1 de março de 2015

Dos desafios



Dos desafios
(André Anlub - 2/8/12)

Sentinelas do mais profundo amor, vejo pela janela as folhas e pétalas que caem pintando o chão... 
formam os tapetes dos amantes, síntese da emoção de todos os seres vivos.
Já tentei deixar de ser romântico, ver o mundo em branco e preto, lavar bem lavado meu despeito e organizar minha semântica.
Pego a massa e faço o pão, uso a farinha que vem do trigo;
Existe aqui dentro um insano coração que se materializou tão somente por você.
Vai dizer que me embriago por não tê-la, sons antigos na vitrola e deito-me em posição fetal... estou fraco para o viral e depressões e forte para construir minhas teias.
Em absoluto desafio... quero ser chefe dos meus desatinos
levantando e regressando à caminhada, vestindo minhas melhores roupas e colocando meus anéis...
(fazendo o que sei fazer de melhor).

Dueto da tarde (LXXX)



Dueto da tarde (LXXX)

A lembrança mais querida de uma infância muito feliz bateu à porta,
Tempos de rodas de ciranda, rodas de bicicletas, rodas de leitura e a vida rodou na estrada.
A porta abre para a lembrança e para o que a lembrança não tem nem pode ter:
Rebobinar a fita e viver tudo novamente – claramente – calmamente – em HD.
Pela porta aberta o que entra, com pantufas de melancolia e passos nostálgicos vai em busca de um abraço e acaba achando a ironia, os braços ocupados no futuro, segurando a nova vida.
Suspira, abre a geladeira, pega uma cerveja, pensa em guaraná, em coca light, em fanta uva, dá um sorriso torto e deixa cair uma faca dos dentes. Faca? Lembra-se de que não sabe como surgiu ali, de onde veio, não sabe seu nome, nem o início – o fim, nem ao certo o meio.
A faca quase atinge seu pé. Cai cravada rente. Não há nenhuma lembrança igual, nem parecida, entre as lembranças mais queridas de uma infância muito feliz.
A loucura sobe à mente e novamente a faca volta aos dentes; há controvérsia em seus pensamentos e há indiferença em seus esquecimentos. Sem saber o que fazer: ajoelha, reza, chora e sente.
Sente e ressente-se. Senta-se, levanta. Levanta, senta. Tenta outra coisa. Não consegue. Pensa em usar a faca para cortar os pulsos. Mas vê que ela pode ter outra utilidade:
Corta um peixe, tempera, acende o forno e espera... enquanto isso abraça sua criatividade, pois seja qual for sua idade, em seu sonho – sua mentira – sua verdade,  ela sempre impera.

Rogério Camargo e André Anlub
(1/3/15)

Por onde andei? - oficina de lirismo do Balcão de Poemas

Mais uma vez entre os amigos da NOP - http://inspiraturasbooks.blogspot.com.br/2015/03/por-onde-andei-oficina-de-lirismo-do.html

Das lágrimas



Das lágrimas
(André Anlub - 24/5/14)

Preciso de versos certos
De encaixes precisos,
Que construam uma obra prima
Da mais bela e enigmática.

Preciso da ideia no foco,
Estar sedento e famélico,
Lutando contra o branco do vazio
Sem armas ou mapas,
Sem asas endurecidas
Ou velas furadas.

Quero ouvir a verve gritando
Ao mundo, ao pouco,
Como louca rara
Que absorve a vida aos poucos.

Preciso da sua leitura
De corpo nu em noite tão escura
Que nem as estrelas deram as caras.

Preciso do deleitar dos olhos vexados,
Umedecendo e emudecendo,
Abertos, fechados,
Deixando cair suas lágrimas.

Rio 40° - 450 anos

28 de fevereiro de 2015

Ponderações



- Tenho mente clara e aberta, alma e aura brancas e corretas, ninguém me desbanca. Não importa a cor da minha casca, sempre serei “camaleoa”; não me avalie, gosto de pessoas raras que não existem à toa.

