3 de fevereiro de 2015

Dueto da tarde (LIV)




Dueto da tarde (LIV)

O tempo perdido e o tempo perdido lamentando o tempo perdido; formando-se um ciclo, dando voltas e voltas no infinito como um círculo que queria ser hexágono, abandonando o seu formato.
Parafuso ensandecido que sobe e desce sem sair do (seu?) lugar; quer deixar esse vagar em terras óbvias e ir atrás de inovações, vidas novas, novas trovas, trovões e tempestades, algo que traga medo e o tire da incumbência para que foi feito.
Ganhar o tempo com o tempo perdido nas mãos, com o vazio do tempo perdido nas mãos, com a angústia do tempo perdido nas mãos, tirar o atraso, os tempos jogados no ralo sujo e largo da estagnação...
Essa busca faz o tempo andar para trás. Mas o tempo não anda para trás. Então essa busca é apenas um presente mal desembrulhado, mal interpretado e com suas devidas contradições; assim o tempo apenas segue em seu furor; perdido hoje: talvez por ter acordado de mau humor, talvez por ter achado que acharia, talvez porque... talvez.

Rogério Camargo e André Anlub
(3/2/15)

Memórias da Guerra

                    Esta é uma notável obra de arte. 
Esta imagem é feita de rostos de 670 soldados que morreram na guerra do Iraque.

Memórias da Guerra
(André Anlub - 19/4/11)

Em meio a fumaça cinza com um toque avermelhado,
Embaixo de um céu que é testemunha:

Vejo ferros retorcidos, destroços,
Corações calados, que gritam...
Vejo o tempo congelado.

Em meio às ruas esburacadas
Vejo pertences abandonados (abrigos)
Vejo um rio frio...

Rio de cartuchos que tiveram seus projéteis deflagrados,
Todos com nomes - objetivos
Calar um peito inimigo,
Um corpo latente a ser alcançado,
Silenciando-o e roubando-lhe sonhos.

Como o corte de uma navalha,
Como quem tira o doce de uma criança,
Como quem tira o amor e a esperança,
Em troca de uma medalha.

Ainda bem que ninguém taxou de domínio
Pois com o meu cheiro, marquei o terreno
Mostrei os caninos ao meu cruel inimigo
Dediquei-me na íntegra a ser feliz ao extremo.

Não negue o seu beijo




Não negue o seu beijo
(André Anlub - 31/05/13)

Deveria ser lei:
Não se nega um beijo!
Ainda mais para um carente de amor,
Um desajeitado com as palavras,
Confuso com os sentimentos.
Jamais se nega um beijo,
Pois o mesmo é um elo...
Encontro do sabor marmelo,
Com gorgonzola, parmesão...
Quatro queijos.
Não, não se nega um beijo,
Ainda mais o desmedido,
Pois é a afirmação de um bem querer,
Doce momento de prazer,
Que faz no emudecer,
O grito de tudo a ser dito.

Falam de bailarinas,
De estrelas cadentes e flores;
Falam de amores, de destinos,
Esquinas, borboletas e odores; 
Mas poucos falam do artista
Em seu mergulho no meio, 
Sem medo e sem freio
Num oceano de caos.
E ao unir os extremos,
Teremos sem pressa
A composição de um poeta,
Que beija na cópula
O corpo e a alma
Do bem e do mal.

Preto e branca




Preto e branca
(André Anlub - 5/6/13)

Garanto minha frágil presença
No pensamento mais estranho
Que remete ao pesadelo
Da minha pele pintada de branco.

Enxergo essa minha entrega
Em reflexos de uma lâmina cega.
E de maneira sutil, tão simples,
Transcendo ao corte seguinte.

Em doação que faz mistura,
Nossas cruas carnes nuas
Fez contraste no arraste,
Na queima que é de praxe,
Do protocolo em leitura.

Ah, minha branquinha!
Bebemos na água pura.

Pegue o banco e a caipirinha
Venha sentar-se ao meu lado...
(desnuda – noite - minha)

2 de fevereiro de 2015

Iemanjá (parte III)

No dia de Iemanjá, se liga! ‪#‎respeiteomeioambiente‬



Veja dicas de como agradar a Rainha sem degradar o mar

Esta segunda-feira, dia 02 de fevereiro, é dia de Iemanjá. Nesta data tão especial, os baianos têm a tradição de levar oferendas coloridas, perfumadas, cheias de flores e presentes para a rainha do mar. Mas quais presentes podem ser oferecidos a Iemanjá e que não contribuam para a degradação do ambiente marinho?

