1 de fevereiro de 2015

Insanidades




Insanidades
(André Anlub - 19/8/11)

Teria que ter sido pelo menos companheira:
Mesmo não cobrando o amor que ela devia.
Não importa cargas d’água tenha denegado
Diz que viu duendes, vacas voando, unicórnio alado.
Teria que ter sido pelo menos afeição:
Mesmo se nada cobrassem, nem um beijo perspicaz...
Nem se o desejo vem ao acaso ter sido esnobado,
Meu corpo era seu leito, do seu jeito ao seu agrado.
Teria que ter sido pelo menos sincera:
Calada no nosso leito, fechando-se e indo ao sono;
Trancada a sete chaves, deixando-me em abandono,
Parte da realidade pintada como quimera.
Teria que ter sido pelo menos uma verdade:
Sendo personagem da imaginação mais fértil...
Viva no papel, nas idéias, um lindo sonho,
Que me deixa cancro exposto, frágil e medonho.
Teria que ter sido pelo menos qualquer coisa:
E foi muito mais que isso.

La Femme



La Femme
(André Anlub/2009)

Bela mulher
Travessia de prazer
Amor de repente
Ardente
Caliente.
Linda fêmea
Com a pele dourada
Endiabrada
Imponente
Onipresente
Não fica cansada.
Garota fatal
Com jeito imoral
Desapegada
Imensamente humorada
Sexo animal.
Vadia safada
Com emprego na Lapa
Exercitava seus vícios
Vomitando sacrifícios
Puros ossos do ofício
Querendo ser imaculada
Para muitos uma “nada”
No seu mundo de hospício.
É o que quer
Bela mulher
De alma e carnal
Garota fatal
Largada na berlinda
Fêmea linda
Na horizontal.

Quem caça um poema?




Quem caça um poema?
(André Anlub - 1/7/11)

Já nem sei por onde anda...
No gole, na gola, na manga;
Nem sei de onde veio...
Do ventre, da saia, do seio.
Sei que em bares é citado,
Amado e temido.
Sei que fica exposto aos olhos
E dos olhos sorve o pranto...
Das mãos às vezes é santo.
Dizem que é dissabor e contentamento...
No seu corpo tem amor,
No coração, lamento;
Dizem a má e a boa língua
Que é terra, mar e vento.

31 de janeiro de 2015

Dueto da tarde (LI)




Dueto da tarde (LI) 

Trinta anos, sim, trinta anos se passaram, e tempestades, friagens e sóis quentes, e a lembrança persiste agarrada como um mexilhão no casco de um navio.
Singro meu mar com ela ali e ali ela é paralela ao que para ela reservei: uma saudade especial, sem pretensão de renascimento ou rebobinar a fita e viver novamente.
Trinta anos todo dia, porque não passa um dia sem que a melodia desta canção me embale; às vezes nem preciso despertar para ouvi-la, já estava no sonho, vindo do subconsciente desde o deitar na cama.
Quem reclama? Quem ainda não entendeu que é assim mesmo, que reclamar a esmo não leva a nada, que na lembrança já é traçada e marcada essa jornada rumo ao tempo que se foi.
Trinta anos toda hora, porque hoje não demora a ser como foi outrora, se não saio do lugar onde me coloco; andar à frente deixando a fumaça para trás, como Maria fumaça que anda na raça fora de qualquer trilho.
Tudo é agora mesmo há trinta anos. Tudo é agora mesmo depois de trinta anos. Tudo se repete no mesmo tabuleiro, só mudando as peças. Tudo se repete às pressas com o receio de cair no esquecimento.
Ânsia boba: a loba que a vida é alimenta suas crias sem frias maneiras. As estrias de meu navio na água do cotidiano, porém, entra ano e sai ano é meu deleite deixar os mexilhões no casco, assim fujo do fiasco de expor as ferrugens.
De fuga em fuga, conto minhas rugas há trinta anos e são sempre as mesmas...