- A vida é muito curta para entre uma rotina e outra ficarmos preocupados com hábitos rotineiros.

- Não vim ao mundo para durar; quem dura é pilha de marca e conselho de avó; vim ao mundo para fazer o que gosto, ser feliz e ter qualidade de vida à minha maneira. Vivo sem me preocupar com o tempo de estadia. 

André Anlub

Dueto da tarde (LXXIX)



Dueto da tarde (LXXIX)

Cavalo selvagem procurando o vento da liberdade na liberdade do vento.
Campos verdes em ares puros tendem à sensação inócua de nada ocorrendo.
Nada ocorre mas tudo corre: as patas do ansioso devoram o chão de pedras, o chão de lama, qualquer chão.
No agito da passagem a calmaria afoga-se, o fogo envolve a cena da vida e enfoca-se no céu o pleno escarcéu.
As narinas nervosas perscruta: há sempre um mais além que pode ser o definitivo. Correr a ele, pois.
E o galopar antes e depois, ontem e hoje: há sempre a necessitada marchada, com a parada, descanso, sono e sonho.
A dança das crinas no ritmo irregular e nos beijos do vento cortante chega a seu corpo como uma carícia áspera.
Num relance saí da várzea um laço errante de moléstia e desatino, que se lança em alvoroço ao alvo no pescoço do equino.
Coisas do destino. Num desatino, ele quer ainda galopar, ginete dono de si mesmo, bebendo espaços com a força dos músculos jovens.
Mas o laço laça-lhe a pretensão, amarra-lhe a ousadia e ele sucumbe ao desleixo do homem mundano em desengano, tentando domar o mundo quando não doma nem a si mesmo.

Rogério Camargo e André Anlub
(28/2/15)

Da arte


Engatinho na escrita e na arte, feito criança sapeca, levada; 
vou de encontro ao bolo ou a bola, entro de sola; 
mergulho no sonho totalmente cego e sem ego, sem pretensão de ser nada.
Lá no final de tudo, onde o grito é mudo, quem sobrevive é o talento.

Da arte
(20/3/12)

Primeiro marquei meu horizonte
Em um traço negro em declínio,
Deixo a inspiração fazer domínio
E depois me embriago na fonte.

Pintores são fantoches e fetiches,
Sobem em nuvens, caem em piches;
Respiram a mercê de sua cria,
Bucólicos profetas à revelia.

Tudo podem e nada é temível,
Nem mesmo perderem o dom,
Sabem o quão infinito é o tom.

Seus corações de loucos palpitam
E no cerne que eles habitam
Saem às cores do anseio invisível.

A arte é muito além do coerente, é avesso e infinito, 
é forma ou desforma; 
a arte não se envolve com quaisquer opiniões, 
existirá de qualquer forma.

27 de fevereiro de 2015

Dueto da tarde (LXXVIII)



Dueto da tarde (LXXVIII)

Vem chegando o outono, com ares de galã, trazendo frutos, florindo caminhos e convidando à caminhada pela manhã. 
Se eu precisasse ter uma estação preferida, seria o outono. Ele e sua cor de vida mais vida, mais colorida. 
Voo alto e torno-me laranja, vermelho, amarelo e muito marrom. Torno-me bom em entornar-me no tom. 
Se eu pudesse beber uma estação até encharcar-me dela bem mais do que o mais encachaçado bêbado, seria o outono. 
Ele é meu dono, meu trono no bônus das estações. O que eu falar é pouco, é parco, é especulação. 
Se eu pudesse comer uma estação até ficar com o estômago dilatado, seria o outono. Ele e o seu sabor de eternidade instantânea. 
Agora voo baixo e torno-me eu mesmo em preto e branco - humano e sonhador. Torno-me na língua o sabor do que saboreio e às estações apenas os olhos no entremeio. 
Se eu pudesse vestir uma estação até nunca mais sentir frio ou calor ou alergias ou asperezas ou qualquer coisa que não fosse a certeza de estar agasalhado em beleza pura, seria... Bem, seria. Ainda não é. O outono ainda não chegou.