Para ajudar a escolher presentes que não agridam o meio ambiente e saber quais oferendas podem ser evitadas, o biólogo e professor da Universidade Federal de Alagoas, Cláudio Sampaio manda às dicas. “Em um dia festivo, de confraternização, a gente, querendo agradar, acaba agredindo o mar”, afirma Sampaio. Ele ressalta que esta questão deve ser tratada com cuidado, já que estão envolvidas questões antropológicas, sociais, ambientais e que é uma tradição na Bahia.

“O presente é muito importante para manter a tradição viva, mas a gente tem que começar a pensar que os plásticos devem ser evitados”, ressalta o biólogo Cláudio Sampaio. Ou seja, as bonecas, embalagens e outros presentes feitos com este material, ao serem colocados no mar, afetam o meio ambiente. Neste caso, mudanças simples na oferenda podem ajudar a casa da rainha do mar e, ao mesmo tempo, manter a tradição. Se deseja presentear Iemanjá com uma boneca, escolha uma de pano, ou se pretende dar um pente, que seja de madeira, de preferência reflorestada, recomenda Sampaio.

Afinal, segundo o biólogo, os prejuízos que os plásticos trazem são tanto de ordem econômica, como danificar embarcações pesqueiras (no momento que este material se enrola nas hélices, por exemplo) e deixar as praias sujas, feias, espantando o turismo; quanto de ordem ambiental. A ingestão acidental de plástico por animais como tartaruga, peixes, tubarões e golfinhos, por exemplo, resulta na morte de milhares deles, sendo muitas espécies ameaçadas em extinção. Ele explica que os animais que não conseguem vomitar este plástico acabam morrendo por inanição, por ficar com o estômago cheio e permanecer mecanicamente saciado “É uma morte dolorosa, triste”, lamenta.

O perfume representa uma das oferendas mais tradicionais a Iemanjá. Para contribuir com a preservação da casa da rainha do mar, Cláudio Sampaio recomenda perfumar o balaio, ao invés de jogar o frasco, o vidro ou a tampa de plástico. Também deve ser evitado o despejo de perfume e de objetos nas piscinas naturais, presentes na orla de Salvador, aquelas que se formam durante a maré baixa. “Além de serem um ecossistema frágil, as piscinas naturais servem de berçário para peixes, lagostas”, explica o biólogo, que aponta que o impacto também é maior nestes ambientes por ter um volume reduzido de água.

- Flores podem ser a melhor opção

Se tiver dúvida do que presentear Iemanjá, opte por flores ou outros produtos naturais. Esta é a recomendação do biólogo Cláudio Sampaio. Afinal, as flores são um presente 100% natural, orgânico, com preço relativamente baixo. Além disso, “qual é a mulher que não gosta de receber flores?”, brinca. Mas também devemos ter cuidado com os arranjos: fitas e adereços plásticos devem ser evitados, dando preferência por arranjos com fibras naturais, por exemplo.

Sampaio ressalta que o dia 02 de fevereiro é um dia muito especial, porque traz boa parte da população baiana para a praia, não com o objetivo de lazer, mas para agradecer, fazer pedidos e orar. “Mas também pode ser uma oportunidade para chamar atenção para a poluição”, afirma o biólogo.

(Fonte: IBahia)

Iemanjá (parte II)


De toda a imensidão do planeta
só quero estar nesse mar belo
de Iemanjá, Iracema, Otelo.
Mar de perfeitos sonhos
folclores, tesouros e viços
dos nautas, vikings, corsários
navegadores fenícios.
Mar de amores lendários
imaginários, antigos
concretos, ambíguos
de interminável poesia
que em toda alma habita.

André Anlub
ALGUNS MINICONTOS

- Era você no telefone?
- Era.
- Por que não me disse que era, quando eu perguntei?
- Queria ver se você me reconhecia.
- E agora que eu reconheci, o que acontece?
- Agora eu ligo de novo. Mas não agora.


Quando o cachorro de Asquinando começou a miar, ele não se importou. Mas quando seu gato começou a latir foi demais pra ele. Vendeu os dois para um circo e comprou um canário. Até agora o canário não mugiu.