Rogério Camargo e André Anlub
(31/1/15)
ALGUNS MINICONTOS

O longo adeus tem histórias pra contar que a breve despedida não tem paciência de ouvir.


- Tudo isso pra mim? – perguntou Zubiléu diante da mesa vazia.
- Sim. Pode se servir à vontade.
- Puxa, que generosidade!
E Zubiléu empanturrou-se de nada e coisa nenhuma com grande satisfação.


- Já está na hora?
- Pelo meu relógio já passou da hora.
- Relógio idiota esse teu...


No distante ano de Logo Ali, Tumívio Macazzio encontrou uma cabeça. Seus instintos de estudioso vibraram. Tomou-a na mão direita, braço esticado, e mirando com profundos olhos de interesse, questionou: És ou não és? Não, não é bem isso. Tentou de novo: Foste ou não foste? Ainda não satisfez. Outra tentativa: Serás ou não serás? Não acontecendo nada, Tumívio Macazzio, que encontrou uma cabeça no distante ano de Logo Ali, deixou pender a sua própria num balcão de bar enquanto meditava intensamente sobre os males da existência.


- Há muita coisa que você não entende, Mariquinha!
- E só por isso eu vou ter que te aguentar entrando e saindo do meu quarto, remexendo em minhas gavetas, pegando minhas roupas, usando meu perfume?


A lua companheira estava sempre lá. A lua solitária não sabia da lua companheira. Se soubesse, não seria solitária. Não, não seria, porque a lua companheira estava sempre lá.


- Deus falou comigo esta noite.
- Que bom.
- Só que eu não me lembro de nada.
- Talvez seja melhor assim. Vai que ele tenha te dito que não existe?


A conversa era entre pessoas que detestam rotina. Rotina mata. Rotina é torturante. Rotina não tem a menor graça. O que faz o Governo que não acaba com a rotina? Etc. Aí entrou Papaltto na roda e disse que uma das coisas boas na vida dele era a rotina. Opa, isso é uma novidade. Conta mais, Papaltto!


Era um ator muito ruim. Mas o papel era o de um ator muito ruim. E o diretor era brilhante, aproveitou tudo e mais um pouco do ator ruim no papel perfeito para um ator ruim. O ator ruim ganhou um Oscar. O diretor nunca mais quis vê-lo na vida.


O sono ainda não tinha abandonado os olhos, que doíam para enxergar através dele. A vida chamava, no entanto. E mesmo tropeçando no que quase o derrubava, ele foi.


- Não pode ser tão ruim como você está dizendo! – dizia Alka a Balka.
- Experimenta, então – respondia Balka a Alka.

- Mas e se for?

ROGÉRIO CAMARGO 

Olhos e mãos




Olhos e mãos
(André Anlub - 4/9/11)

Olhos que fitam o azul celeste,
Pensando em um dia desvenda-lo.
Olhos que veem vultos por detrás de ideias
E sabem da capacidade do poder imaginário.
Ousadia das mãos...
Plantam e criam,
Remetendo os seres ao mais adiante mundo:
Ser que fica desnudo;
Ser que fica vestido;
Todo e qualquer atributo.
Olhos que mergulham em longínquas profundezas,
Tirando o corpo físico do lugar comum.
Olhos que trafegam no vão e vêm de letras,
Na mão e contramão de amores e lendas.
Mãos de um ser...
Rápidas, elas desvendam segredos,
Revelam medos da mais delicada forma.
Mãos que transmitem
O que dos olhos já foram vistos... 
Ou até mesmo o que gostariam de ver.

