26 de janeiro de 2015

Dueto da tarde (XLVI)



Dueto da tarde (XLVI)

Esperando um grande progresso, encontrou um retrocesso e perguntou: O que faço com este sucesso?
Era assombrosamente descabelado, algo assim como o inferno congelado e um rato audacioso.
Cauteloso, foi palpando aquela superfície viscosa, sensação de carne esponjosa, boca de espingarda se fazendo de dengosa.
Nesse meio tempo inteiro, já havia o planejo desvairado do que seria feito com tal coisa; mas nada saiu como planejado.
A vida não é o que esperamos da vida. Lição carpida em muita despedida de ilusões grandes.
Mas ele abraçou a causa, tratou de guardar na calça, pois se cansou de prestar contas à sua consciência.
Cansaço inútil: ela estaria sempre disposta a cobrar. Mostrou-lhe a carteira vazia, entretanto, e partiu sem espanto para outra. Quem era a outra? O que era a outra?
Seus pensamentos se perderam numa avenida oca, que nem eco fazia; entre tantos temores, ali, na boemia, o seu olhar agora só a via... 
Sim, só havia vê-la. Estava ali, inconteste. Esperando um retrocesso, encontrou este sucesso e perguntou: O que faço com o progresso?
Mas já sabia a resposta.

Rogério Camargo e André Anlub 
(26/1/15)

Das canduras




Das canduras
(André Anlub - 5/5/12)

Há algo doce no ar, algo simplesmente belo,
Não possui preconceitos nem tampouco orgulhos,
Voa por si só e se pousa é por receber amparo.
Cheio de valores e com aroma tranquilo...
Segue impetuoso impregnando prosperidade.
Jamais rejeitado, sua presença beira um salutar vício,
Jamais desmentido, pelo simples fato de ser a verdade.
Há algo majestoso no seu olhar, posso ver no espelho;
Rondando pelas entranhas e contagiando o sangue, 
fazendo os pés saírem do chão e as mãos tocarem o céu 
(invalidando qualquer pensamento malfazejo).
Podem senti-lo por dentro acalorando até à flor da pele, 
fazendo tudo maior, melhor e dando inspiração;
Trazendo sorrisos, forças e infinitas vontades, 
mostrando que de nada vale a vida sem emoção.

Agora há o costume de seguir o próprio caminho,
Escolher as pontes e portas 
e ficar frente a frente com o vendaval, 
sem o aval alheio, sem olheiro, 
sem frase feita e sorriso banal.

Excelente semana aos amigos

Jetsunma Tenzin Palmo nasceu na Inglaterra e foi para a Índia com 20 anos, virou aluna de Khamtrul Rinpoche, viveu 12 anos em retiro numa caverna no Himalaia, tornou-se a segunda mulher ocidental ordenada no budismo tibetano (escola Drukpa Kagyu) e fundou um monastério de monjas, onde é a responsável hoje em dia, além de oferecer palestras e retiros pelo mundo todo. Com uma linguagem simples e um foco na vida cotidiana, sem discursos eruditos, ela é uma grande professora, recomendada por Sua Santidade o Dalai Lama e Alan Wallace.



Um ser quase sábio e afins (compilação)
André Anlub

Em paz abro um gigantesco sorriso
E nada indeciso, festejo;
Meu desejo não é conciso,
E no benfazejo busco o breve beijo.

Por vezes penso em puxar a tomada,
Desligar-me de tudo, raspar a cabeça,
Limpar a consciência e ir atrás da paz interior.

Sonhei com o Tibet!
E pra quebrar o tabu, sem quebrar a tíbia:
Vou tocar tuba, dentro de uma taba,
Deitado em uma tumba.

Eu uso a Itália de bota,
Bebo a Via Láctea no café;
Sou Deus que troca Vênus pela Lua
E depois me escondo onde quiser. 

Buscando plenitude e paz no dia a dia,
Nas águas límpidas do saber viver,
Achando sempre muito mais...
É assim que tem que ser.

Choro por muitas vezes sem motivo,
Posso chorar por você!
Estendo a mão a qualquer inimigo,
Simplesmente por não aguentar vê-lo sofrer.