A brincadeira espirituosa disse algumas coisas para a grosseria que ela não gostou. Respondeu grosseiramente. A brincadeira espirituosa não disse mais nada. Mas continuou se divertindo.


- Que nome tinha aquele personagem incrível?
- Nenhum.
- Isso mesmo, Nenhum. Incrível, né?


O trabalho de esquecer estava indo muito além, do que Antinaldo esperava. A cada vez que o dava por findo, uma fisgada na memória o fazia lembrar que não esquecera. Muito aborrecido. Então Antinaldo resolveu inverter as coisas. Em vez de esquecer, exigiu-se lembrar de tudo, nos menores detalhes. Aí ficou mais fácil.


- Minha vida está muito chata!
- E o que você quer que eu faça, que eu arredonde ela pra você?
- Você consegue?


Uma brisa muito sutil, quase um suspiro da aragem, veio de manso e envolveu a pedra. Se a pedra tivesse percebido, talvez desse àquilo o nome de carinho. Mas a pedra não percebeu.


- Ela está te esperando.
- Eu disse pra ela não me esperar!
- Eu também disse. Não adiantou. Ela está te esperando.
- Bem, vai ficar esperando, então.
- Ela sabe. Só não sei por que. Você sabe?


Zantinho colecionava santinhos. Imagens de santos da igreja católica. Zantinho não era católico. Ou religioso. Também não era um descrente ácido ou agressivo. Zantinho colecionava santinhos, apenas isso. Sua coleção era tamanha que o papa, quando visitou o país, fez questão de conhecê-la. E trouxe uma caixa cheia de novas peças para ele. Das quais ele só não tinha duas.


Zícolo não suporta Zócolo. Se pudesse, Zícolo arrancava os olhos de Zócolo e dava para os ratos comerem. Se pudesse, Zícolo arrancava as tripas de Zócolo, esganava Zócolo com elas e pendurava o corpo dele num poste para os urubus bicarem. Mas de toda vez que fala em paz e amor, Zícolo sempre fala em paz e amor, fraternidade entre os homens, harmonia universal. E até fala bem. Mas não lhe venham falar em Zócolo!


Nênia e Vênio tinham hora certa para brigar. Todos os dias. Os vizinhos até acertavam os relógios pela pontualidade das discussões. Certo dia de outubro, alguns estranharam:
- O que está havendo com eles? Por que não começaram ainda?

- É que eles não se guiam pelo horário de verão.

ROGÉRIO CAMARGO 

Dueto da tarde (LIII)


Dueto da tarde (LIII)

É assim que acontece: noite, luzes da cidade grande, transeuntes, carros e mendigos sossegam,
Pesadelos abrandados pelo álcool, angústias que recebem tapinhas nas costas, ânsias que deitam pra dormir.
Corpos insanos ao chão, mas é somente mais uma noite comum, que a lua observa de camarote e às vezes chora em chuvas silenciosas.
O passeio dos animais escuros e abstratos é ruidoso e quente como um visco derretido e a boca da desolação tem dentes cariados até as gengivas.
Visão degradante sem “adiante”, sem fim; caça aos elefantes, matança atroz atrás de marfim.
Burro atrás da cenoura, cachorro atrás do rabo. Correr, correr, depois ter a noite assim à disposição da lassidão; como viver uma falsa comunhão, uma mentira no espelho; como o apavorado sem medo que oprime a si mesmo.
A lua, com inveja do sol, que pode queimar tudo, suspira uns ventos prateados e deixa correr o sangue ruim.
Mesmo sentindo-se cúmplice, cumpre a missão de só ser, e iluminar nas suas fases as faces dos mortos teimosos a viver.

Rogério Camargo e André Anlub

(2/2/15)

Iemanjá


Dueto da tarde (LII)



Dueto da tarde (LII)

Havia uma palavra mais triste entre as palavras mais alegres, uma sombra bem disfarçada na plena luz do sol, camuflada pela timidez, pelo acanhamento e pela vergonha, de expressão minúscula, se moldava em versos curtos e se escrevia no lado negro da lua.
Leitura difícil: fácil era ler as palavras que saltitavam de excitação, que diziam olha pra mim, olha pra mim!
Olhos banais tendem a caçar leituras comuns, simplistas; olhos atrevidos vão além... buscam teores implícitos, metáforas e alquimias.
São olhos com dedos delicados na ponta dos cílios, são olhos com radares sutis, que viajam de carona nas asas das reticências e capturam vírgulas em outros confins.
Seguem a trilha que a intuição abre na mata densa do encabulamento e chegam a clareiras insuspeitas, vestindo as vestes de livros antigos, bebendo copos de vinho de letras, fazendo do conhecimento alimento que a palavra mais triste, ainda tímida mas já desnuda, berra com todas as forças, mesmo que dentro das mentes, aos quatro, talvez até cinco ventos.