30 de janeiro de 2015

Dueto da tarde (L)





Dueto da tarde (L)

A porta aberta para o quarto vazio deixava olhar mas não deixava ver, 
À meia luz tudo era repentino, tudo era tênue e curioso, de uma curiosidade ansiosa, expectante, que procurava esclarecimentos onde só havia hipóteses. 
Com o passo à frente ouve-se o som de um sino, no esticar das mãos sente-se uma leve chuva.
Já não é mais apenas a porta de um quarto vazio aberta. É a porta de um mundo vazio aberta,
Como uma passagem incerta sem seta indicando direção; um vigente vão vazio cheio de interrogação.
O olhar trêmulo, as mãos fixas, os passos suando, a pele tropeçando, eis o avanço inevitável para quem quer saber,
Entra com ar de orgulho, como um mergulho profundo em parca iluminação, tateia com receio, meio que afasta teias de aranha, sentindo a sensação estranha de não estar sozinho.
Há mais coisas num quarto vazio de porta aberta do que os olhos não enxergam quando não enxergam; há a inspiração voando, a paixão deitada, o ódio debaixo da cama, o tempo descompassado.
E há o também. Incorpóreo também. Sem forma, sem nome, sem CPF, sem RG, sem NET, sem tablet, sem chiclete, também há o também. Com ele vem o além, o aquém, todo o universo e ninguém; naquele passo à frente se sentiu um rei vivo, pois pode ver com clareza seu reinado no presente, largando de vez – de repente, seu passado maldito.

Rogério Camargo e André Anlub
(30/1/15)

No sofá de uma sala




No sofá de uma sala
(André Anlub - 21/4/13)

O amor é a maior das certezas
E mesmo assim acontecem infinitos equívocos.

Não se fala em outra coisa
Em todos os lugares:
Em bares, ginásios, tablados,
Basílicas, praias, boates,
Iates, aviões ou carros.

A bola gira, cabelo cai,
O amor derrotado.
Flecha no peito, faca nas costas,
O bobo da corte coroado.

A imagem escureceu,
Os braços ficaram pesados
E nada mais se pode fazer.

Há um enorme e frio buraco,
Onde o eco cantarola sua fala
E no perceber que chegou ao profundo
Vê-se sentado no sofá de uma sala.

Meu Rio de Janeiro

Eu e a Equipe vencedora do PARAPAN, Verdadeiros Vencedores.

Meu Rio de Janeiro
(André Anlub - 2/4/09)

Como pode alguém amar tanto um lugar:
- Suas praias, montanhas, que emanam o amor,
Curvas das ruas e de suas crias,
Histórias, memórias, um glorioso legado.

O amor materno que sempre me banhou,
De pequeno até adulto do seu jeito fui criado.

Beleza bronzeada da cor do pecado,
O carinho do toque de sua maresia,
A visão e beleza do nosso senhor.

Fim de tarde (pés descalços) no arpoador.
Uma estrela do mar e do céu 
que os meus olhos saciam, 
da primavera ao inverno 
no seu colo à vontade... 
quando a faca lhe fere também sinto a dor.

Meu Rio perfeito:
- quero-lhe bem, quero-lhe sempre!
Mostra para o mundo inteiro,

Que você ama (é fiel) amor verdadeiro.

Como é bom gente simples, leal, aberta, que acerta e às vezes erra; 
gente que é o que é e faz o que vier na teia; 
gente que bebe água ou uísque ou cachaça ou café no copo velho de geleia.


O sábio e o tolo




O sábio e o tolo
(André Anlub - 24/3/13)

O mais sábio homem também erra,
Erra ao tentar ensinar
Quem nunca quis aprender.
Os tolos morrem cedo,
Senão por fora
Morrem por dentro,
Ou ambos.
O mais sábio homem
Também ama.
E nesse amar,
Mergulha...
E se entrega,
Confia,
E muitas vezes
Erra.
Os tolos desconfiam,
Nunca arriscam,
Nunca amam,
Por isso acabam não vivendo...
Morrem por dentro e por fora,
Acabam errando
Sem jamais terem sido sábios.

