9 de fevereiro de 2015

ALGUNS MINICONTOS

Dalmério chegou atrasado, rosnou uma explicação qualquer e foi para o seu lugar como se nada tivesse acontecido. Bolívio podia ter deixado assim. Mas Bolívio era implicante e sabia que Dalmério tinha pavio curto. Quando fez a primeira ironia, Dalmério fingiu não ter escutado. Quando fez a segunda, viu o pescoço de Dalmério ficar vermelho e seu rosto ficar roxo. Devia ter parado por aí. Mas Bolívio era implicante. E Dalmério tinha o pavio curto.


- Me viaja?
- Mas eu não tenho teu mapa!
- Não importa. Embarca em mim que eu te levo por mim.
- Temeridade. E se eu não souber pedir informações na tua língua?


O fim da estrada queria ser o início da estrada, não o fim. Mas nunca lhe ocorria dizer “comece tudo outra vez” quando as pessoas chegavam a ele. Talvez não quisesse interromper a festa delas.


Ezépia não ouve ninguém. Mas Ezépia faz perguntas. E as pessoas tentam responder. Como Ezépia não ouve ninguém, as respostas que lhe dão caem no vácuo. E ela não se esclarece. E torna a perguntar.


A cabeça pesada de Molinetto vinha obrigando-o a fazer exercícios especiais com opescoço. Ele, o pescoço, algumas vezes ameaçou pedir demissão, depois exigiu um aumento dse salário, depois décimo-terceiro em dobro, depois um robusto adicional de insalubridade. Só não conseguiu férias. No máximo poderia dar um passeio enquanto Molinetto estivesse dormindo, a cabeça afundada no travesseiro.


Crépizo tinha dificuldade para achar o fim das histórias. O início delas era sempre muito claro, não havia problema para acompanhar o desenvolvimento, mas na hora de ver onde estava o fim Crépizo ficava tateando no escuro. Se fosse um teórico de recursos, poderia desenvolver uma tese polêmica: não há fim nas histórias. Crépizo, porém, era apenas alguém que lia com interesse e atenção, mas não achava o fim das histórias.


Na manhã mais triste de sua vida Mevizaldo viu o seu sonho diluir-se como uma nuvem que o vento desmancha. Em poucos inesquecíveis minutos não havia mais nada do que poderia ser tudo – de bom, de muito bom, de  ótimo. Mevizalfo parou diante do nada que lhe restou, cantou-lhe em silêncio uma canção de adeus e embarcou no longo trem do que lhe restava viver.


Quando Ezézzia trocou de rosto, Aluteu achou muito interessante, embora a tenha reconhecido de imediato pela tatuagem no pescoço. Nem por um rosto novo Ezézzia se desfaria daquela tatuagem. Aluteu quis investigar se ela não havia trocado outras partes também, mas uma expressão bandalha tomou conta do rosto novo dela quando disse:
- Isto é pra depois!


O pássaro do canto estranho pousou no galho da noite e fez uma declaração bizarra, que nenhuma estrela entendeu. Depois o pássaro do canto estranho voltou sua atenção para as promessas que ele mesmo havia feito e jamais cumprido. Promessas que as estrelas entendiam, porque cumpriam todas elas, desde a primeira, que jamais foi um canto estranho.


- Quem vem lá?
- Acho que é a Confiança.

- Mancando daquele jeito? Tem certeza? 

ROGÉRIO CAMARGO

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Agradecemos pela leitura.

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.