcança um pouco de fé?
- Só tenho para mim.
- Poxa, como você é egoísta!


A delícia modesta ficou toda satisfeita de poder comemorar seu estado de espírito em silêncio quase religioso. A delícia arrogante quase bateu nela por isso.


- O que aconteceu com Arvilina?
- Quem é Arvilina?
- Você não conhece Arvilina? Já vi então que algo muito grave aconteceu com ela...


O sucesso estava fazendo um mal muito grande a Kovutto. Mas Kovutto não via isso. Kovutto não podia ver isso porque estava totalmente dedicado a fazer sucesso.


- Se é ela mesmo eu não sei -  dizia Capolígio, com um sorriso que ia do leste ao oeste. – Mas seria ótimo que continuasse sendo, mesmo que não seja.
Alguma coisa estava dando muito certo para Capolígio. Podia até ser a coisa errada, mas estava dando muito certo.


Proclávio deixou um abraço para Morvina. O abraço que Proclávio deixou para Morvina caiu na terra fértil do jardim, germinou, cresceu como uma frondosa árvore - que Morvina chamou de Proclávio e à sombra da qual recebe o amigo de toda vez que ela vem abraçá-la.


- Olha só, amor, que bonitinho.
- O que é isso?
- Não sei. Mas não é bonitinho?
- E o que você vai fazer com isso?
- Ainda não sei. Por enquanto só sei que é bonitinho. Não é?


Juntou a estrela caída com tanto cuidado que ouviu dela: Não estou enferma, só estou caída...



Mespalínio refugiava-se em historinhas. Historinhas que Mespalínio criava para recriar situações ruins e nelas sair-se bem. Porque nas reais ele não confiava em si mesmo. Sempre se via como um fracassado. Em suas invenções, era um vencedor. Ali ninguém podia com ele. A não ser quando inventava uma historinha em que também se dava mal. Nesses momentos ele não tinha para onde ir e até a realidade seria preferível.

ROGÉRIO CAMARGO 

Dueto da tarde (XCI)



Dueto da tarde (XCI)

“A mão abriu o portão e os olhos brilharam se ensopando de lágrimas...”. Essa foi a última linha do livro que lia.
Identificou-se com o texto. Era uma chegada com gosto de partida. Tudo se partira. Tudo não seria mais como devia ser.
Aquele amor foi-se há muitos verões tórridos, faz tempo e o calor ficou para trás. O que se carregou foi a conveniência, o que se alimentou foi mágoa.
Havia costurado seus abismos com linha frágil. O livro reabriu tudo. Era preciso por os pés na ferida, atravessá-la caminhando.
Reacendeu sua força, rescindiu sua forca; abriu com facão um clarão na brenha sombria e perigosa, colocou a mochila nas costas e se foi.
Antes de ir olhou bem se o livro ficava. Não queria relê-lo. No prelo tinha outro conteúdo: tudo que não tinha de si e precisava ter.
O livro encanecido de capa já socada e as páginas amareladas havia de tornar-se novo com a simples ausência do último leitor; será assim e vem sendo assim há séculos.
Ela queria ler-se. Atentamente. Então deixaria os livros em casa. Ela queria atravessar-se. Totalmente. Então deixaria a segurança em casa.
Na chaminé ainda escapava a fumaça quando a casa abandonada foi achada por um andarilho, um mendigo do mato, na procura de comida, água e abrigo.
Ele entrou, fartou-se, foi embora. Ela saiu, fartou-se, retornou. Rever-se em casa foi como reencontrar um velho livro bom.
“A mão fechou o portão e os olhos brilharam de felicidade, pois ia conhecer um novo mundo...”. Essa foi a primeira linha do novo livro que lia.
E o bom da leitura boa é que não teria fim: a vida é um livro o tempo todo e ela aprendera a ler o tempo todo.

Rogério Camargo e André Anlub
(12/3/15)

Parabéns Recife e Olinda

Cidades irmãs programam shows, corte de bolo e cortejos para festejar os 480 e 478 anos, respectivamente.