Rogério Camargo e André Anlub
(1/2/15)

1 de fevereiro de 2015

Insanidades




Insanidades
(André Anlub - 19/8/11)

Teria que ter sido pelo menos companheira:
Mesmo não cobrando o amor que ela devia.
Não importa cargas d’água tenha denegado
Diz que viu duendes, vacas voando, unicórnio alado.
Teria que ter sido pelo menos afeição:
Mesmo se nada cobrassem, nem um beijo perspicaz...
Nem se o desejo vem ao acaso ter sido esnobado,
Meu corpo era seu leito, do seu jeito ao seu agrado.
Teria que ter sido pelo menos sincera:
Calada no nosso leito, fechando-se e indo ao sono;
Trancada a sete chaves, deixando-me em abandono,
Parte da realidade pintada como quimera.
Teria que ter sido pelo menos uma verdade:
Sendo personagem da imaginação mais fértil...
Viva no papel, nas idéias, um lindo sonho,
Que me deixa cancro exposto, frágil e medonho.
Teria que ter sido pelo menos qualquer coisa:
E foi muito mais que isso.

La Femme



La Femme
(André Anlub/2009)

Bela mulher
Travessia de prazer
Amor de repente
Ardente
Caliente.
Linda fêmea
Com a pele dourada
Endiabrada
Imponente
Onipresente
Não fica cansada.
Garota fatal
Com jeito imoral
Desapegada
Imensamente humorada
Sexo animal.
Vadia safada
Com emprego na Lapa
Exercitava seus vícios
Vomitando sacrifícios
Puros ossos do ofício
Querendo ser imaculada
Para muitos uma “nada”
No seu mundo de hospício.
É o que quer
Bela mulher
De alma e carnal
Garota fatal
Largada na berlinda
Fêmea linda
Na horizontal.

Quem caça um poema?




Quem caça um poema?
(André Anlub - 1/7/11)

Já nem sei por onde anda...
No gole, na gola, na manga;
Nem sei de onde veio...
Do ventre, da saia, do seio.
Sei que em bares é citado,
Amado e temido.
Sei que fica exposto aos olhos
E dos olhos sorve o pranto...
Das mãos às vezes é santo.
Dizem que é dissabor e contentamento...
No seu corpo tem amor,
No coração, lamento;
Dizem a má e a boa língua
Que é terra, mar e vento.

31 de janeiro de 2015

Dueto da tarde (LI)




Dueto da tarde (LI) 

Trinta anos, sim, trinta anos se passaram, e tempestades, friagens e sóis quentes, e a lembrança persiste agarrada como um mexilhão no casco de um navio.
Singro meu mar com ela ali e ali ela é paralela ao que para ela reservei: uma saudade especial, sem pretensão de renascimento ou rebobinar a fita e viver novamente.
Trinta anos todo dia, porque não passa um dia sem que a melodia desta canção me embale; às vezes nem preciso despertar para ouvi-la, já estava no sonho, vindo do subconsciente desde o deitar na cama.
Quem reclama? Quem ainda não entendeu que é assim mesmo, que reclamar a esmo não leva a nada, que na lembrança já é traçada e marcada essa jornada rumo ao tempo que se foi.
Trinta anos toda hora, porque hoje não demora a ser como foi outrora, se não saio do lugar onde me coloco; andar à frente deixando a fumaça para trás, como Maria fumaça que anda na raça fora de qualquer trilho.
Tudo é agora mesmo há trinta anos. Tudo é agora mesmo depois de trinta anos. Tudo se repete no mesmo tabuleiro, só mudando as peças. Tudo se repete às pressas com o receio de cair no esquecimento.
Ânsia boba: a loba que a vida é alimenta suas crias sem frias maneiras. As estrias de meu navio na água do cotidiano, porém, entra ano e sai ano é meu deleite deixar os mexilhões no casco, assim fujo do fiasco de expor as ferrugens.
De fuga em fuga, conto minhas rugas há trinta anos e são sempre as mesmas...