Tudo posso e faço,
Tudo com minha criação;
Poeta da tinta do espaço,
Sou dono da minha imaginação.

Descansando aqui no meu banco de pedra
Iluminado pela lua cheia,
Que disputa importância com o poste de luz...
Novamente, bloco e caneta nas mãos
E um pouquinho de inspiração.

Renasce com o dia a serenidade,
Que buliu com o ontem fazendo o momento,
Esculpindo o hoje de um modo mais tenro,
Fundindo o amor e rejuvenescendo.

Seduzido no deserto pela miragem,
Fica quase abolida a palavra: sozinho.
Mil dentes surgem sem prévia censura,
Fazendo abrigo no corpo vizinho.

Fez-se vida no horizonte do sortilégio,
Jogada ao vento no intento da vela.
As águas singelas, um sol amarelo,
Nos pés os chinelos de couro bem velho. 

Há aquela clara linha que guarda e guia,
Caminho dos senhores, dos guris e gurias,
Alegrando o coração no calor da emoção,
Tornando a ação repleta e divina.

A essa linha tênue se deixa um pedaço:
- Não da paz, não do corpo, da alma tampouco.
O pedaço que nutre, que fleuma e flora
Com a cor e o sabor de uma torta de amora.

Sinto muito quando meu coração aperta
E nesse aperto ele grita, se expõe e seca.
Compreendo pouco quando fingem indiferenças
E nesse embuste são vítimas de seus próprios estratagemas:

- Assim não sana a ética
- Assim que sangra a estética.

Na despedida da justa causa da vida com raro aroma de quero mais:
Faço da presunção inimiga e digo ser gratificante a paz.

Saber viver, saber esperar,
Tudo na contramão da situação.
Montar no mundo e cavalgar,
Largar o cogente por só querer.

Se o tempo é sua Nêmesis,
Levante e corra em qualquer direção;
Saia do ostracismo de um abrigo
Pois essa saída é enganação.

No adjunto de tudo que te faz feliz
Vale a pena o tempo perdido;
Se por um lado desce ralo abaixo,
Por outro alimenta sua alma.

Com sabedoria, paz e muita calma
O mundo estará em suas mãos;
Com integridade e humildade
Tornar-se-á muito mais do que aprendiz.

Ser um monge na pura meditação
Que paira o silêncio ao se encontrar,
Passeando ao redor do espaço tempo
Sem sequer ter hora para chegar.

(versa e vice)

Totalmente de bem com sua vida
Sabiamente convida ao vivo o bem,
Com sua mente muito bem na vida sã
Para conviver sabiamente com sua vida zen.

Aurora de paz, sentinela,
Seus olhos fitam o amor;
Orquestra um grito de guerra
Na companhia de um Condor.

Vejo de baixo incrível beleza,
Derramo sem piedade meu pranto...
Sem jeito, mas com sutileza,
Viro, caminho e canto.

25 de janeiro de 2015

Dueto da tarde (XLIV)



Dueto da tarde (XLIV)

Um homem, uma mulher, uma criança. O sol no horizonte pensa coisas:
Será que o mar quer desaguar no rio, por que as dunas fogem com o vento, o calor sente remorso do frio? Há felicidade na infelicidade, será que a abelha não quer ser flor, será que a flor não quer ser abelha? 
Uma criança, uma mulher, um homem. O sol no horizonte conclui coisas. Mas fica com as conclusões para si mesmo; não quer entrar em parafuso, não quer ficar confuso, mudar o fuso do seu tempo, tampouco a fase de ser tudo.
Enquanto ele decide suas coisas, as coisas se decidem. Uma mulher, um homem, uma criança diante do sol de um horizonte inteiro descobrem que são de uma linhagem, de uma unção verdadeira, que não morre no final da tarde e não nasce nas manhãs corriqueiras. 
Tomam-se pelas mãos beijadas por este sol, caminham na direção do horizonte, a fronte erguida como para o que não pode ser visto no chão; sentimentos implodem – explodem – eclodem e a lágrima cai nos cantos dos olhos,
Porque uma mulher, um homem, uma criança são toda a humanidade em seus passos frágeis e vacilantes em direção ao cíclico desafio de criar/recriar a alegria (que fica por um fio), de viver etéreo, de controlar o engraçado e o sério e seguir em direção ao que não tem direção mas está lá.

