14 de janeiro de 2015

Limpeza (Um quê de Bovarismo)




Limpeza (Um quê de Bovarismo)
(André Anlub - 11/11/13)

A realidade concorre com minhas vertentes,
E elas, céleres e insanas, saem na frente:

- Ouvi dizer que sempre vale a pena.

Faço roleta russa com o imaginário
E nesse voar de um total inventário
Castram-se cobiças e integra-se a pena.

Vozes tendem o som do trovão,
Apocalíptico pisar no vil tédio.

Letras brotam num mata-borrão,
Curam, inebriam quão doce remédio.

- Tenho certeza que vale a pena.

Estouram paixões sempre aludidas,
Cantam canções, danças nas chuvas.

No certo e no cerco um céu de saídas,
Arte que inspira expurgando áureas turvas.

Gosto é gosto, e gosto que gosto:

Gosto de dizer:
Esvazie-me – preencha-me,
Conheça o verso e o avesso,
Rima após rima,
Sabe que deixo!

(...) e depois, ao acordar sozinha,
Vá viver se estou na esquina.

Há vidas passando



Há vidas passando em lembranças 
Que surgem ao fechar dos olhos
Nos quentes lençóis e frias noites
No embarcar e ilusões.
Há guerreiros, fantasmas internos
Munidos de lanças, espadas
Com a cabeça em redemoinhos
E sentimentos em explosões.

André Anlub

Gostei tanto


Gostei tanto
(André Anlub - 17/3/13)

Gostei tanto que quis vivê-lo novamente.
Se for preciso passar por todos os problemas,
Tentar estacionar nos bons momentos.
Pronunciar diariamente que a amo
- Afagos e abraços corriqueiros.
Gostei tanto que congelei aquele sussurro,
Aquele sorriso, aquele beijo.
Congelei o suspiro, o pão de queijo,
A quiché, a pimenta do reino.
Congelei o licor de menta (ficou uma merda),
Congelei o peixe.
Nadamos na praia e dançamos na chuva,
Rimos juntos e choramos também. 
(ninguém é de ferro)
Digo agora e direi sempre que não posso,
Não posso viver sem!
Nem como amigo - nem como abrigo
Nem louco ou zen.
Gostei tanto que quero mais,
Até tento gostar menos!
Mas é em vão.

Dueto da tarde (XXXVI)


Dueto da tarde (XXXVI)

Quando a primeira luz do primeiro sol beijou a primeira praia
Criou o perdão, colocou a mão nas cabeças pensantes (e não).
Houve um rebuliço entre as estagnações. Criaram mais de quatro estações
E assim deu-se início ao sacrifício, ao precipício, rumo ao ser feliz.
A primeira luz/dificuldade foi saber o que era ser feliz.
A segunda foi reter/manter quem – qual – tal – o que vier.
A terceira foi o próprio sol beijando a primeira praia e não sabendo que nome dar a si mesmo.
O sol estava hesitante, pois nesse instante vinha o receio de que tudo que fizesse seria dedicado ao amor pela areia/praia/mar, tudo que compunha o lugar.
Talvez fosse o momento do vento intervir. Mas ele também estava amando, namorando a brisa, assim como a brisa beijava as folhas, levitando-as e levando-as para seus destinos, seus funerais.
Não foi a última vez que foi a primeira vez. Mas aquela sintonia-sinfonia-sincronia estava formada, estava predestinada a ser o que era para ser, sem precisar de porquês.

Rogério Camargo e André Anlub
(14/1/15)

Dueto da tarde (XXXV)



Dueto da tarde (XXXV)