Rogério Camargo e André Anlub 
(27/2/15)
Leonard Nimoy, o Spock, se foi! Marcou minha época! (minha singela homenagem) - 


Hospício



Hospício (do livro “Poeteideser”)
(André Anlub - 23/7/09)

Salientaram no hospício
Ninguém iria comer
Injeções na testa...
Mais que um sacrifício.

Uma doutrina errada,
Condições terríveis,
Faces amarguradas...
Pessoas mais que sensíveis.

Não tinham valor algum,
Exclusos da sociedade,
Pessoas novas e de idade...
Somavam um mais um.

Indigentes, obscenos
Cenas do dia a dia,
Pretos, brancos, morenos...
Sujeitos à revelia.

Desprezados pela verdadeira família,
Inúteis sem poder reciclar,
Cães expulso da matilha...
Sem ter mais em quem amamentar.

Aos montes iam se definhando,
Em um frenético vai e vem,
Homens mortos andando...
Passos calmos pro além.

Despedida (I – XII)

(André Anlub – 2014/15)

De tudo que foi vulto, agora é muito o que é céu, e é seu, e é meu, que me cerca e cega – num todo! Caço tumulto, e acho, porém não gosto mas finjo que gosto e me enrosco (chega a ser tosco). Vejo verdade e abraço; vejo regaço, trago no laço; procuro calmaria: amizade de João; desenho de Maria (um dia foi fosco) – num nada! De tudo que foi concreto, continua sendo, continua a sede da procura; achando miragem viu-se correto, beijou o insano, do assanho foi/é primário – aquele dia foi pouco – qualquer dia é pouco; vejo o que vejo, já basta; vejo o que resta do festejo; preparo asas para a travessia, e já que não podia, acabei não sendo (foi até muito) – nu tolo! Dia cheio, dia quente, dia rente, muita gente na frieza em Paris (qu'est-ce que c'est?), fanatismo, “marquetismo”, dedo em riste; bala, vala – boletim, infeliz. É cá e lá; é diz que não diz, é borogodó balangadã, é melhor inquietar o tantan. Aqui de repente à esperança, trem bala do tempo, o sol belo na varanda, cedro puro e o verniz. O coração faz cálculos no abracadabra das horas; lubrifiquei minhas dobras, ensopei minhas válvulas; beijos soltos na terra, céu e mar, afogando bem no fundo as intolerâncias; sou aquela ave que foge da gaiola e por dentro sai cantarolando Wild Horses dos Stones, mas pelo bico sai o canto mesmo; é aquele animal em extinção, que anda na lenha, no lema, na linha; aquele “ex-tição” que ganha lume; é tal que tem tal de compaixão e com paixão põe à mesa e na sobremesa assopra as quarenta e quatro velinhas. Somos um só, somos complementos: imaginação e momento, arco, flecha e arqueiro; temos um amigo: o mundo; temos o reduto: a escrita; o vagabundo passa ser somente vago, e o hábito de conhecer a si mesmo é corriqueiro. O mundo canta ao toque da bateria, entra o ritmo em arritmia, então levanto e danço: “Mercy” de Dave Mathews; os pés se agitam e a mão trabalha no bloquinho: tinta, frase, crase, pinta – é a perturbadora calmaria, você quer que ria, talvez chore; quer que implore, obrigue: algo seja feito (mesmo de fininho). “Prefiro Toddy ao tédio”; é punk, só que (infelizmente) não; é a tal perseguição do silêncio (stalker), que vem, silencia – vai, silencia; lá ao longe: avião. O mundo se cala ao toque do botão, fones de ouvido descansam: caneta freneticamente eletrizada, o papel é namorado, e a amante é “inspiração”: caneta é “bi”, é tri, é tetra, é triatleta; ligo “Mercy” de novo (misericórdia), Dave é unanimidade. “Bucolicozidade” – O sol parou de lascar o beijo quente no asfalto, fim de tarde, mais um dia; ônibus passa, crianças voltam a brincar de bola, roupas