Rogério Camargo e André Anlub
(24/1/15)

Dueto da tarde (XLV)




Dueto da tarde (XLV)

Hoje resolvi fazer uma “limpa”, jogar coisas fora, doar outras e queimar cartas antigas que já não me dizem mais nada mas insistem em continuar dizendo.
Pensei nos diversos momentos, coisas alegres e as que foram difíceis de superar; 
Coisas superadas e difíceis de alegrar; coisas dentro de coisas e fora. Fui erguendo minha montanha e decorando com fauna e flora; fui levantando a bola, redondinha na área, para o futuro vir, mirar e chutar...
Tenho esperança de vibrar com a minha torcida, beijar o escudo de meu time, dar socos no ar. Mas o que acabo vendo me decepciona um pouco; o pouco que busco, o brusco deixou de lado, escondeu... acho que sepultou junto ao legado.
Faço o gol, todavia. Se vai me dar a vitória, a glória de limpar a memória, só o tempo me dirá.
Tento andar na linha, toda vida. Quero o melhor para mim, mas também vou me doar mais e racionalizar.
Racionalizar a doação, não racionar a doação... Tudo aponta para a mesa limpa, o quarto limpo, a casa limpa.
Sempre penso que poderia, aqui e ali, ter sido diferente... mas passou; agora é agir calcado nos enganos, para as mudanças e os objetivos acontecerem e não ficarem só em planos.
Talvez eu tenha que limpar minhas ilusões também. Mas isso fica para outra faxina. Já trabalhei demais hoje. Vou jogar bola.

Rogerio Camargo e André Anlub 
(25/1/15)

São Paulo, 461 anos!



São Paulo – SP
(André Anlub - 24/1/13)

De tudo que leio
Que vejo e escuto
Nada e nem tudo
Pode descrever-te.

Sampa é só flerte
É paixão e poesia
Cultura, boemia
Endereço e adereço.

Sampa de apreço
Será que te mereço?

Pois me perco em teu ritmo
Teus ecos, teus signos
Nas noites em delírios.

Sampa da arte
Moderna e eterna
Museus e histórias.

Cidade mutante
Bravos bandeirantes
Lar dos retirantes
Alçada na glória.

24 de janeiro de 2015

Meu mar é mais melo que marmelo



Meu mar é mais melo que marmelo

Dizem que a inspiração vem pelo ar,
(e é absurdamente bem-vinda, como o amor esvanecido),
E as asas invisíveis já estão batendo, em sintonia...
Distintas criações e influências passeiam pelo ar;

Dizem que surgem e vão-se como uma espécie de epidemia... voejando;
Passam por frestas de janelas, levantam e assentam folhas, poeiras,
Ouvem besteiras da larga e desumana boca da intolerância
Que um dia há de se acabar.

Seguem voando...
Incidem nos cabelos das morenas, das meninas,
Pegando carona em seus luxuosos pensamentos...
Aprofundam-se em sonhos e estacionam (provisoriamente) nas imagens, 
Nascem delas ou as inventam; criam pessoas, situações; 
Criam o mar e canoas – criam o navegante – esculpem a perfeição.

“Queijo coalho, pamonha, acerola, açaí”.
Gritou o vendedor enquanto eu resolvi rabiscar esse texto;
O açaí lembrou-me o mar.

Quero o som do mar, a visão do mar, o sabor do seu sal,
Tombar na monumental percepção de bem-estar;
(mesmo estando longe, e onde mais eu estiver, e hoje, e sempre)...
Quero seus beijos, seu toque, seu banho.

O açaí e o tudo me lembram o mar,
Lembram que o amor foi mergulhar e não voltou,
Pois se transmutou em mar...
E está bom, está de bom tamanho.