Quando a luz incidiu no diamante dos teus olhos, coloriu meu mundo
E eu já não era mais um garimpeiro de mãos gretadas, batido pelas decepções.
Ouvi as canções no meu antigo coração surdo; soltei falações da minha boca de mudo
E pude ver o que minha vista cega de procuras falsas ainda não tinha visto, pois já fui um ser oprimido, castigado pela vida e pela lida, e abandonado pelos pais.
Encontrar o que encontrei em ti me encontrou. Das coisas que me disseste vem o mais importante: aceitação do meu pedido de companheirismo na aceitação de ser minha sombra.
Luz e sombra. Garimpo e diamante. Cansaço e renovação do dia-a-dia na voz de um silêncio pura melodia que anima minha alma e alivia e quebra as pedras do meu corpo tirando-me do imóvel.
Contigo sou movimento. E me movimento em tua direção, abrindo meus braços ou ajoelhando aos teus pés, redescobrindo o viés, não importa nenhuma outra importância porque entre nós a distância caiu da bateia.
Agora esta luz que vejo multicolorida não precisa mais incidir no diamante.
Agora a pedra preciosa é nossa vida, a vida nossa construída, desenvolvida de forma assim (pedra) preciosa.

Rogério Camargo e André Anlub
(13/1/15)

13 de janeiro de 2015

Despedida XIII





Despedida XIII
(cozinheiro de banquetes)

Quando busca a inovação encontra o aconchego,
Não tem medo, e o mergulho é de cabeça.
Na sinceridade da devoção pelas letras, na fé na escrita,
Na aflição esquecida, morta, afogada na tinta,
Mergulha... e de cabeça.

Solve a arte, respira até pirar, come a arte,
Sente, brinca, briga e se esbalda.
Balde de água fria, quando ele quer que seja;
Balde de água quente, quando ele quer que ferva.

Na construção das linhas, ele sonha...
É um gigante em solo de gigantes (é um ser igual).
Nada é pequeno ou menos, mas ele é gigantesco;
Nada é estranho no pensamento sereno. (a mente é sã)

Criou algo mais do que o passo à frente,
Excedeu-se, ousou – usou e abusou.
Chegou a ser inconsequente...
Até achou que passou rente do perfeito (foi bem feito),
Pois assim tentará mais e mais, e irá tentar sempre.

E aquele gigante, aquele ser igual?
Foi para terras inóspitas e foi jogar novas sementes,
Agarrar novidades e desbravar castos campos.

E aquele cozinheiro?
(sonhou e se levou)
Cozinhou pratos raros e fabricou azeites,
Adornou a mesa com belos enfeites,
Chamou parentes, chamou amigos,
Encarou os indigestos...
Assim tornou-se quase um guerreiro,
Escritor, amigo, artista, rico e mendigo,
Cozinheiro de banquetes, ritos e festas...
Tornou-se gente e verdadeiro.

André Anlub
(12/1/15)

Som do novo, som de novo!




Foi hoje pela manhã
(André Anlub - 7/4/12)

Solto os verbos com as rimas
Loucura sob o céu que observa
Fortes são minhas asas que vão ao vento
Fazendo do meu mundo minha quimera.

Sem bússola e sem direção
Emoção no contato com novos povos
Povos com ritmo, sem inadequação...
Que eternizam a ação do tempo.

Nas paredes descascadas das igrejas 
Visíveis imagens do envelhecimento
Desmascaram as pelejas
Nas esquinas religiosas.

Joelhos ao chão em devoção
Entregam-se ao fado hipotético
Aproveito e solto meu canto poético
Afiada e desafinada oração.

Na saída não apago a luz
Entregue ao provável destino
Com estilo de esporte fino
Nos pés um belo bico fino.

Charuto cubano no boca
Fito no horizonte o disparate
Aceno para qualquer boa pessoa
Quero à toa uma guarida.

Volto do meu voo imaginário,
Toquei o belo azul turquesa,
Preservo com idoneidade e clareza
O que ponho no papel da minha vida.

- Quero ouvir a verve gritando
Ao mundo, ao pouco, como louca rara.

Preciso da sua leitura, 
de corpo nu em noite tão escura 
que nem estrelas darão as caras.

Excelente terça rapazeada poética




(27/5/14)
Existe o mundo como enorme tela branca à qual tem que curvar-se para pintar perto do chão e todos observarem, ou subir a extensa escada para o pincel alcançar o limite onde a visão é parca; a tela onde alguns pintam a pobreza, outros o conforto, alguns criticam, não gostam, atrapalham as pinturas e tentam lavar com água e sabão enquanto a própria consciência fica aguardando o esfregão; Eles existem e coexistem, mas muitos deles, muitos mesmo, nem sabem o que é pintar.