Rogério Camargo e André Anlub
(31/1/15)
ALGUNS MINICONTOS

O longo adeus tem histórias pra contar que a breve despedida não tem paciência de ouvir.


- Tudo isso pra mim? – perguntou Zubiléu diante da mesa vazia.
- Sim. Pode se servir à vontade.
- Puxa, que generosidade!
E Zubiléu empanturrou-se de nada e coisa nenhuma com grande satisfação.


- Já está na hora?
- Pelo meu relógio já passou da hora.
- Relógio idiota esse teu...


No distante ano de Logo Ali, Tumívio Macazzio encontrou uma cabeça. Seus instintos de estudioso vibraram. Tomou-a na mão direita, braço esticado, e mirando com profundos olhos de interesse, questionou: És ou não és? Não, não é bem isso. Tentou de novo: Foste ou não foste? Ainda não satisfez. Outra tentativa: Serás ou não serás? Não acontecendo nada, Tumívio Macazzio, que encontrou uma cabeça no distante ano de Logo Ali, deixou pender a sua própria num balcão de bar enquanto meditava intensamente sobre os males da existência.


- Há muita coisa que você não entende, Mariquinha!
- E só por isso eu vou ter que te aguentar entrando e saindo do meu quarto, remexendo em minhas gavetas, pegando minhas roupas, usando meu perfume?


A lua companheira estava sempre lá. A lua solitária não sabia da lua companheira. Se soubesse, não seria solitária. Não, não seria, porque a lua companheira estava sempre lá.


- Deus falou comigo esta noite.
- Que bom.
- Só que eu não me lembro de nada.
- Talvez seja melhor assim. Vai que ele tenha te dito que não existe?


A conversa era entre pessoas que detestam rotina. Rotina mata. Rotina é torturante. Rotina não tem a menor graça. O que faz o Governo que não acaba com a rotina? Etc. Aí entrou Papaltto na roda e disse que uma das coisas boas na vida dele era a rotina. Opa, isso é uma novidade. Conta mais, Papaltto!


Era um ator muito ruim. Mas o papel era o de um ator muito ruim. E o diretor era brilhante, aproveitou tudo e mais um pouco do ator ruim no papel perfeito para um ator ruim. O ator ruim ganhou um Oscar. O diretor nunca mais quis vê-lo na vida.


O sono ainda não tinha abandonado os olhos, que doíam para enxergar através dele. A vida chamava, no entanto. E mesmo tropeçando no que quase o derrubava, ele foi.


- Não pode ser tão ruim como você está dizendo! – dizia Alka a Balka.
- Experimenta, então – respondia Balka a Alka.

- Mas e se for?

ROGÉRIO CAMARGO 

Olhos e mãos




Olhos e mãos
(André Anlub - 4/9/11)

Olhos que fitam o azul celeste,
Pensando em um dia desvenda-lo.
Olhos que veem vultos por detrás de ideias
E sabem da capacidade do poder imaginário.
Ousadia das mãos...
Plantam e criam,
Remetendo os seres ao mais adiante mundo:
Ser que fica desnudo;
Ser que fica vestido;
Todo e qualquer atributo.
Olhos que mergulham em longínquas profundezas,
Tirando o corpo físico do lugar comum.
Olhos que trafegam no vão e vêm de letras,
Na mão e contramão de amores e lendas.
Mãos de um ser...
Rápidas, elas desvendam segredos,
Revelam medos da mais delicada forma.
Mãos que transmitem
O que dos olhos já foram vistos... 
Ou até mesmo o que gostariam de ver.

30 de janeiro de 2015

Dueto da tarde (L)





Dueto da tarde (L)