André Anlub
(24/1/15)

Herói trágico




Herói trágico
(André Anlub - 14/7/12)

Tsunamis - terremotos
Almas penadas:
- fragmentos de episódios de um cotidiano singular,
Cheiro de eucalipto na cheia banheira da casa,
Banhos de sais e velas acesas só fazem ansiar.
Um amor perdido e desperdiçado
Assusta os ponteiros da vida (montanha russa).
Falam bem alto que o tempo é esgotado,
Aprenderam a lidar com a lida.
Pintam os olhos encharcados com cores de fúcsia,
Relógio antigo na parede carcomida.
É de matar! Sim, de matar...
Já com seus anos vividos e ainda teme paixões;
Burro de carga em estradas esburacadas;
Coração mole de pedra de açúcar;
Herói trágico de sua própria vida.
Deitado em uma cama de vime,
Ou de pés bem calçados no chão,
Pensa que sabe o que é fome,
Cometendo o pior dos crimes:
Ingratidão!

Santos de madeira




Santos de madeira
(André Anlub - 25/12/11)

Pés descalços pisam nas britas,
Que parecem pequenas brasas.
Colher de boia fria na marmita,
Colher de pedreiro nas mãos,
Ensaiando seu karatê. 
(aiá!)
Cheirando cimento,
Colando o pulmão.
O sol fulgente e quente 
Cortando de um lado ao outro
O céu mais limpo.
Rito habitual,
Frito obituário.
Às vezes pisca para a esperança
E o sol ri da sua cara.
E ele, cá embaixo,
Suando em bicas,
Pensa que há uma missão a ser feita.
(e há!)
Nas horas vagas é escultor,
Faz santos de madeira.
Com a ponteira acerta os pontos,
Com o cinzel talha o formato
E a plaina aplana a vida.
(...) E o verniz como o brilho nos olhos
Da lágrima que se mescla ao suor.

Seu chão




Seu chão
(André Anlub - 1/1/13)

Pele morena e queimada de sol
Salgada de mar – dourada de paixão.
Marquinhas brancas em lugares capciosos
Apetecem meu doce paladar.
Cabelo em ondas e o sorriso largo
Perder-me, me encontrar e desfrutar...
Desvendar é vago.
Vou com seus passos e na sua lida,
Vida de beijos e calenturas.
No seu mundo de flores e sonhos
Vejo inenarráveis loucuras.
(p) reparo seu banho,
Aqueço seu corpo,
(a) prendo seu prazer.
E, enfim, desbravo a região...
Sou anão, sou colosso
Errante – jovem – ancião...
Sou amor e pecador
Me perco – me acho
Capacho – seu norte
Sou seu chão.

23 de janeiro de 2015

Dueto da tarde (XLIII)



Dueto da tarde (XLIII)

Passou correndo, comendo vento e, naturalmente, declamando poesia.
Naturalmente, o eco respondia. E ao que respondia o eco ele correspondia:
Venha poesia! - A cada verso solto, o eco, em dueto, soltava outro novo...
De dois em dois, não fizeram quatro nem vinte e dois, mas o que veio depois foi arte, foi ofício, foi o sacrifício em abraços de incondicionais lirismos.
O frenesi da intensidade também era a admiração pela extrema calma que o momento continha.
Assim, fazendo uma pequena continha, de dois em dois davam passos muito além de uma perna, como uma peregrinada eterna pela terna inspiração, moderna/arcaica forma de viver o mundo.
Eram completos em contemplar a candura da natureza; eram distintos, pois tinham a grandeza de apenas ser meramente simples.
Foi simplesmente isso, então. Passar correndo, alimentando-se de vento e expulsando a poesia das veias como se fosse um raio, ou até mesmo um parto raro, algo necessitando plena liberdade, carecendo de ar para tornar-se eco e explodir em sons coloridos, em cores musicais, em formas diluindo-se, em etéreas concretudes, em atitudes e gestos sem protestos e protestando vida até a morte.

Rogério Camargo e André Anlub 
(23/1/15)

Ziguezague e “ziquizira”




Ziguezague e “ziquizira”

Na vida da dama os fulgentes ofícios
Dócil anjo do hospício que tingiu em sua vida:
Guaches, canções, letras, artifícios...
Do repente que trouxe delicada guarida.