(28/5/14)
Escrever muita gente pode/escreve/deve/quer, mas conteúdo é outra história. Se o autor ficar atormentado com fama, barganha, carreira e/ou lucro, não sobrará tempo para evoluir na escrita; há de se ler e escrever ao extremo, com constância, afinco e exaustão (e toda a redundância que há). A meu ver a escrita tem que primeiramente ser um hobby, algo que se faça com muito amor e muita paixão, que caminhe junto com sua labuta normal/diária (ganha pão).

(27/5/14)
Vez ou outra há um milagre só pra tal pessoa; 
Não há registro, palavra, pintura, período, motivo ou à toa; não há contorno ou qualquer som que ecoa. Os olhares e bocas insanas em agonia
Sequer saberão o que realmente houve, e se houve... Não importa a vil lamúria
Dos olhos rebeldes da cobiça. 

12 de janeiro de 2015

Os vivos corais do mar morto




Os vivos corais do mar morto
(André Anlub - 11/6/13)

A ideia vai e vem à paisana, é assim:
Olá, escreva-me, como vai?
Ouço certo do outro lado da muralha
E a imaginação não se esvai
Como um surto atípico...
Não me corta feito navalha,
Nem me beija como o fim.
Reaparecer requer confiança.
É aceitar o dom que foi dado de herança,
Sem nem mesmo querer receber.
Tudo fica mais intenso e brilhante
Quando as barreiras caem.
Pode-se ver, ouvir e sentir - o além.
E quando vem a implacável esperança,
Ponho-me a escrever cada vez mais.
O azar eu nocauteio com certeiro soco no queixo;
A solução está no fundo do mar...
Prendo o fôlego e mergulho até lá,
Mesmo em plena maré cheia.
Pude ver belos corais que fazem desenhos
Que completam os traços nos corpos dos peixes.
Vi o majestoso feixe da luz do sol incidente
Que faz contentes as arraias que se entregam.
Enfim, vou repetindo as dicas
Que venho recebendo na vida.
Adaptar-se é fácil, complexa é a nostalgia!
principalmente das farras em família,
Das ondas que vi o mar oferecer.
As paixões incompletas estressam,
Surgem, mas não se deixam ver.
Ficam cobertas com o manto da noite
E somem no mais sutil alvorecer.

Um ser imbatível




Um ser imbatível
(André Anlub - 14/10/13)

Avise-me quando tiver um tempo,
Caso eu não esteja, por favor, deixe recado.
Passo por maus bocados sem a menor notícia sua,
Vivo um grande tormento olhando os velhos retratos.
Para o meu conforto tenho seus poemas tatuados,
Às vezes os leio a esmo para desmanchar possível mácula; vejo uma fábula que outrora romance barato, erguer-se das cinzas, renascer do cálido aborto.
Agora vago tão-só, sem rumo, em nuas noites sem lua, em garrafas de gargalo torto - vivo com a vida nas mãos, cambaleando na esperança do zero multiplicado por doze e na dose dos passos brandos, gasto meu quinhão.
É, sou impostor vivente, fantasioso e sensível,
Mas é vantajoso passar o inverno nessa novela.
Pinto com aquarela a imagem de um deus no céu,
Escrevo no papel minha quimera de um ser imbatível.

Poema futuro




Poema futuro
(André Anlub - 4/9/13)

Um homem joga o seu jogo mais brilhante,
Se for conciso é um tom preciso e crucial.
Sendo o mais temido caçador (poeta e amante)
Que com unha faz tatuagem da alcunha de imortal.

Até o momento ninguém aqui teve tanta sorte,
O clima sempre bom e o vento às vezes forte.

O solo produtivo e ao longe os tambores
Rufam os amores de um hoje acontecido:
- e vão saudades e ficam sonhos
- e vão estranhos num tempo amigo.

A lua saiu com frio e tão pálida,
Pensamos que estivesse acamada.
Veio a nós pelo mar e tremendo
Até chegar à praia...

E assim deu-se o beijo.

