23 de dezembro de 2014

O importante é ser



O importante é ser

Fácil, ligeiramente improviso, mas previsto – falado;
É num estalo que se constrói um “bom dia”.
Um passo importante é fugir de maldosos achaques,
Mergulhando em sonhos e abandonando o ser ilhado.

Sabe-se que não há nada melhor que um dia após o outro...
E como adereço: uma boa garrafa de vinho entre os dias;
Sabe-se que a leitura abarca a mente, a retira da preguiça,
Desfazendo-a do pensamento de espelho, copiado.

Vêm letras dançantes ao som do que vier na manhã;
Sempre criam, pintam, esculpem e dão brilho em um novo casco robusto:
- lusco-fusco, hilariante.
É absurda, mas a receita é sonhar com simplicidades: 
- empanturra o rechonchudo.

São férias? São sérias? O importante é ser;
Os olhos tremulam e o coração bate mais forte pensando em você.
Deixo aqui a prova que renova o que vou assinar,
O amor estava no ar, estava no coração, na mente, atrás e na frente...
Agora, em tudo.

Não sei se é assim que deveria ser,
Mas é assim que é
E o importante é ser.

André Anlub®
(23/12/14)

Trecho do livro Tarja Preta, vários autores


Frontal com Fanta
Jorge Furtado

Ela me perguntou quantas pessoas eu já vi morrer. Quantas pessoas você já viu morrer? Nenhuma, eu disse. Ela sorriu e disse eu vou ser a primeira. Eu disse vai. Ela disse boa sorte.
— Boa sorte.

E morreu. Os lábios dela continuavam vivos, vermelhos. Parecia que ela estava dormindo. Ela morreu e pronto. Era bom ficar olhando seu corpo, bonito. A enfermeira entrou, viu que ela tinha morrido e me disse para sair do quarto, chamou o médico, eu saí do quarto.

Uns dias depois o enfermeiro me disse que ela estava grávida. Ele disse também que achou melhor ela ter morrido, imagina ela com um filho.

Eu imaginei ela com um filho, um filho meu, e agarrei o enfermeiro pela garganta.

Dois enfermeiros correram e me seguraram e me deram uma injeção. Eu acordei amarrado e fiquei ali alguns dias. Eles mudaram meu remédio. Eu me lembrei que ela havia me pedido para ficar vivo pra me lembrar dela e resolvi não tomar o remédio, não tomar mais remédio nenhum. Passei mais seis meses na clínica, fingi que estava curado, saí, voltei a estudar. Fiz o supletivo do segundo grau, passei no vestibular, me formei, casei, tive um filho, me separei. Hoje trabalho nesta farmácia. Continuo vivo e me lembrando dela.

Eu não me lembro muito bem se tinha 13 ou 14 anos na primeira vez em que fiquei invisível. Eu acho que tinha 14, estava frio, devia ser inverno e eu faço aniversário no verão. Também podia ser no inverno antes de eu fazer 14, mas eu acho que não, porque a minha irmã já estava usando aparelho e estes dias eu perguntei e ela tem certeza que tinha dez anos quando começou a usar. É muito provável que eu já tivesse ficado invisível muitas vezes antes, tenho certeza que sim. Quando a minha mãe e o meu pai discutiam, quando ele gritou que ela é que quis ter filho e agora não gosta de ficar com as crianças e só quer viajar, quando ela bebia e andava quase nua pela casa, quando o meu irmão punha a mão nos peitos da namorada, quando o meu pai mudava a televisão de canal pouco antes do fim do filme que eu estava assistindo havia mais de uma hora, é claro que eu estava invisível, só que não percebia.

Eu estava na escola na primeira vez que percebi que estava invisível. O professor mandou todo mundo se apressar para o passeio. Eu demorei a me levantar juntando as coisas, todos saíram e o professor olhou para a sala, olhou na minha direção, apagou a luz, saiu e fechou a porta. Talvez eu tenha ficado invisível para não ir naquele passeio, não queria passar o dia vendo as meninas mais lindas me virando a cara, e todos aqueles meninos idiotas gritando e correndo e se batendo. Fiquei algum tempo parado, peguei minhas coisas e saí da sala. Caminhei pelo corredor, cruzei com alguns alunos, olhei bem para eles e eles não me viram. Saí do colégio e caminhei seis quadras até a minha casa, passando por muitas pessoas que não me viram. Entrei em casa sem ser visto, fui para o meu quarto.

Saí do quarto e minha mãe estava jantando, com minha irmã. Meu irmão mais velho vai chegar no próximo fim de semana e elas querem arrumar a casa. Ele vem com a namorada e vai dormir no meu quarto, eu vou dormir com a minha irmã, no chão do quarto dela. Elas falaram todo o tempo, decidindo o que ia acontecer comigo, sem me ver. Comi frango com arroz e legumes e fui ao banheiro. Abri o armário dos remédios, peguei um remédio da minha mãe, frontal. Li a bula. "Componente ativo: alprazolam. Indicado no tratamento de estados de ansiedade. Seu mecanismo de ação exato é desconhecido." Talvez fosse isso, ansiedade se cura com remédio. Não é recomendado a pacientes psicóticos. Os sintomas da ansiedade são: tensão, medo, aflição, agonia, intranqüilidade, dificuldades de concentração, irritabilidade, insônia e ou hiperatividade. Os sintomas da ansiedade sou eu. Peguei o vidro e fui para o meu quarto. Tomei dois, devia ter pegado água, não é bom tomar remédio com fanta. Deitei e dormi.