voam em varais e levam o cheiro do café e pão frescos; pessoas passam com sacolas e o bucólico torna-se culminante; viajo no espaço por um instante, meu corpo suado – estafado – planeado quase que atravessa o país; o cheiro da minha casa penetra o nariz: fina flor que invento para a comodidade. As pernas hoje pediram longa rua, queriam andar, ver novos caminhos; sons se repetem, horas ecoam sozinhas, o tempo estaciona e me açoita nas nádegas; meus olhos buscam novos rostos, tristes ou alegres, mas novos. Amanhã tomarei coragem e irei à luta, sair novamente, quero rua. A perpendicularidade do raciocínio chega a desafiar a gravidade; nem sei a gravidade desse desafio, prefiro distrair minhas ideias, escrever; amanhã é outro dia, nova sexta-feira, e o tempo vai ter que mexer e me mexer. Foi dada a pausa no ponteiro dos segundos, é aquela noção de congelamento; senti-me voando num céu de brigadeiro, vendo formigas da cidade grande. O alerta foi dado ao público, nisso, nessa, nossa, “bola”; o amor pode estar parco, e não é desesperança, é realidade. Então façamos assim: mais afeto/abancar coragem, engraxar engrenagens, largar a flecha e o arco, pegar os rumos, pegar os remos e flores e abarcar e embarcar nos amores: “de quebra”, no majestoso barco. Tiraram a pausa do ponteiro, acabaram com o imbróglio, vou por meus pés na estrada. (a vida é curta quando é corte; a vida é longa quando é logo). Sábado de sol, de sola de sapato sendo gasta pelos amigos que passam e se vão, ao longo da rua. Sábado de poesia; acordei escrevendo, depois li um pouco; agora escrevo novamente; voltando algumas horas no tempo: essa noite fez um frio de inverno, acordei na madrugada em posição fetal e com uma estalactite no nariz. “Eta ferro”, me meti no frio da Serra; frio que me serra os ossos e quase gela meu sangue. Foi por um triz. Voltando ao tempo atual: almoço pronto, deixo meu “boa tarde” ao moço que passa (mais solas gastas); barulho de maquita cortando algo completa o som que ouço aqui: qual música? hoje deixarei à imaginação de quem lê. Indo adiante no tempo: em casa com os cães, meu salmão pronto, o mesmo som de agora, sol queimando a cachola, e ao tédio meu afronto. Preciso só imaginar e já sinto o cheiro de café, aquele fresco – novo – aquele meu; misturando-se ao perfume L’occitan que estou usando; vejo o céu limpo, ouço os cães distantes e os cães aqui também latem. Preciso só imaginar e já sinto o beijo... Ah, o som é Joni Mitchell, do disco Blue. Subiu a colina íngreme, audaz cabrito montês, fez seu filme na bravura, desenhou nas pedras a astúcia, onde passou com os seus fortes cascos. Penso na vida assim: às vezes desafios sem nexo que buscamos por aventura, por comodidades, por boemias; às vezes desafios concisos, extremamente necessários. A cena se fez diante dos meus olhos, talvez na importância da minha história; o homem atrás de sua glória, fugindo dos terrenos fiascos. um mortal louco subiu a montanha mais alta; talvez para outros olhos seja pouco, talvez para outros poucos sejam olhos; A cena se desfez em um instante com o toque do telefone; agora a questão já é outra, pintar de rosa o elefante. Desceu a montanha mais alta, a imaginação passageira; de dia a luz não faz falta, de noite trouxe à luz a parteira. A vida é assim: de repente a batucada do Olodum; de repete um “pam” e tchau. Foi nesse pensamento antigo que começou a abraçar excessos, nessa sensação de trem