A lua olha por todos os lados,
Chora por quaisquer dores,
Explica a atual loucura de não mais existir o pecado
E nascer cada vez mais pecadores.

Dueto da tarde (XXXIV)



Dueto da tarde (XXXIV)

A graça iluminou-se com uma lembrança pueril. Era um dia comum de setembro e, se bem me lembro, também me iluminei por aqui.
Nada diferente havia no ar e, no entanto, enquanto mesmo indigente me fiz abrolhar, na poesia que pari.
Havia uma cor na cor que deixava o desbotado da mesmice pensando em vermelhos de calor; 
Era algo nada vago, assim como a brisa que há na brisa quando a brisa se acalma e na alma se apressa, para acariciar a brasa que de birra teima em queimar.
Tudo isso a graça sem assédio passava na lembrança e, com ou sem intermédio se deixava levar, sempre com finura e harmonia na memória vinha.
O que era simples e era completo, o que era singelo e era absoluto, o que não tinha importância e definia uma vida de “poète maudit”, de poeta matuto, que pega a caneta e lança no oportuno.
Oportunamente era a graça. Oportunidade sempre há – de graça. E a cor do lápis vive a prática: a arte se inspira em nada e em todos: cores, dores, amores, graças e desgraças... tudo soprando numa lembrança/presença.

Rogério Camargo e André Anlub
(12/1/15)

Despedida XII




Despedida XII
(corpo e café – torrados e moídos)

Hoje me sinto dentro da melodia
“Rio quarenta graus”;
Mas quarenta... só se for na sombra.

A aura parece que quer deixar a carcaça
E se perder na atmosfera.
O sossego berra, a quietude é onipresente...
Mas “péra”...
Ouço o tilintar dos dentes,
Como se fossem lâminas de aço.
Saboreio a pera,
E o sumo resseca meus lábios.

Meu lema para sair da lama
É sorvete de lima-limão
E um chá verde gelado.
Estão bebendo cafés quando esfriam,
Vi gente saindo pela rua, pelado.

Agora a aura quer ficar no corpo,
Um bom banho gelado.
Ao alto as audaciosas asas de Ícaro,
Há tempos derretidas...
Agora aparecem em nuvens, desenhadas.

Vejo o futuro, não vejo sempre muito boa coisa;
Há decepção, sempre há;
Há ressurreição, tem que haver.
Há de aparecer alguma ligeira solução,
Nas poesias sinceras despontadas.

Sai da melodia, penetrei no sigilo
Já são bem mais de meio dia;
Entrei entre as almofadas
E sorri para a nostalgia.

André Anlub
(11/1/15)

11 de janeiro de 2015

Tempo de rir...


Dois rabiscos...


Despedida XI




Despedida XI

Cobiçando a luz do sol
Que passou pela porta
E me deu um sorriso.
Fui correr atrás,
Fui ao encontro do calor.
Desci pela rua feito a bola
Da pelada de domingo.

E a chuva? 
Também amo, clamo e quero;
Gosto da água batendo no corpo e no rosto,
Gosto do gosto, do cheiro e do aspecto.

Vai deixar lembrança;
Vai deixar vontade de voltar;
Curto o zelo,
Assim, quem sabe eu volto,
Em outro tempo (há esperança)
No lamento em saudade,
No aumento das panças
E cair dos cabelos.

Pego novamente minha espada,
Sempre fui eclético;
Sempre tive sorte.
Esqueço minha lança,
Deixo-a na estrada,
Mas só por empréstimo,
Deixo com São Jorge.

André Anlub
(11/1/15)


Despedida X




Despedida X

A vida é assim: 
De repente a batucada do Olodum;
De repete um “pam” e tchau.

Foi nesse pensamento antigo
Que começou a abraçar excessos.
Nessa sensação de trem expresso
Que já vai chegar, já está chegando.

Usava como sombras a boemia,
Nostalgia e a arruaça.
Ontem ele era um pouco doido,
Hoje continua sendo,
Apenas segue fazendo
Um pouco menos de alvoroço.

Foi cachorro louco,
Daqueles que despontam nas esquinas,
Com alma de menino
E pensamento torto.