29 de janeiro de 2015

Super Simples

                                             Foto: Anlub
Super Simples
(André Anlub - 16/11/12)

Quero só proferir palavras agradáveis,
Não a expondo ao risco de ouvir injustiças
Por decorrência de eu não ter o que dizer.
Quero realizar suas íntimas fantasias,
Ter e ser suas boas e más manias,
Só pelo fato de assim poder ser sua área de lazer.
Quero que possa contar sempre comigo,
Ser sua labuta e seu domingo,
Ou até ficar bem longe... É só querer.
Quero carregá-la suavemente no colo,
Poupando-a de gastar prévia energia,
Em direção ao seu quarto de prazer...
E, no entanto, mesmo que eu não seja suficiente,
Que falte sal ou que falte açúcar,
Que falte o ínfimo arrepio na nuca,
Sempre a deixarei livre para fazer o que bem entender.


Dueto da tarde (XLIX)

      Pastel no mercado municipal (SP)

Dueto da tarde (XLIX) 

O segredo foi revelado, o destino estava traçado, de nada adiantariam as imagens de barro nem as inúmeras velas acessas em nome do sem nome ou até do Nominado. Havia muita coisa por trás do que há por trás e isso não faz nascer o medo; pois isso, aquilo ou até mesmo o inexistente não se desfaz num estalar de dedos.
O segredo foi relevado e com ele a fotografia da consciência, num preto e branco escarpado, como um silêncio do submundo, e o peso evidenciado na visão de um tridente no fundo.
“Não tenho nada com isso”, disse o compromisso com o sumiço. Enguiço logo resolvido pela presença, nada ligeira, da paixão passageira, que andava feito bicho preguiça.
Por lento que fosse, por recalcitrante que fosse, com o tridente ao fundo que fosse, o segredo desanuviou-se. 
Agora sim, com o estalar de dedos, os olhos se abriram, as dores sumiram e surgiram os sorridentes; o verdadeiro valor passou a ter valor e o calor fundiu todos os ouros, pratas, espadas, facas e tridentes.
Três dentes e muitas bocas. Todas a gritar que conheciam o segredo. Todas a querer mascá-lo com os dentes poucos; três sementes, somente três, foram plantadas para garantir o futuro:
O ontem, o hoje e o amanhã. Algum desespero queria coisas outras, uma quarta dimensão. E o segredo, revelado, apenas aguardava.

Rogério Camargo e André Anlub
(29/1/15)


Balé dos estorninhos




Balé dos estorninhos
(André Anlub - 14/10/13)

Vá falar aos quatro cantos
Desse enorme mundo vadio,
Fale logo, vá!

Fale aos ouvidos trancafiados,
Cimentados e mal acostumados.
Grite com todo o pulmão,
Todas as forças,
Até se esvair o ar.

E aquela velha inocência descabida? 
Deixe-a ir:
Já estava sufocada com sua maturidade,
Com seu desenvolvimento e sucesso,
Com o balé dos estorninhos.

Os passos largos, de gigantes dinossauros, são seus;
As impurezas das palavras
Impensáveis nunca existiram;
O seu barco naufragado é passado,
Ou pode até ter sido um sonho;
Ria, pois com o mar é casada
E vive à vontade com os golfinhos.

E agora rebobinou sua idade ao azul bem vasto,
Fixado no fundo da sua íris.
Poderá observar os loucos abutres
Que voam por cima de um extenso deserto
Deixando a sombra de rastro,
Com a sede e a fome,
Que os escoltam de perto.

A você




E o arrogante prepotente morreu e não ficará sabendo que a vida continuou logo após seu enterro. 

A Você
(André Anlub - 4/5/08)

A você dedico meu tempo,
Termino meu verso,
Estampo meu cansaço no corpo e na alma,
Desperdiço meu sangue que já é pouco;
Choro muitas vezes por um sorriso,
Outras por nada;
Abaixo a cabeça,
Me calo,
Me inclino,
Reverencio,
Aceito.