Gosto demais de Pernambuco
De Recife, Olinda, Porto de Galinhas, Caruaru...
Gosto de sarapatel, praia, carambola,
Ver o Sport jogar bola,
Comer carne de sol e sururu;
E mesmo vivendo no belo Ceará,
A distancia não é mal que há!
Por incrível que pareça
Antes que eu me esqueça,
Vejam que incrível:
Estou a um passo de Pernambuco,
e cem mil de Fortaleza...
Como é possível?

André Anlub®
(22/3/14)

11 de março de 2015

Dueto da tarde (XC)



Dueto da tarde (XC)

Era fácil perceber que estava errado. Mas era muito difícil perceber que estava errado.
Num não vai e fica da teimosia, na tatuagem da teimosia que teima em teimar que vai ficar.
A questão não era só questionar, a discussão não era só discutir, o debate não era só debater e o silêncio não era só calar a boca.
A pergunta rodopiava no furacão de seu mundo, e ao fundo dava para ver o esboço da resposta embaçado e em um imenso anagrama.
Indisposto a cambalhotas retóricas mas embaçado nas lentes da percepção objetiva, tirava a viola do saco e tocava.
No redemoinho as notas musicais subiam e giravam em projeções cônicas e iam desfazendo-o como mágica; depois caiam em chuvas tépidas de melodias harmônicas.
Era bonito. Mas ser bonito não é tudo. Como perceber que está errado não é tudo. Por isso ele só tocava, sem cantar.
A chuva por sua vez encharcou o solo e fez brotar célere uma grande árvore que a sua frente apresentou-lhe um fruto com a resposta escrita, novamente... mas dessa vez sem embaçado e anagrama.
Então, era fácil perceber que estava errado. E era difícil perceber que estava errado. Porque o fruto não se colheria sozinho.
Mas há um porém nos poréns: o fruto era verde aos seus olhos e gosto. Isso pôde perceber. Escolheu tocar a viola, voltar outro dia e colhê-lo maduro, ou mesmo podre no chão.

Rogério Camargo e André Anlub
(11/3/15)

Ode ao Louco varrendo


Debora Nascimento por azdsdn

Ode ao Louco varrendo
(André Anlub - 28/6/12)

- Sente na carne o estrago que a trincheira do corpo
Deixa passar;
Flecha que não era bem quista
- disritmia foi-se a bailar
Casco inquebrável,
Por vezes tentado a traições.

Entre o espírito luzidio e a aura,
Há um fulgor de Foucault mais forte;
Persevera a bondade do antes e do agora
Ser altruísta de cumplicidade
Afortunada e contínua:

Mostra com clareza, destreza e simploriamente os “nortes”.

A altivez tem tratamento
(seja por vezes até o suicídio)
Segurando forte em uma mão a vida moribunda
E na outra mão a morte.
(acalento que soa sem perigo)

Suspenso pelo pescoço,
Com as canelas ao vento
No abismo vê-se de culpa isento
(dor e remorso)

Dimanem sacrifícios?
- Não, chega de ignorância!

É um louco varrendo...

II
Não é adulto e nunca quis ser:
Devia dedicar sua vida a cuidar dos filhos;
Devia tentar exterminar todo o mal do mundo;
Deviam ver o verde e não amar o amarelo
E pintar na mente todas as rosas de rosa.

Não é ninguém além de um louco
Querer ação é fazer por onde...
Nesse caso é errado se contentar com pouco
E sendo louco acha pouco querer só atenção.

III
Caminhamos como poetas novos, largando a soberba, o estorvo, no fluxo de um novo povo e nosso suor que não amarga. O alvo é claramente certo, de peito escancaradamente aberto, o coração de um bardo onde o esquecimento é adaga.

IV
Um pesadelo muito incomum, andando no terreno do capeta, não existia uma só letra, sem poesia, sem alento; tentava achar rimas corretas, palavras abertas voando sem vento sem dono... um tormento para o poeta, Rei sem Rainha e trono. Os pensamentos não se encaixavam, quebra cabeça faltando peça, uma remessa de contra tempo, um contra tempo sem muita pressa. Mas logo me vi de olhos abertos e muito espertos de inspiração, não quero mais sonhos incertos, quero viver plena imaginação.

Dos Outonos




Tão célere vai passando o ano que já deu sinal na retina: o outono, descendo a colina.

Dos Outonos
(André Anlub - 10/10/12)

Já é outono...
Já é beleza.