Hoje ele é mais ponderado,
Muito mais “na dele”;
Hoje segue na trilha
De trem Maria Fumaça,
Sentindo na alma e na pele
O que deixou no passado.

A vida é assim:
De repente acaba o repente,
Acaba o velho e o novo,
Acaba a sobra e acaba o ouro...
É nesse estouro que se vai um corpo:
(casca de ovo no galinheiro de um Deus)

André Anlub
(11/1/15)
Alguns minicontos:

- Eu tinha uma coisa pra te dizer.
- Eu também tinha.
- O que é?
- O que “era”. Pois eu disse que “tinha”. E você?
- Bem, eu também disse que tinha...


Bazingo queria entrar para a política. É a maior mamata, dizia. Não faz nada, ganha bem e ainda tem uns por-fora que dão uma grana violenta, cara! E como é que você pretende chegar lá, perguntavam os amigos. Bazingo ainda não sabia. Mas o prêmio final era tão bom que, aparentemente, ele estava disposto a qualquer coisa para conquistá-lo. Por via das dúvidas, sua mulher passou todos os bens do casal para o nome dela e dos filhos.


A mãe dela era gorda, o pai também, seus avós eram gordos e, até onde ela sabia, seus bisavós de magros não tinham nada. Zubika, no entanto, era um fiapo de gente, uma sílfide. “O senhor tem certeza?”, disse ela ao endocrinologista depois que ele garantiu que ela era normal.


Colocar as coisas em seus devidos lugares. Era tudo que Reginuvo queria. Tudo que Reginuvo não queria era continuar com as coisas fora de seus lugares. Mas teria que chegar a cada uma delas. E teria que agir sobre cada uma delas. Reginuvo tinha muito trabalho a fazer.


Zepecka odeia perder tempo, oportunidades, tudo que dê a impressão de que poderia ter feito e não fez. Então Zepecka não se deixa em paz.


O Sim marcou encontro com o Não já sabendo o que ouviria. Mas como vivia de esperanças, chegou como se tudo fosse mesmo possível.

O apartamento tinha um banheiro só. Moravam seis pessoas ali. O sonho de todas elas era ter um banheiro exclusivo e poder passar lá dentro o tempo que quisessem, até morar lá dentro se também quisessem. Nenhuma delas conseguiu realizá-lo, todas tiveram que se conformar com horários, pressa e pressão.


O cliente chegou pedindo o impossível.
- Mas está aqui no anúncio!
- Isto é apenas um anúncio, senhor.
- Como assim, apenas? Quer dizer que não é para acreditar nele?
- Não ao pé da letra. O senhor com certeza sabe o que é uma metáfora.
- Mais ou menos. Mas com certeza eu sei o que é uma enganação.


Cassandra tem duas bocas. Com uma boca ela morde, com outra boca morde também. Cassandra poderia explicar por que, mas detesta perder tempo falando.

(Rogério Camargo)

Dueto da tarde (XXXIII)




Dueto da tarde (XXXIII)

Cavei no fundo da alma para tentar achar aquela paz esquecida. 
Cavei com as unhas cansadas já de procurar na carne exausta a alegria que um dia encantou-se com a melancolia.
Encontrei sonhos antigos, sons que eu gostava, leituras empoeiradas, luas vazias e sóis apagados,
Recostei-me na montanha do desconsolo, olhando longamente o que desfilava lentamente
E ponderei: já foi feito o bastante, o possível... cumpri minha missão ou haverá novas batalhas?
As unhas quebradas me responderam que aquela muito era já uma nova batalha. Ergui então o torso curvado, não me senti ultrajado, arregacei as mangas, chupei umas mangas e encarei meu fardo.
Dele me veio a certeza de que não preciso ter certeza. Dele me veio a força de que só preciso ter força.
Então levantei do banquinho do pessimismo, sugeri que a forca da depressão fosse pular corda, pisquei um olho para o abismo e fui ao próximo capítulo – onde encontrei a mim mesmo, sempre a mim mesmo, nada mais que a mim mesmo.

Rogério Camargo e André Anlub®
(11/1/15)

10 de janeiro de 2015

Despedida VIII




Despedida VIII

Sábado de sol,
De sola de sapato sendo gasta
Pelos amigos que passam e se vão
Ao longo da rua.