28 de janeiro de 2015

Dueto da tarde (XLVIII)





Dueto da tarde (XLVIII)

Ad-mirado, ad-acertado. E fim de papo - pra início de conversa.
Gente à beça com a cabeça rente na frente da travessa olhando, querendo participar na pressa, na afobação.
Ad-jacentes, conjecturas. E início do papo – pra finalizar o tempo vago.
Sentamos, observamos, conversamos: conservamos o que os anos nos deram, com incondicional paciência estudamos o que somos para encarar o que não se espera.
Uma longa espera, uma longa fila se forma – de esperas – para entrar no assunto, para ter assunto, para assuntar também; no vai e vem do vento, frio, no inverno o invento do intento de viver e esperar por ninguém.
Ad-mirado, ad-acertado: alvo fácil da ad-miração precisa, inescrupulosa, que invade o terreno da impertinência, sem clemência – beirando a loucura, beijando a decadência.
Sentamos para conversar, consentimos para conservar e a busca do centro do centro, do âmago do âmago faz renascer velhas ideologias, amadurecer antigos versos e canções que molham os olhos.
Este é o alvo e a flecha se compraz com prazer, acerta, perfura e cura seus males, nos faz navegar em outros mares, encontrar novos lares e curtir/carpir/admitir a ad-miração de viver.

Rogério Camargo e André Anlub
(28/1/15)

27 de janeiro de 2015

Algumas histórias - Parte VIII




Algumas histórias - Parte VIII
(André Anlub - 12/2/12)

Curitiba e Santa Felicidade

Outro dia bebendo um bom vinho lembrei-me de uma viagem a Curitiba:
Na época (1989) eu tinha uma tia que morava (e congelava) naquela bela cidade.
As passagens de avião ainda eram exclusivas pra rico,
Mas a juventude me fez encarar um ônibus com facilidade.
Curitiba, cidade limpa, 
Segura e de transporte perfeito,
O prefeito na época
Era mais que um político querido.
No chão nem um papel ou palito de sorvete,
Mas o frio ainda seria meu fiel inimigo.
Cheguei no inverno
E se lá fosse o inferno, congelava!
De dia eu pedalava pela cidade em uma Caloi 10...
De luva, gorro e três meias no pé.
À noite um filme com um bom vinho me esquentava.
Fiquei conhecido nas locadoras da área,
E já conhecia uns skatistas no parque Barigui.
Todos os filmes do momento eu já havia visto,
Naquela época eu queria morar ali.
Antes de voltar para casa fui conhecer Santa Felicidade
Bairro que foi um antigo caminho
(tropeiros paulistas que iam em direção ao sul).
Lugar de boa comida, vinhos de qualidade e visuais ambíguos,
Não esqueci de comprar algumas garrafas (presentear os amigos).
No dia da volta até o momento tudo era só alegria...
Coloquei as garrafas normais bem embrulhadas na mala.
Levei comigo uma grande de vinho tinto
(cinco litros)
Mas que com duas horas de viagem
Estaria vazia.
Ao passar por um buraco o ônibus deu uma pulada,
A garrafa no chão e deu apenas uma trincada.
Esvaziou em poucos segundos
O chão parecia um mar...
O vinho se espalhou no lugar,
O cheiro dominou o recinto.
O motorista resolveu não parar,
 E eu fingindo que estava dormindo.

Dueto da tarde (XLVII)



Dueto da tarde (XLVII)