Ziguezague de arranque, bucólico sentimento,
Mão dançante e frenética da mente produtiva.
Ziquizira que se rendeu ao faminto fomento
E no momento só enxerga a real perspectiva.

Andarilha no trilho, falcão de voo sucessivo,
Faz do seu trabalho o ato muito mais expressivo.
Do suor do seu couro nesse denso mundo raro,

Faz de seu umbigo somente mais um detalhe.
Que a inspiração não suma, não durma e não falhe...
E se doe doce no eterno, açucarando o seu faro.

André Anlub
(24/8/14)

22 de janeiro de 2015

Um pouco de humor...




Para ponderação




Hoje me lembrei de ondas que surfei
Das "vacas" homéricas
Caldos eternos
Lembrei que surtei em mares no inverno
Em "pelo" no gelo
E o roxo dos lábios.
Lembrei-me de amores perdidos
De dores achadas
Meninas histéricas
Mulheres imaculadas.
Lembrei-me que a vida é um duelo
Dos práticos com os sábios
Do medo e o zelo
Do ter tudo sem nada.

André Anlub®

Resgate (do livro “Poeteideser”)



Resgate (do livro “Poeteideser”)
(André Anlub - 7/3/10)

Resgato minha vida a cada letra que escrevo:
- bela nostalgia, linda poesia,
Um coração e seu adereço.

Mergulho em sonhos,
Romantismo, cárcere;
Abstenho-me,
Choro e obedeço.

Na ponta da língua estão os amores,
No resto da boca, as paixões.
Conjugo verbos de pura magia,
Agarro as orgias e largo orações.

Transmito uma calma por onde transito,
Nas palavras que escrevo confio no meu taco;
Admito no entanto que gosto desse conflito;
Grito não a melancolia e seja bem-vindo ao Baco.

No final das horas escrevi várias linhas,
Levantei castelos de imaginação.
Concedi ao inferno a minha presença
E ao firmamento entreguei minhas mãos.

21 de janeiro de 2015

Anéis de ouro branco




Anéis de ouro branco
(André Anlub - 27/7/13)

Teus anéis de ouro branco,
Brilham como os dourados;
São de dureza feito ferro,
Redondos como o globo.

Anéis como tu és:
Valiosos e únicos,
Carregados com gosto,
Mas que ostentam a penúria
De serem vistos e terem utilidade.

Tu viajas onde divagas,
Devagar, reages.
Vives na teia da aranha que abraça o todo:
O mundo, as pessoas e os desejos.

Na elegância que tens, 
Encontras versos na ponta do lápis.
E todos tem dito:
- como é bom ler-te, cada letra,
cada frase, cada verso...
A união das palavras em coito vivo.

Está ai, pra quem quiser ver:
- a paz e o amor!
Que saem do coração e derramam
Em delírio, em choro e grito.

Dueto da tarde (XLII)


Dueto da tarde (XLII)

Fomos até onde a curva da estrada já não era mais a curva da estrada,
Tornou-se uma nanica quimera desamparada, desejo que foi para o brejo.
Nenhuma vaca atolada (no brejo ou fora dele) poderia contestar: a curva da estrada sumira sem deixar endereço.
Perguntas eram constantes, interrogações que voavam sem rumo, mas havia uma variante: o silêncio inquietante do mais adiante, incógnita gigante.
Algumas bocas falantes – mexeriqueiros que sabem de tudo (até do que não existe), diziam ofegantes em alerta: a curva da estrada não mais existe... tornou-se uma reta.
Perdendo-se no horizonte, perdendo-se no infinito, a estrada, feito a barca de Caronte, pouco se importava com gritos.
Fomos então até à beira de um abismo, bisbilhotar; ele nos encarou, olhar sedento, olhos de Lince aos quatro ventos.
A curva da estrada não-mais passou a ser a profundidade do abismo agora-e-sempre; nada mais ficaria exato, claro e no agrado se não houvesse o fútil e inútil interesse em saber o destino da estrada.