Sábado de poesia, de escrita;
Acordei escrevendo, depois li um pouco...
Agora escrevo novamente.

Voltando algumas horas no tempo:

Essa noite fez um frio de inverno,
Acordei na madrugada em posição fetal
E com uma estalactite no nariz.
“Eta ferro”, me meti no frio da Serra;
Frio que me serra os ossos,
E quase, mas quase, gela meu sangue...
Foi por um triz.

Voltando ao tempo atual:

Almoço pronto,
Deixo meu “boa tarde”
Ao moço que passa
(mais solas sendo gastas).
Barulho de maquita cortando algo,
Complementa o som que ouço aqui...
Qual música?
Hoje deixarei à imaginação de quem lê.

Indo adiante no tempo:

Em casa com os cães,
Meu peixe pronto,
O mesmo som de agora,
Sol queimando a cachola,
Ao tédio meu afronto.

Preciso só imaginar e já sinto o cheiro de café,
Aquele fresco – novo – aquele meu;
Misturando-se ao perfume L’occitan que estou usando.

Vejo o céu limpo, ouço os cães distantes
E os cães aqui também latem.
Preciso só imaginar e já sinto o beijo...

Ah, 
O som é Joni Mitchel,
Do disco Blue.

André Anlub®
(10/1/15)

Despedida IX

Abaixo:
"Em 1980, Chico Buarque participa do programa "Canal Livre", da Bandeirantes, comandado pelo jornalista Roberto D'Ávila. Os entrevistadores são: Tárik de Souza, Paula Prétola, Vivi Nabuco, Zuenir Ventura, Olívia Byington, Luiz Carlos Franco, Claudio Azeredo, Mauricio Beiru, Ana Maria Tornai e Moreira da Silva."



Despedida IX

Subiu a colina mais íngreme,
Audaz cabrito montês;
Fez seu filme na bravura,
Desenhou nas pedras a astúcia,
Onde passou com os seus fortes cascos.

Por que será que ele sobe tal pedra?
Penso na vida assim:
Às vezes desafios sem nexo que buscamos por aventura,
Por comodidades, por boemias.
Às vezes desafios concisos, extremamente necessários.

A cena se fez diante dos meus olhos,
Talvez na importância da minha história;
O homem atrás de sua glória,
Fugindo dos terrenos fiascos.

Um mortal louco subiu a montanha mais alta;
Talvez para outros olhos seja pouco,
Talvez para outros poucos sejam olhos;
Mas será que o que o outro pensa, importa?

A cena se desfez em um instante,
Com o toque do telefone;
Agora a questão já é outra,
Pintar de rosa o elefante.

Desceu a montanha mais alta,
A imaginação passageira;
De dia a luz não faz falta,
De noite trouxe à luz a parteira.

André Anlub®
(10/1/15)

Canal Brasil: 
"Neste domingo, 11/01, às 23h30, o programa 'Abertura' resgata uma entrevista histórica de Chico Buarque, onde ele falou sobre o que esperava da abertura política no Brasil e criticou o que chamava de "democracia de fachada". Não perca!"

Veja um trecho clicando no link a seguir: http://bit.ly/ChicoAbertu

Ponderação da tarde


"Porque Breivik foi apenas um "atirador" maluco. O fato dele ser um fervoroso defensor do capitalismo, racista, anti-socialista e ter matado 77 pessoas por causa disso, não conta e tampouco diz algo sobre a "cultura ocidental". Julgar uma cultura, religião ou etnia se baseando no comportamento de extremistas só vale pros não-brancos."


Quem alimenta os terroristas com armamentos e depois surge como salvadores oferecendo ajuda?