Começou a festa, o batuque aumentou o volume, as dançarinas estavam frenéticas e o tempo ajudou absoluto, 
Com suas estrelas firmes, com o seu mais firme que a areia-tablado, com a firmeza da aragem que refrescava as peles,
Com o pulsar do coração do pássaro, com o congelar-descongelar do lago, com o vago inspirar do bardo e seu verso que faz verter a lágrima.
As aves dançavam junto, as nuvens eram rendadas partituras e o som dentro de cada um era um som universal, uni-versando com o bardo num fardo leve e nada breve de um tanto amado dom (que assim o leva até outra dimensão).
Começou a festa que nunca para na sensibilidade em alas, nas salas e salões amplos como os campos e os mares que o vento beija,
É festa rasteira, mas que voa ao alto; é baderna, besteira, mas coisa ajuizada e mistério, pois eleva a alma sem desprezar o inferno.
Como pode o que não pode caber no que pode? As fitas coloridas girando no corpo nas eletrizadas eletrizantes bailarinas, o som da Vida se apossando de todo o ambiente externo (e interno também), o tempo passando ligeiro (o que é de praxe quando o universo conspira) e tudo que é possível dizer da felicidade cabendo no sorriso da esperança: a de que nunca acabe.

Rogério Camargo e André Anlub 
(27/1/15)

26 de janeiro de 2015

Dueto da tarde (XLVI)



Dueto da tarde (XLVI)

Esperando um grande progresso, encontrou um retrocesso e perguntou: O que faço com este sucesso?
Era assombrosamente descabelado, algo assim como o inferno congelado e um rato audacioso.
Cauteloso, foi palpando aquela superfície viscosa, sensação de carne esponjosa, boca de espingarda se fazendo de dengosa.
Nesse meio tempo inteiro, já havia o planejo desvairado do que seria feito com tal coisa; mas nada saiu como planejado.
A vida não é o que esperamos da vida. Lição carpida em muita despedida de ilusões grandes.
Mas ele abraçou a causa, tratou de guardar na calça, pois se cansou de prestar contas à sua consciência.
Cansaço inútil: ela estaria sempre disposta a cobrar. Mostrou-lhe a carteira vazia, entretanto, e partiu sem espanto para outra. Quem era a outra? O que era a outra?
Seus pensamentos se perderam numa avenida oca, que nem eco fazia; entre tantos temores, ali, na boemia, o seu olhar agora só a via... 
Sim, só havia vê-la. Estava ali, inconteste. Esperando um retrocesso, encontrou este sucesso e perguntou: O que faço com o progresso?
Mas já sabia a resposta.

Rogério Camargo e André Anlub 
(26/1/15)

Das canduras




Das canduras
(André Anlub - 5/5/12)

Há algo doce no ar, algo simplesmente belo,
Não possui preconceitos nem tampouco orgulhos,
Voa por si só e se pousa é por receber amparo.
Cheio de valores e com aroma tranquilo...
Segue impetuoso impregnando prosperidade.
Jamais rejeitado, sua presença beira um salutar vício,
Jamais desmentido, pelo simples fato de ser a verdade.
Há algo majestoso no seu olhar, posso ver no espelho;
Rondando pelas entranhas e contagiando o sangue, 
fazendo os pés saírem do chão e as mãos tocarem o céu 
(invalidando qualquer pensamento malfazejo).
Podem senti-lo por dentro acalorando até à flor da pele, 
fazendo tudo maior, melhor e dando inspiração;
Trazendo sorrisos, forças e infinitas vontades, 
mostrando que de nada vale a vida sem emoção.

Agora há o costume de seguir o próprio caminho,
Escolher as pontes e portas 
e ficar frente a frente com o vendaval, 
sem o aval alheio, sem olheiro, 
sem frase feita e sorriso banal.

Excelente semana aos amigos

Jetsunma Tenzin Palmo nasceu na Inglaterra e foi para a Índia com 20 anos, virou aluna de Khamtrul Rinpoche, viveu 12 anos em retiro numa caverna no Himalaia, tornou-se a segunda mulher ocidental ordenada no budismo tibetano (escola Drukpa Kagyu) e fundou um monastério de monjas, onde é a responsável hoje em dia, além de oferecer palestras e retiros pelo mundo todo. Com uma linguagem simples e um foco na vida cotidiana, sem discursos eruditos, ela é uma grande professora, recomendada por Sua Santidade o Dalai Lama e Alan Wallace.