expresso que já vai chegar, já está chegando. Usava como sombras a boemia, nostalgia e a arruaça. Ontem ele era um pouco doido, hoje continua sendo, apenas segue fazendo um pouco menos de alvoroço. Foi cachorro louco, daqueles que despontam nas esquinas, com alma de menino e pensamento torto. Hoje ele é mais ponderado, muito mais “na dele”; hoje segue na trilha de trem Maria Fumaça, sentindo na alma e na pele o que deixou no passado. A vida é assim: de repente acaba o repente, acaba o velho e o novo, acaba a sobra e acaba o ouro. É nesse estouro que se vai um corpo: casca de ovo no galinheiro de um Deus. Cobiçando a luz do sol que passou pela porta e me deu um sorriso. Fui correr atrás, fui ao encontro do calor; desci pela rua feito a bola da pelada de domingo. E a chuva?  também amo, clamo e quero; gosto da água batendo no corpo e no rosto; gosto do gosto, do cheiro e do aspecto. Vai deixar lembrança; vai deixar vontade de voltar, curto o zelo; assim quem sabe eu volto em outro tempo (há esperança), no lamento em saudade, no aumento das panças e cair dos cabelos. Pego novamente minha espada (sempre fui eclético), sempre tive sorte; esqueço minha lança, deixo-a na estrada, mas só por empréstimo, deixo com São Jorge. (corpo e café – torrados e moídos) Hoje me sinto dentro da melodia “Rio quarenta graus”; mas quarenta só se for na sombra. A aura parece que quer deixar a carcaça e se perder na atmosfera; o sossego berra, a quietude é onipresente, mas “péra”... ouço o tilintar dos dentes, como se fossem lâminas de aço, saboreio a pera e o sumo resseca meus lábios. Meu lema para sair da lama é sorvete de lima-limão e um chá verde gelado. Estão bebendo cafés quando esfriam, vi gente saindo pela rua, pelado. Agora a aura quer ficar no corpo, um bom banho gelado; ao alto as audaciosas asas de Ícaro, há tempos derretidas, agora aparecem em nuvens, desenhadas; vejo o futuro, não vejo sempre muito boa coisa; há decepção, sempre há; há ressurreição, tem que haver; há de aparecer alguma ligeira solução nas poesias sinceras despontadas. Sai da melodia, penetrei no sigilo, já são bem mais de meio dia; entrei entre as almofadas e sorri para a nostalgia. Quando busca a inovação encontra o aconchego, não tem medo, e o mergulho é de cabeça; na sinceridade da devoção pelas letras, na fé na escrita, na aflição esquecida, morta, afogada na tinta, mergulha... e de cabeça. Solve a arte, respira até pirar, come a arte, sente, brinca, briga e se esbalda; balde de água fria, quando ele quer que seja; balde de água quente, quando ele quer que ferva. Na construção das linhas, ele sonha... é um gigante em solo de gigantes (é um ser igual). Nada é pequeno ou menos, mas ele é gigantesco; nada é estranho no pensamento sereno (a mente é sã). Criou algo mais do que o passo à frente, excedeu-se, ousou – usou e abusou; chegou a ser inconsequente... até achou que passou rente do perfeito (foi bem feito), pois assim tentará mais e mais, e irá tentar sempre; e aquele gigante, aquele ser igual? foi para terras inóspitas e foi jogar novas sementes, agarrar novidades e desbravar castos campos. E aquele cozinheiro? (sonhou e se levou) cozinhou pratos raros e fabricou azeites, adornou a mesa com belos enfeites, chamou parentes, chamou amigos, encarou os indigestos... assim tornou-se quase um guerreiro, escritor, amigo, artista, rico e mendigo, cozinheiro de banquetes, ritos e festas... tornou-se gente e verdadeiro.

