2 de fevereiro de 2015

ALGUNS MINICONTOS

- Era você no telefone?
- Era.
- Por que não me disse que era, quando eu perguntei?
- Queria ver se você me reconhecia.
- E agora que eu reconheci, o que acontece?
- Agora eu ligo de novo. Mas não agora.


Quando o cachorro de Asquinando começou a miar, ele não se importou. Mas quando seu gato começou a latir foi demais pra ele. Vendeu os dois para um circo e comprou um canário. Até agora o canário não mugiu.


A brincadeira espirituosa disse algumas coisas para a grosseria que ela não gostou. Respondeu grosseiramente. A brincadeira espirituosa não disse mais nada. Mas continuou se divertindo.


- Que nome tinha aquele personagem incrível?
- Nenhum.
- Isso mesmo, Nenhum. Incrível, né?


O trabalho de esquecer estava indo muito além, do que Antinaldo esperava. A cada vez que o dava por findo, uma fisgada na memória o fazia lembrar que não esquecera. Muito aborrecido. Então Antinaldo resolveu inverter as coisas. Em vez de esquecer, exigiu-se lembrar de tudo, nos menores detalhes. Aí ficou mais fácil.


- Minha vida está muito chata!
- E o que você quer que eu faça, que eu arredonde ela pra você?
- Você consegue?


Uma brisa muito sutil, quase um suspiro da aragem, veio de manso e envolveu a pedra. Se a pedra tivesse percebido, talvez desse àquilo o nome de carinho. Mas a pedra não percebeu.


- Ela está te esperando.
- Eu disse pra ela não me esperar!
- Eu também disse. Não adiantou. Ela está te esperando.
- Bem, vai ficar esperando, então.
- Ela sabe. Só não sei por que. Você sabe?


Zantinho colecionava santinhos. Imagens de santos da igreja católica. Zantinho não era católico. Ou religioso. Também não era um descrente ácido ou agressivo. Zantinho colecionava santinhos, apenas isso. Sua coleção era tamanha que o papa, quando visitou o país, fez questão de conhecê-la. E trouxe uma caixa cheia de novas peças para ele. Das quais ele só não tinha duas.


Zícolo não suporta Zócolo. Se pudesse, Zícolo arrancava os olhos de Zócolo e dava para os ratos comerem. Se pudesse, Zícolo arrancava as tripas de Zócolo, esganava Zócolo com elas e pendurava o corpo dele num poste para os urubus bicarem. Mas de toda vez que fala em paz e amor, Zícolo sempre fala em paz e amor, fraternidade entre os homens, harmonia universal. E até fala bem. Mas não lhe venham falar em Zócolo!


Nênia e Vênio tinham hora certa para brigar. Todos os dias. Os vizinhos até acertavam os relógios pela pontualidade das discussões. Certo dia de outubro, alguns estranharam:
- O que está havendo com eles? Por que não começaram ainda?

- É que eles não se guiam pelo horário de verão.

ROGÉRIO CAMARGO 

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Agradecemos pela leitura.

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.