A porta aberta para o quarto vazio deixava olhar mas não deixava ver, 
À meia luz tudo era repentino, tudo era tênue e curioso, de uma curiosidade ansiosa, expectante, que procurava esclarecimentos onde só havia hipóteses. 
Com o passo à frente ouve-se o som de um sino, no esticar das mãos sente-se uma leve chuva.
Já não é mais apenas a porta de um quarto vazio aberta. É a porta de um mundo vazio aberta,
Como uma passagem incerta sem seta indicando direção; um vigente vão vazio cheio de interrogação.
O olhar trêmulo, as mãos fixas, os passos suando, a pele tropeçando, eis o avanço inevitável para quem quer saber,
Entra com ar de orgulho, como um mergulho profundo em parca iluminação, tateia com receio, meio que afasta teias de aranha, sentindo a sensação estranha de não estar sozinho.
Há mais coisas num quarto vazio de porta aberta do que os olhos não enxergam quando não enxergam; há a inspiração voando, a paixão deitada, o ódio debaixo da cama, o tempo descompassado.
E há o também. Incorpóreo também. Sem forma, sem nome, sem CPF, sem RG, sem NET, sem tablet, sem chiclete, também há o também. Com ele vem o além, o aquém, todo o universo e ninguém; naquele passo à frente se sentiu um rei vivo, pois pode ver com clareza seu reinado no presente, largando de vez – de repente, seu passado maldito.

Rogério Camargo e André Anlub
(30/1/15)

No sofá de uma sala




No sofá de uma sala
(André Anlub - 21/4/13)

O amor é a maior das certezas
E mesmo assim acontecem infinitos equívocos.

Não se fala em outra coisa
Em todos os lugares:
Em bares, ginásios, tablados,
Basílicas, praias, boates,
Iates, aviões ou carros.

A bola gira, cabelo cai,
O amor derrotado.
Flecha no peito, faca nas costas,
O bobo da corte coroado.

A imagem escureceu,
Os braços ficaram pesados
E nada mais se pode fazer.

Há um enorme e frio buraco,
Onde o eco cantarola sua fala
E no perceber que chegou ao profundo
Vê-se sentado no sofá de uma sala.

Meu Rio de Janeiro

Eu e a Equipe vencedora do PARAPAN, Verdadeiros Vencedores.

Meu Rio de Janeiro
(André Anlub - 2/4/09)

Como pode alguém amar tanto um lugar:
- Suas praias, montanhas, que emanam o amor,
Curvas das ruas e de suas crias,
Histórias, memórias, um glorioso legado.

O amor materno que sempre me banhou,
De pequeno até adulto do seu jeito fui criado.

Beleza bronzeada da cor do pecado,
O carinho do toque de sua maresia,
A visão e beleza do nosso senhor.

Fim de tarde (pés descalços) no arpoador.
Uma estrela do mar e do céu 
que os meus olhos saciam, 
da primavera ao inverno 
no seu colo à vontade... 
quando a faca lhe fere também sinto a dor.

Meu Rio perfeito:
- quero-lhe bem, quero-lhe sempre!
Mostra para o mundo inteiro,

Que você ama (é fiel) amor verdadeiro.

Como é bom gente simples, leal, aberta, que acerta e às vezes erra; 
gente que é o que é e faz o que vier na teia; 
gente que bebe água ou uísque ou cachaça ou café no copo velho de geleia.


O sábio e o tolo




O sábio e o tolo
(André Anlub - 24/3/13)

O mais sábio homem também erra,
Erra ao tentar ensinar
Quem nunca quis aprender.
Os tolos morrem cedo,
Senão por fora
Morrem por dentro,
Ou ambos.
O mais sábio homem
Também ama.
E nesse amar,
Mergulha...
E se entrega,
Confia,
E muitas vezes
Erra.
Os tolos desconfiam,
Nunca arriscam,
Nunca amam,
Por isso acabam não vivendo...
Morrem por dentro e por fora,
Acabam errando
Sem jamais terem sido sábios.

29 de janeiro de 2015

Super Simples

                                             Foto: Anlub
Super Simples
(André Anlub - 16/11/12)

Quero só proferir palavras agradáveis,
Não a expondo ao risco de ouvir injustiças
Por decorrência de eu não ter o que dizer.
Quero realizar suas íntimas fantasias,
Ter e ser suas boas e más manias,
Só pelo fato de assim poder ser sua área de lazer.
Quero que possa contar sempre comigo,
Ser sua labuta e seu domingo,
Ou até ficar bem longe... É só querer.
Quero carregá-la suavemente no colo,
Poupando-a de gastar prévia energia,
Em direção ao seu quarto de prazer...
E, no entanto, mesmo que eu não seja suficiente,
Que falte sal ou que falte açúcar,
Que falte o ínfimo arrepio na nuca,
Sempre a deixarei livre para fazer o que bem entender.