26 de fevereiro de 2015

Dueto da tarde (LXXVII)



Dueto da tarde (LXXVII)

O escuro abriu a porta para a escuridão e ela dava para o que ele não queria ver,
Sentia-se acuado, queria seu corpo diáfano, queria o silêncio do espaço e somente do som o ínfimo traço – a voz de seu pai.
Vinha de longe, um eco distante da sensação de aconchego e proteção.
Onde estará a mão forte de pedreiro e a alma de guerreiro tentando construir e ajeitar o planeta num brado lúgubre de oposição?
O escuro não sabia responder. Mas abrira uma porta para a escuridão e, tropeçando, foi entrando no que não queria ver.
Sentiu-se no útero, em casa, no conforto; não havia contorno, aborto, suborno nem desgosto; sentiu-se bem-vindo, observado, nutrido e cuidado.
O medo que tinha era o medo de ter medo, então. O medo que tinha da porta fechada era o de abrir a porta.
Agora pode ouvir a voz pueril de seu pai, que foi criança um dia; agora pode sentir o carinho de sua mãe que cedeu espaço no seu corpo para sua estadia.
Lentamente escuridão vai sendo iluminada pelo sentimento de presença. Lentamente o medo dela percebe que não estar é que apavora.
Pode dar as costas, ir embora de encontro ao dia, mesmo sabendo que na luz feneceria; pode resgatar importâncias, calar-se ao atentar a infância e talvez sorrir aguardando com paciência um novo breu.

Rogério Camargo e André Anlub
(26/2/15)

O amor endossa, emboça e adoça a vida.



O  amor endossa, emboça e adoça a vida.

Me apaixonei num sonho
(André Anlub - 10/6/14)

Nenhuma noticia do juiz cruel
E seu dedo funesto e tremulante;
Nem por um instante,
E dou graças aos deuses,
Deu sinal.

E cabe quando, a qual, a quem afinal,
Vestir o corpo com a tez do pecado?
Eu não, e por enquanto sigo no não...
Não sou réu aqui, sou sonho,
Aqui sou o que, o qual, e quem quero.

É sim me apaixonei no sonho
E como ela é, não digo.
É sim, pois aqui nada é pecado,
Nada é mutilação, traição, tampouco mau gosto,
E não existe nada de oposto,
Nem mesmo a contradição.

Esse sonho não é feito para olhos alheios;
Até mesmo a escrita é em linha reta
Sem partida – chegada, sem meta,
Sem nem ao menos “os meios”...
(boa merda).

Mas qual graça teria ser e ter o perfeito em volta
Sem a vida às vezes em reviravoltas,
Sem solda nem fenda,
Sem pouco nem sobra,
Sem erro ou acerto? 
(boa bosta).

Corsário sem rum(o)



Corsário sem rum(o)
(André Anlub - 3/5/12)

No seu sorriso mais doce
Dá-me o sonhar acordado,
Nau agridoce ancorada
No porto seguro de um réu.

O cerne mais íntimo partilhado
Como alado cavalo ao vento,
Coice pra longe o tormento,
Traz na crina o loiro do mel.

Mil flores a pulsar na razão,
Vil dor e jamais compunção,
Cem cores permeiam na libido,
Sem rumo nem rum no tonel.

Pirata na dádiva do amor,
Com a bússola do autêntico anseio,
Nem proa, nem popa, nem meio,
Voando em direção ao seu céu.