Rogerio Camargo e André Anlub

(21/1/15)

20 de janeiro de 2015

Houve um tempo



Houve um tempo

Um homem saiu para procuras utópicas
Longe de pessoas estigmatizadas 
Com tatuagens internas do interesse e da cobiça;
Focou os fulanos que não apontam dedos,
Vivem livres de julgamentos,
(amores, famílias e conhecidos – pérfidos);
Vivem presos a coisas próprias,
(autoconhecimento).

Houve um tempo que a vida era quente,
Saborosa, bem passada, ou no ponto, ou al dente.

A vida abraçava o fulano, ofertando beijos,
E nesses beijos o vendava;
Ao invés do breu ele assistia a um filme,
Sentia o vento, saboreava vinho,
Vida com ritmo, alegria entorpecente.

Fulano se conhecia muito bem... 
Defeitos – qualidades
Força – fraqueza.

Foi um homem como muitos outros,
Apenas não desistiu, não entregou o jogo.
Cresceu, mas continuou criança,
Seguiu na andança além dos delinquentes.

Fulano gostava dos paradoxos da vida, 
Das antíteses do ser, do estar, do viver;
Gladiava-se com algumas sombrias sombras
Festejava com algumas brancas brumas.

Houve um tempo e esse tempo se foi.
Há o hoje com pintura, com moldura, 
Com belo verniz e cores vivas.
Tela pendurada na muralha,
Com solidez...
Pois há a arte armada de presente.

André Anlub
(20/1/15)

Dueto da tarde (XLI)





Dueto da tarde (XLI)

Em absoluto sigilo o coração transformou-se num ninho e o ninho que o coração era abrigou o que não era
Uma espécie de guerra ente anjos e feras, que formam uma indecência e ferem fincando as fictícias facas nas faces de maleficência.
Era outra espécie de guerra, onde os sentimentos, por momentos, à voz dos ventos, iam de lamentos a euforias.
Se via nas entrelinhas que formavam-se grandes festas que aparavam as arestas nos corações de inocência.
Coisas do coração, diriam os simplistas, conferindo listas e indo para as pistas de corrida fazer apostas.
Coisas da poesia, diriam com ironia, os apaixonados de plantão; achando que não haveria outra resposta à questão.
Enquanto o isso o coração, sem compromisso de antemão, fazia disso a relação de A com B, de B com A sem que o ABC soubesse de mim/você, podendo assim se intrometer, quebrando o verso e fazendo, de resto, com plena satisfação,
O que as satisfações fazem, mesmo insatisfeitas. Desta feita, porém, o ninho aninhava e esperava o que de melhor estaria chegando:
O dia em que o dia traria o dia e a noite juntos, de braços dados como o que se abriga contraditoriamente, complementarmente no coração.

Rogério Camargo e André Anlub
(20/1/15)

Mesmo assim



Mesmo assim

Agora mesmo a alegria passou por uma rua,
Ela estava nua, estava fula, estava atormentada e vadia.
Olhou em todas as portas, portões, porteiras;
Olhou por cima dos muros e em murmúrios
Resmungou algumas asneiras... eram loucuras, coisas cruas...

Ela abriu janelas e meteu a mão nos cestos de frutas
E nas caixas dos correios...
(pegou algumas contas, cartas de amor, maças, peras).

A alegria soprou uma brisa, apagou algumas velas,
Espalhou a fumaça dos charutos e incêndios;
Atrapalhou as preces, os cantos nos terreiros;
Atrapalhou enterros e desacelerou as pressas.

Agora mesmo senti seu cheiro de mato lavado,
Senti seu ar gélido, fresco, encanado;
E como um refresco me afagou por dentro...
Acalentando meu mundo e meus imundos pulmões.

Vi alegria em multidões, senti suas fragrâncias...
Mas novamente vi a dor;
Senti o odor do suor dilapidado
Pelo horror de intolerância.

Mesmo assim a alegria me deu “bom dia”,
Concomitante que media o tamanho do estrago, 
Tragada e hipnotizada pela hipocrisia
Da constante desarmonia dos cínicos embargos
Nos livres-arbítrios de nossas/fossas vidas.
Mesmo assim a alegria me deu “bom dia”.

André Anlub
(19/1/15)

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.