Natureza com realeza e seus adereços,
E o endereço com a maior certeza
É não esquentar cabeça com nenhum transtorno.

Há uma cidade com um parque no centro...
Não é o Central Park!

O amarelo e o carmim abrem o caminho,
E mesmo sozinho nunca me perco.

Há uma casa com uma árvore muito cheia,
No outono ela emagrece,
Fica mais bela!

Pela janela
Estupefatos,
Todos emudecem...

E contemplando perguntam aos quatro ventos:
- merecemos viver essa loucura?

Já é outono...
É formosura.

No Silêncio do Nada (Por nada não)



No Silêncio do Nada (Por nada não)
(André Anlub - 3/8/10)

Escrever é expressão, é dar pressão e se exceder.
É no viver levar o mesmo com mais emoção.

Aos que temem a caneta:
Fiquem imbuídos de lançar a flecha
E terão a certeza de acertar pelo menos um coração.

Os pensamentos são mutáveis,
Assim como a inspiração.
Variam conforme o dia, o clima,
Moldam-se de acordo com o humor,
Com a razão e a dor.

Por isso, ninguém jamais poderá mudar a escrita!
Ela, por si só, já é mutante.
Isso que a torna sempre viva
E deveras interessante.

O renascer a cada segundo faz-nos pensar em Coisas novas – novos temas.
Migramos de um ser com o âmago quase Moribundo, para aquele que ilumina com sons, Artes e poemas.

Faço essas anotações num domingo, madrugada,
Flagro-me escrevendo com os olhos quase Fechando sob a luz da cabeceira,
Dentro do silêncio do nada.

Pingos que caem ao chão,
Nuvens nublando o tempo que se arrasta
Em um céu total e ampliado (amor de irmão).

Ouço sons que outrora eram de pássaros,
Vejo rastros de coloridos animais
Voando entre suas pernas e braços
Aquecimentos e afeições (amor de mãe).

Na infância maravilhosa pulando cordas,
Nas bordas das encostas crio asas
E palavras e desculpas inexistem...

Bordões escritos em ovos fritos,
Suas surdas calúnias de salto alto
Atravessam a avenida em um domingo.

Pelos sorrisos de crianças 
Que nunca se perdem, semblante belo,
Imponente e irrestrito (amor de filho).

Invadi o campo inimigo, 
fui render e ser rendido sem a menor cerimonia, 
sem medo do sentimento, 
Sem convite e sem umbigo.

As veias não mais enferrujam! 
O óleo quente e doce do sangue passeia 
dando Alimento ao corpo, dando luz à vida...
Adoçando a alma.

10 de março de 2015

Sol do teu amor



Toda a paz do mundo em gotas de chuva
Amor em plena abundância
Renovada a fé e a esperança
Saúde dando aos montes em cachos de uva.

André Anlub®

Dueto da tarde (LXXXIX)



Dueto da tarde (LXXXIX)

Há tempos não se sentia gente, real, verdadeiro; de sua boca saíam vocábulos de dispersos devaneios e de suas mãos malemolências em enleios.
Tudo muito viscoso. Tinha caído num barril de cola. Ou de gelatina. Ou de gelatina colante. Não conseguia ir adiante.
No seu mundo pegajoso ainda havia espaço para mais viscosidade. Bebeu um litro de vodca e saiu seco, sedento e suado peregrinando azoinado pelas zonas da sua cidade.
Caçando seus defeitos, não percebia o maior deles: não olhar para a direção correta. Linha reta para o abismo.
Mas ainda restava um otimismo: ser ele mesmo –, inimigo mais íntimo.
Não estava inventando a pólvora, embora usasse mal o canhão. Pé no chão era tudo de que precisava. Mas voava.
Subia geralmente longe e alto além das nuvens, e nas alturas achava seus defeitos. Ao descer, ao retornar esquecia que os encontrara e começava todo o ciclo novamente.
Isso até encontrar o amor de sua vida. Quando encontrou o amor de sua vida, continuou fazendo a mesma coisa – mas estava amando.
Agora podia voar pousado e pausado, organizar-se com a sobra, dividindo a árdua empreitada de cavar e depois adornar sua gélida cova.

Rogerio Camargo e André Anlub
(10/3/15)

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.