25 de fevereiro de 2015

A cada passo um ar mais puro



A cada passo um ar mais puro
(André Anlub - 1/6/13)

Ela voltou, trouxe algumas flores silvestres,
Vamos agora, juntos, pela nossa rua do apego.
A calçada é larga e o sol que fulge sempre,
Há cães que não ladram e gatos nos telhados.
De longe, bem ao longe, alguém clama companhia.
Lá, onde habita o delírio, tudo existe...
E ainda insistem até mesmo em chamar de “amores”
As variedades de corações em combustão.
Mesmo com a enorme falta de enzimas e excesso de buzinas,
Reinam os notórios e imortais motores...
Nem mesmo as dores conseguem atenção.
É lá, toda a inquietude e desassossego,
Estão vendo mal de perto como funciona o medo,
E estão cansados, mostram-se exaustos.
Mas nossa estrada é larga, como já foi dito,
Há espaço e apreço para tudo e todos,
As intolerâncias não crescem no infinito,
Quaisquer que sejam e venham à tona.

Dueto da tarde (LXXVI)



Dueto da tarde (LXXVI)

Rasgou seus conceitos, queimou ambições, fez orações e desfez julgamentos; agora pode ou não ser a opção sensata: 
Continuar seu caminho com a sensação de barra limpa. Não se consegue uma sensação de barra limpa deixando de lado o retoque, a assinatura, a moldura e o último enfoque.
Penetrou lentamente no quarto escuro, que conhecia de olhos fechados, mas receava porque estava escuro. 
Sentiu uma brisa morna e adocicada, cheiro leve de incenso de âmbar; ouviu música com um coro e o choro de uma criança.
Seria ele a criança chorando? Talvez. Um passo e outro mais na direção da falta de direção e talvez encontrasse a criança. Queria encontrar a criança?
Lembrou-se de seus deprimidos problemas, e lembrou-se que deveria tê-los esquecido; mas mesmo assim, mesmo assombrado, seguiu acautelado.
Problemas não se esquecem, lembrou. Problemas se resolvem. Esquecimento não é solução, é adiamento.
Encontrou o menino que o olhou firmemente e parou de chorar e sorriu; ele assustado implodiu... pois ali, à sua frente, era o seu pai quando guri.
Encontrar é encontrar. Estar perdido e encontrar é deixar de estar perdido.

Rogério Camargo e André Anlub
(25/2/15)

As gaiolas se abriram



As gaiolas se abriram, voam os pássaros rumo à vida.
Falham as bombas e pombas de branco se pintam.
O mundo esquece seu eixo, gira em toda direção...
Pira sem nenhum desleixo, sem a menor ambição.

Hospício
(André Anlub - 23/7/09)

Salientaram no hospício
Ninguém iria comer
Injeções na testa...
Mais que um sacrifício.

Uma doutrina errada,
Condições terríveis,
Faces amarguradas...
Pessoas mais que sensíveis.

Não tinham valor algum,
Exclusos da sociedade,
Pessoas novas e de idade...
Somavam um mais um.

Indigentes, obscenos
Cenas do dia a dia,
Pretos, brancos, morenos...
Sujeitos à revelia.

Desprezados pela verdadeira família,
Inúteis sem poder reciclar,
Cães expulso da matilha...
Sem ter mais em quem amamentar.

Aos montes iam se definhando,
Em um frenético vai e vem,
Homens mortos andando...

Passos calmos pro além.

24 de fevereiro de 2015

Desabafo de um amor desabrochado



Desabafo de um amor desabrochado
(André Anlub - 14/4/10)

É inacreditável como sou feliz ao seu lado,
Mix de emoções boas a todo o momento;
Sem você eu preferia viver isolado
Em uma ilha só com coqueiros.

Sentimento puro e extremo,
Amor anos luz de verdadeiro;
A verdade mais alta pronunciada,
Cura para todo o câncer do planeta.

É bálsamo do bem derramado
Afogando todas as mazelas,
Meus pratos preferidos nas panelas,
Cheiro do perfume do bem amado.

A pólvora exposta à chama da paixão;
Implosão do calor da excitação extrema;
Na ponta da língua o sim e o não
E o coração inverso de pequeno.

É inacreditável como chego a chorar,
De saudade, amor ou em um pesadelo:
Sonhar em contigo não acordar,
Não poder tocar em seu cabelo. 