Dueto da tarde (XXXII)


Dueto da tarde (XXXII)

A lua procurava seu pedaço faltante com a preocupação de uma criança no meio de um brinquedo complicado.
Era como um grito calado, a boca minguante tornando-se cheia e a névoa parecendo sair dela.
Quem olhasse talvez visse. Mas não era com isso que a lua se ocupava, não era com o espetáculo que dava.
Com o mar como ofurô, flertava com as águas sem pedir nada em troca (pelo menos no reflexo).
Ela quer a si mesma, como todo mundo quer a si mesmo: os que flertam com as águas e os que flertam com a lua.
Sim, no fundo pode não haver distancia para o nexo; sim, no mundo pode não haver na fenda a distância para o fundo.
A lua procurava seu pedaço faltante como todo mundo procura seu nexo. E o seu fundo.
O momento de se conhecer: se olhar no espelho e não saber quem é quem; momento de florescer: ser o que é sem se importar em ser para alguém.
Enquanto isso, a luz da lua, sempre a luz da lua, ainda e sempre a luz da lua
Ilumina o pedaço que falta, dá espaço aos espaços das fendas, é presença em todas as almas, espelho para o mundo que há no mundo.

Rogério Camargo e André Anlub®
(10/1/15)

Despedida VII





Despedida VII

Ele sonha que invadiram o lugar comum
E experimentaram a presença do sossego;
Os olhos de todos voltaram a ver
O simples toque de desapegar do supérfluo.

Sonhos são sempre sinceros,
Basta aos loucos laicos entendê-los.
Metendo os bedelhos em sonhos alheios,
Tentando decifrá-los, desfragmentá-los...
Mas obedecendo, com esmero.

Ele já é um sonhador,
Sonha sempre em sons de sinos.
Hoje só sonha acordado – eis alguns marasmos... 
Os pesadelos...
São suas sinas.

Assassinas vozes entram em acordo 
E acordam em acordes...
Acordam os doentes,
Geralmente nos sonhos bons,
Agora sons estridentes...
Irreconhecíveis tons, cantoria, idioma:
Variam conforme os dias,
Variam conforme o Valium,
Voltamos ao “Frontal com Fanta”.

André Anlub®
(10/1/15)

Despedida VI




Despedida VI

Foi dada uma pausa no ponteiro dos segundos,
É aquela noção de congelamento;
Senti-me voando num céu de brigadeiro
Vendo as formigas da cidade grande.

O alerta foi dado ao público,
Nisso, nessa, nossa, “bola”. 
O amor pode estar parco
E não é desesperança...
É realidade. 
Então façamos assim: 
Mais afeto/abancar coragem,
Engraxar engrenagens,
Largar a flecha e o arco
Pegar os rumos,
Pegar os remos e flores
Abarcar e embarcar
Nos amores...
E, “de quebra”,
No majestoso barco.

Tiraram a pausa do ponteiro,
Acabaram com o imbróglio,
Vou por meus pés na estrada.
A vida é curta quando é corte;
A vida é longa quando é logo.

André Anlub®
(9/1/15)

9 de janeiro de 2015

Um Futuro Ser Completo




Um Futuro Ser Completo
(André Anlub - 9/3/10)

Saber viver, saber esperar,
Tudo na contramão da situação.
Montar no mundo e cavalgar,
Largar o cogente por só querer.

Se o tempo é sua Nêmesis
Levante e corra em qualquer direção;
Saia do ostracismo de um abrigo
Pois essa saída é enganação.

No adjunto de tudo que te faz feliz
Vale a pena o tempo perdido;
Se por um lado desce ralo abaixo,
Por outro alimenta sua alma.

Com sabedoria e muita calma
O mundo estará em suas mãos;
Com paz, integridade e humildade
Tornar-se-á muito mais do que aprendiz.

Ser um monge na pura meditação
Que paira o silêncio ao se encontrar,
Passeando ao redor do espaço tempo
Sem sequer ter hora para chegar.
(versa e vice)
Totalmente de bem com sua vida
Sabiamente convida ao vivo o bem,
Com sua mente muito bem na vida sã
Para conviver sabiamente com sua vida zen.