Um ser quase sábio e afins (compilação)
André Anlub

Em paz abro um gigantesco sorriso
E nada indeciso, festejo;
Meu desejo não é conciso,
E no benfazejo busco o breve beijo.

Por vezes penso em puxar a tomada,
Desligar-me de tudo, raspar a cabeça,
Limpar a consciência e ir atrás da paz interior.

Sonhei com o Tibet!
E pra quebrar o tabu, sem quebrar a tíbia:
Vou tocar tuba, dentro de uma taba,
Deitado em uma tumba.

Eu uso a Itália de bota,
Bebo a Via Láctea no café;
Sou Deus que troca Vênus pela Lua
E depois me escondo onde quiser. 

Buscando plenitude e paz no dia a dia,
Nas águas límpidas do saber viver,
Achando sempre muito mais...
É assim que tem que ser.

Choro por muitas vezes sem motivo,
Posso chorar por você!
Estendo a mão a qualquer inimigo,
Simplesmente por não aguentar vê-lo sofrer.

Tudo posso e faço,
Tudo com minha criação;
Poeta da tinta do espaço,
Sou dono da minha imaginação.

Descansando aqui no meu banco de pedra
Iluminado pela lua cheia,
Que disputa importância com o poste de luz...
Novamente, bloco e caneta nas mãos
E um pouquinho de inspiração.

Renasce com o dia a serenidade,
Que buliu com o ontem fazendo o momento,
Esculpindo o hoje de um modo mais tenro,
Fundindo o amor e rejuvenescendo.

Seduzido no deserto pela miragem,
Fica quase abolida a palavra: sozinho.
Mil dentes surgem sem prévia censura,
Fazendo abrigo no corpo vizinho.

Fez-se vida no horizonte do sortilégio,
Jogada ao vento no intento da vela.
As águas singelas, um sol amarelo,
Nos pés os chinelos de couro bem velho. 

Há aquela clara linha que guarda e guia,
Caminho dos senhores, dos guris e gurias,
Alegrando o coração no calor da emoção,
Tornando a ação repleta e divina.

A essa linha tênue se deixa um pedaço:
- Não da paz, não do corpo, da alma tampouco.
O pedaço que nutre, que fleuma e flora
Com a cor e o sabor de uma torta de amora.

Sinto muito quando meu coração aperta
E nesse aperto ele grita, se expõe e seca.
Compreendo pouco quando fingem indiferenças
E nesse embuste são vítimas de seus próprios estratagemas:

- Assim não sana a ética
- Assim que sangra a estética.

Na despedida da justa causa da vida com raro aroma de quero mais:
Faço da presunção inimiga e digo ser gratificante a paz.

Saber viver, saber esperar,
Tudo na contramão da situação.
Montar no mundo e cavalgar,
Largar o cogente por só querer.

Se o tempo é sua Nêmesis,
Levante e corra em qualquer direção;
Saia do ostracismo de um abrigo
Pois essa saída é enganação.

No adjunto de tudo que te faz feliz
Vale a pena o tempo perdido;
Se por um lado desce ralo abaixo,
Por outro alimenta sua alma.

Com sabedoria, paz e muita calma
O mundo estará em suas mãos;
Com integridade e humildade
Tornar-se-á muito mais do que aprendiz.

Ser um monge na pura meditação
Que paira o silêncio ao se encontrar,
Passeando ao redor do espaço tempo
Sem sequer ter hora para chegar.

(versa e vice)

Totalmente de bem com sua vida
Sabiamente convida ao vivo o bem,
Com sua mente muito bem na vida sã
Para conviver sabiamente com sua vida zen.

Aurora de paz, sentinela,
Seus olhos fitam o amor;
Orquestra um grito de guerra
Na companhia de um Condor.

Vejo de baixo incrível beleza,
Derramo sem piedade meu pranto...
Sem jeito, mas com sutileza,
Viro, caminho e canto.

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.