Faltam-me palavras - sobram-me desejos
Almejo mais e sempre tudo mais.
Minha vida é sua, pode me beijar,
Nenhuma alma de morte poderá nos levar.

Dueto da tarde (LXXV)



Dueto da tarde (LXXV)

As ondas do meu mar oscilam como cabelos ao vento, como os conceitos em temperos que saciam o apetite.
Navego como quem se entregou e não quer saber de seu destino, como navegador menino, sem horizonte e ilha, sem ouro e tesouro, sem norte e bússola, sem regra e família.
Talvez me afogue em minha pretensão desabrida, mas talvez também cure a ferida do medo que espreita nos vãos da solidão.
Pouco sei até do que pouco sei. As ondas do meu mar não toleram me ver sabendo, afogam rapidamente qualquer entendimento; sim, sei, às vezes são ondas egoístas mas que hoje amanheceram senhoras esposas, mais calmas – mais mansas, mas também propensas a tubarões e outros predadores.
Oscilam como cabelos ao vento. Não, como cabelos na água. Na água do meu mar inconstante, na maré variante que me lava – me leva – me eleva, com ou sem solidão, ao sonho incessante, delirante e salutar de viajar nesse mar e não chegar jamais às terras dos homens. 

Rogério Camargo e André Anlub
(24/2/15)

23 de fevereiro de 2015

Antologia da AVEC

1ª Antologia da AVEC no Clube de Autores - https://www.clubedeautores.com.br/book/181080--1_Antologia_da_AVEC#.VOt1kvRDuSp

Dueto da tarde (LXXIV)



Dueto da tarde (LXXIV)

O mal acordou criativo: fofocou, intrigou, polemizou, foi racista, preconceituoso e depois pediu desculpas. Pouco se pôde fazer com tudo que ele estava fazendo, contudo.
Nada mais é absurdo – basta pedir perdão; o bem ficou chateado e assume que perdoar é um dom, mas só quando provém do coração.
O coração provê, o coração vê pró: pró-libertação, pró-alívio, progresso.
Ao respeito o mal entrega o despeito, ao altruísmo a cobiça; não há preguiça no arremate de seus afazeres.
O mal trabalha, o coração também. O coração trabalha mal se desconsidera o mal que o faz trabalhar tanto.
Há ressalvas salvas: um sempre é vivo, o outro necessita cultivo; um faz o amado, o outro aversão; um põe fogo no circo, o outro provoca ovação; um vive sem o outro, já o outro não.
E enquanto viverem sem viver a completude absoluta, onde ninguém é nenhum e todos são tudo, discutirão espaços que não lhes pertencem.
Complacente e nem sempre sensato, sucinto, preciso, compreendido e domado é o coração: se der asas – alado; se der cárcere – convulsão.
O mal tenta o que os males tentam. O coração faz o que os corações fazem. E a vida, soberana, espera de um o que não espera de outro.

Rogério Camargo e André Anlub
(23/2/15)

Armageddon II



Armageddon II
(André Anlub - 7/4/13)

Caçadores de cobiças e amores perdidos,
Senhores dos seus projetos de ações duvidosas,
Jardineiro na ufania das flores de cera de ouvido,
Decifram a nostalgia de ocorrências rigorosas.

Lenhadores brutamontes, bruta montes
Com os seus machados cegos,
Filhos de escravas negras com índios...

São negros ou brancos, francos
Com seus olhos claros de guerra,
Sem ego, mas com a ganância de buscar o infinito.

Se a chuva de meteoros chegar em má hora
E quatro cavaleiros lhe derem guarida,
Com parcimônia de quem cultiva passiflora,
Empunha a espada, dá meia volta e procura saída.

Vivendo em um singelo passado do agora:
- é o azul que faz fronteira com um feio absurdo.

Os vieses que ecoam aos ouvidos de muitos,
Aquecem como o nome de Nossa Senhora.

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.