Dueto da tarde (XXXI)




Deixei um pedaço de mim naquela última esquina; aquela do ipê amarelo.
Este pedaço procura florir toda primavera, mas as lembranças do outono persistem.
Costumo me despedaçar com prazer, e arriscar: às vezes é áspero – às vezes terno.
Levo comigo o gosto do amargo doce e o gosto do doce amargo. Deixo nas esquinas o que é de deixar nas esquinas.
Já se foram amores eternos; já ficaram amores passageiros; deixo o guerreiro numa rua deserta
A meditar sobre ruas desertas habitadas por ipês amarelos. Ele não me conta muito de suas conclusões.
Ele faz ações sem muito pensar; ações de coragem e bondade, de igualdade e de paz; de guerra consigo mesmo e de guerra com quem mais houver; de silêncios e de tumultos; de lógicas e absurdos; tudo no mundo reservado às minhas situações.
Eu sou meu ipê amarelo de muitas cores. Eu sou minha esquina em linha reta.
Sou aquarela em amores; sou preto em branco nas dores e no viver, sentinela voluntária do que se passa e do não passará, porque ipês e esquinas passam, enquanto duram para sempre.

Rogério Camargo e André Anlub®
(9/1/15)

Despedida parte IV



Despedida parte IV

O mundo canta ao toque da bateria;
Entra o ritmo em arritmia,
Então levanto e danço...
Agora é “Mercy” de Dave Mathews,
Os pés se agitam e a mão trabalha no bloquinho:
Tinta, frase, crase, pinta...
É perturbadora a calmaria
Você quer que ela ria, talvez chore;
Você quer que ela implore ou obrigue...
Mas que algo seja feito.
(mesmo que de fininho)

“Prefiro Toddy ao tédio”
É punk, só que (infelizmente) não;
É a tal perseguição (stalker) do silêncio,
Que vem, silencia – vai, silencia...
Lá ao longe: avião.

O mundo se cala ao toque do botão,
Fones de ouvido e ouvidos descansam.
A caneta freneticamente eletrizada,
O papel é namorado, e a amante é “inspiração”.
A caneta é “bi”...
É tri, é tetra,
É triatleta...

Ligo “Mercy” de novo (misericórdia),
Dave é unanimidade...
A música me lembra “merci”,
Remete-me a Paris
E todo o mal que houve e ainda há...
Digo: excusez-moi...
Em nome da humanidade.

André Anlub®
(8/1/14)

Despedida parte V




Despedida parte V
“bucolicozidade”

Sol parou de lascar seu beijo quente no asfalto,
Fim de tarde em mais um dia;
Ônibus passa, crianças voltam a brincar de bola,
Roupas voam nos varais
E levam o cheiro do café e pão frescos;
Pessoas passam com suas sacolas
E o bucólico torna-se culminante.

Viajo no espaço por um instante,
Meu corpo suado – estafado – planeado 
Quase que quase atravessa o país;
O cheiro da minha casa penetra o nariz...
Fina flor que invento para a comodidade.

As pernas hoje pediram longa rua,
Queriam andar e ver novos caminhos.
Sons se repetem, as horas ecoam sozinhas,
O tempo estaciona e me açoita nas nádegas.

Meus olhos buscam novos rostos,
Tristes ou alegres, mas novos: olhos e rostos.
Amanhã tomarei coragem e o café bem quente,
Irei à luta, sair novamente, quero rua.

A perpendicularidade do raciocínio
Chega a desafiar a gravidade.
Nem sei a gravidade desse desafio,
Prefiro distrair minhas ideias, escrever.

Amanhã é outro dia, é nova sexta-feira...
O tempo vai ter que mexer e me mexer.

André Anlub®
(8/1/15)


Despedida parte III




Despedida parte III

É aquele pássaro que foge da gaiola,
Por dentro sai cantarolando Wild Horses dos Stones, 
Mas pelo bico sai o canto dele mesmo.

É aquele animal em extinção,
Que anda na lenha, no lema e na linha...
Aquele “ex-tição” que ganha brilho;
É tal que tem tal de compaixão
E com paixão põe à mesa
E na sobremesa assopra as velinhas.

Somos um só, somo complementos... 
A imaginação e o momento,
Arco e flecha e o arqueiro.

Temos um amigo: o mundo
Temos o reduto: a escrita
O vagabundo passa ser somente vago,
E o hábito de conhecer a si mesmo é corriqueiro.

André Anlub®
(8/1/15)

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.