Dueto da tarde (XLIX)

      Pastel no mercado municipal (SP)

Dueto da tarde (XLIX) 

O segredo foi revelado, o destino estava traçado, de nada adiantariam as imagens de barro nem as inúmeras velas acessas em nome do sem nome ou até do Nominado. Havia muita coisa por trás do que há por trás e isso não faz nascer o medo; pois isso, aquilo ou até mesmo o inexistente não se desfaz num estalar de dedos.
O segredo foi relevado e com ele a fotografia da consciência, num preto e branco escarpado, como um silêncio do submundo, e o peso evidenciado na visão de um tridente no fundo.
“Não tenho nada com isso”, disse o compromisso com o sumiço. Enguiço logo resolvido pela presença, nada ligeira, da paixão passageira, que andava feito bicho preguiça.
Por lento que fosse, por recalcitrante que fosse, com o tridente ao fundo que fosse, o segredo desanuviou-se. 
Agora sim, com o estalar de dedos, os olhos se abriram, as dores sumiram e surgiram os sorridentes; o verdadeiro valor passou a ter valor e o calor fundiu todos os ouros, pratas, espadas, facas e tridentes.
Três dentes e muitas bocas. Todas a gritar que conheciam o segredo. Todas a querer mascá-lo com os dentes poucos; três sementes, somente três, foram plantadas para garantir o futuro:
O ontem, o hoje e o amanhã. Algum desespero queria coisas outras, uma quarta dimensão. E o segredo, revelado, apenas aguardava.

Rogério Camargo e André Anlub
(29/1/15)


Balé dos estorninhos




Balé dos estorninhos
(André Anlub - 14/10/13)

Vá falar aos quatro cantos
Desse enorme mundo vadio,
Fale logo, vá!

Fale aos ouvidos trancafiados,
Cimentados e mal acostumados.
Grite com todo o pulmão,
Todas as forças,
Até se esvair o ar.

E aquela velha inocência descabida? 
Deixe-a ir:
Já estava sufocada com sua maturidade,
Com seu desenvolvimento e sucesso,
Com o balé dos estorninhos.

Os passos largos, de gigantes dinossauros, são seus;
As impurezas das palavras
Impensáveis nunca existiram;
O seu barco naufragado é passado,
Ou pode até ter sido um sonho;
Ria, pois com o mar é casada
E vive à vontade com os golfinhos.

E agora rebobinou sua idade ao azul bem vasto,
Fixado no fundo da sua íris.
Poderá observar os loucos abutres
Que voam por cima de um extenso deserto
Deixando a sombra de rastro,
Com a sede e a fome,
Que os escoltam de perto.

A você




E o arrogante prepotente morreu e não ficará sabendo que a vida continuou logo após seu enterro. 

A Você
(André Anlub - 4/5/08)

A você dedico meu tempo,
Termino meu verso,
Estampo meu cansaço no corpo e na alma,
Desperdiço meu sangue que já é pouco;
Choro muitas vezes por um sorriso,
Outras por nada;
Abaixo a cabeça,
Me calo,
Me inclino,
Reverencio,
Aceito.

28 de janeiro de 2015

Dueto da tarde (XLVIII)





Dueto da tarde (XLVIII)

Ad-mirado, ad-acertado. E fim de papo - pra início de conversa.
Gente à beça com a cabeça rente na frente da travessa olhando, querendo participar na pressa, na afobação.
Ad-jacentes, conjecturas. E início do papo – pra finalizar o tempo vago.
Sentamos, observamos, conversamos: conservamos o que os anos nos deram, com incondicional paciência estudamos o que somos para encarar o que não se espera.
Uma longa espera, uma longa fila se forma – de esperas – para entrar no assunto, para ter assunto, para assuntar também; no vai e vem do vento, frio, no inverno o invento do intento de viver e esperar por ninguém.
Ad-mirado, ad-acertado: alvo fácil da ad-miração precisa, inescrupulosa, que invade o terreno da impertinência, sem clemência – beirando a loucura, beijando a decadência.
Sentamos para conversar, consentimos para conservar e a busca do centro do centro, do âmago do âmago faz renascer velhas ideologias, amadurecer antigos versos e canções que molham os olhos.
Este é o alvo e a flecha se compraz com prazer, acerta, perfura e cura seus males, nos faz navegar em outros mares, encontrar novos lares e curtir/carpir/admitir a ad-miração de viver.

Rogério Camargo e André Anlub
(28/1/15)

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.