12 de março de 2015

LUTO NO ÔNIBUS


Diario de Pernambuco
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LUTO NO ÔNIBUS
por Marcionila Teixeira/foto Alcione Ferreira

A comida começava a rarear em casa quando Jessé de Paula agarrou-se com força àquela oportunidade. Não era um trabalho dos sonhos de um violinista, mas ajudaria no sustento da casa modesta, em Rio Doce, na periferia de Olinda. A tarefa era aparentemente simples: venderia CDs e DVDs piratas nas ruas. Um dia, soube de um amigo preso por fazer o mesmo tipo de comércio ilegal. Amedrontado pela possibilidade de parar atrás das grades, afastou-se do bico. De um dia para o outro, estava novamente na mesma. Sem dinheiro, morando sozinho e sem qualquer horizonte de emprego pela frente. Jessé, o violinista, precisava de uma solução.

As sugestões vieram rápido, dos próprios amigos músicos. “Por que você não se apresenta nos ônibus?”, disseram. Jessé, que conhecia de música erudita, andava dedicando-se, na época, a ler e escrever canções da Música Popular Brasileira (MPB) no J. Duo, dupla instrumental de violino e violão que fazia com o músico Jau Melo. Convencido de que a ideia poderia dar certo, montou um repertório de MPB, colocou o violino no braço, junto com o aprendizado obtido no Centro de Educação Musical de Olinda (Cemo) e no Conservatório Pernambucano de Música, e seguiu em busca de paradas de ônibus que o fizessem melhorar de vida.

Pouco a pouco, o jovem reuniu dinheiro suficiente para pagar o aluguel de um lugar melhor e até a prestação de uma moto. Os passageiros gostavam da atração inusitada. Até nas horas em que os motoristas tentavam barrar a entrada do músico, havia quem o defendesse entre os bancos desconfortáveis dos coletivos.

Nascido em Rio Doce, Jessé conheceu o universo da música nas igrejas evangélicas do bairro, ainda criança. A avó e a mãe bancaram a arte da música para o jovem. Uma suposta guinada na carreira aconteceu depois de Jessé suar muito nos coletivos. Decidiu, um dia, apostar em uma apresentação surpresa na frente da casa de Ariano Suassuna, em Casa Forte, no Recife. Deu certo. O mestre paraibano convidou Jessé para entrar na residência famosa e até o contratou para algumas apresentações nas aulas-espetáculo. O cachê foi dos melhores que já havia conquistado na vida.

Jessé imaginava que estava mais perto do estrelato e distante do anonimato dos ônibus. Não era bem assim. Chegou a se apresentar no Janeiro de Grandes Espetáculos, com a banda Armorial Rock, um trabalho autoral, e no carnaval de Olinda, em 2013. Ganhou matérias em jornais e televisões. A carreira que parecia desabrochar para um maior reconhecimento, voltou a ser levada nos ônibus. Ultimamente, dizem que ele buscava o metrô como palco. Coisas da vida de artista, que parece ter mais altos e baixos que qualquer outro profissional.
O violino de Jessé silenciou para sempre no seu último cenário de apresentação. Depois do músico ser atingido por uma composição de metrô, na Estação Largo da Paz, e cair morto, o instrumento foi recolhido por funcionários do metrô. Testemunhas disseram que Jessé estaria tentando pegar um dinheiro que havia caído além da faixa de segurança. Outras afirmaram que ele estava de costas ou mexendo no celular. As câmeras da CBTU apontaram que a última hipótese era a correta. O músico morava em Porto de Galinhas, em Ipojuca, e pegava o metrô para vir ao Recife.

O delegado de Afogados, Humberto Ramos, abriu um inquérito para apurar o ocorrido. Hoje pedirá as imagens da câmara do metrô e dará início à intimação do condutor do vagão e das testemunhas. A princípio, analisa, teria sido um acidente, mas nenhuma hipótese está descartada, mesmo a de suicídio. 
Jessé, dizem os amigos músicos, tinha um extraordinário talento no violino. Nos ônibus, no entanto, lançava sempre o bordão de que estava naquelas condições para ajudar a mãe e porque não havia abertura de concurso para músicos no Recife. Jessé, em tese, poderia estar tocando em uma orquestra sinfônica ou em uma Banda da Cidade do Recife, por exemplo. Mas qual o espaço adequado quando falamos de atingir as pessoas com a música? O violinista levou sua arte embora em meio a um acidente trágico, exatamente por conta da forma que escolheu para tocar sua música. Mas não sem deixar um traço de pioneirismo em centenas de viagens realizadas no transporte público da Região Metropolitana. O metrô e os ônibus não serão os mesmos sem Jessé.

*Colaborou Alice de Souza

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Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.