Acordei, era outra pessoa. E continuava invisível. Minha irmã, minha mãe e a empregada não me viram. Tomei café e mais um comprimido e fui para a escola caminhando sem ninguém me ver. Assisti às três primeiras aulas sem ser visto. Entendi tudo, anotei, gostei de estar aprendendo coisas. Estava feliz, feliz e invisível. No recreio fui até o banheiro e tomei outro comprimido.

Saí do banheiro, o sol batia no pátio, nos cabelos das meninas, nas pernas das meninas. Duas delas, das mais lindas, passaram na minha frente, entraram no banheiro. Entrei atrás delas. É claro que elas não me viram. Uma delas baixou a calcinha e sentou no vaso, mas não deu para ver nada, ela estava de saia. A outra abriu a blusa na frente do espelho e ficou ajeitando os peitos dentro do sutiã. Eu estava muito feliz de estar ali, pensei em gritar ou botar a mão nos peitos dela, mas ela ia levar um susto, achei melhor não. Elas falaram de uma festa e saíram sem me ver.

Passei o resto da semana invisível e feliz. Comecei a economizar os comprimidos, tomava três por dia, um antes de ir para a escola, outro depois do almoço, outro antes de dormir. Não sonhava com nada, acordava feliz. No sábado tinha a festa e eu estava louco para ir, invisível.

Levei o remédio para a festa para tomar um lá. Não conseguia entrar no banheiro das meninas, era muito apertado, mas escutei todas as conversas, histórias incríveis de quem deu ou queria dar para quem. Tomei dois comprimidos com vinho, vários copos de vinho. Resolvi entrar no banheiro das meninas, seguindo uma das mais lindas. Ela entrou, eu entrei junto. Ela tirou a blusa e tirou da bolsa um desodorante roll-on. Começou a passar desodorante, erguendo os braços e se olhando no espelho, muito linda, a coisa mais linda que eu já tinha visto. Não consegui me controlar e lambi seu braço.

Ela deu um grito, começou a me bater, gritar. Abriu a porta, gritando, um monte de gente veio correndo, o pai dela, o namorado dela, todos começaram a me bater enquanto ela gritava que eu tinha entrado no banheiro e lambido ela e todos me batiam. Aparentemente minha invisibilidade tinha passado, talvez por causa da lambida. A mãe dela, que me conhecia, me ajudou a levantar do chão. Ficou me olhando, assustada. E aí eu vomitei.

Quebrei dois dedos da mão esquerda, acho que foi um dos chutes. Todos em casa me viram, me olharam muito bem. Meu pai olhava para mim com medo, minha irmã com nojo e minha mãe chorava.

Meu irmão chegou com a namorada, ninguém disse nada para ela que eu era um drogado e maníaco sexual. Minha irmã não quis me deixar dormir no chão do quarto dela e eu dormi uma semana na sala, no sofá. Dormia ouvindo meu irmão e a namorada trepando no meu quarto. Um dia acordei e fiquei parado, no escuro. Ela passou pela sala só de calcinha, ótimos peitos, bunda boa. Voltou da cozinha e ficou parada no meio da sala, tomando água no bico da garrafa, sem me ver. Me levantei e fiquei olhando para ela, ela não me viu. Eu estava invisível outra vez. Me aproximei e toquei no peito dela. Ela deu um grito.

Me levaram num médico que me disse que eu precisava aprender a relaxar e outras coisas que eu já sabia e me receitou paxon. Li a bula. Princípio ativo: cloridrato de buspirona. Agente ansiolítico indicado no alívio a curto prazo dos sintomas da ansiedade e da apreensão, do medo e dos maus pressentimentos. Era o meu caso. Cinco a dez miligramas duas vezes por dia. Perfeito. Não estava mais invisível mas continuava feliz.

Mudei de escola e passei o resto do ano feliz. No final do ano fiquei preocupado com as provas e com as festas e comecei a tomar três comprimidos por dia, às vezes quatro. Às vezes tomava com vodca, nas festas. Depois comecei a tomar também o frontal da minha mãe, ela descobriu e escondeu no armário. Achei e tomei. Meu pai disse que ia me internar, minha irmã disse que eles deviam chamar a polícia.

O médico cortou o ansitec e me deu valium. Li a bula. O princípio ativo do valium é o diazepam. Indicado para distúrbios emocionais, especialmente ansiedade, e distúrbios comportamentais, como a má adaptação social. Agora sim. Um antes de dormir, às vezes dois.

Um dia eu tomei dois no almoço, com cerveja, e depois fui para o supermercado. Tinha uma menina, bonitinha, acho que com menos de

três anos, no corredor dos biscoitos. Ela pegou um pacote grande de biscoitos, quase maior que ela, e tentou botar no carrinho. A mãe estava falando no celular e não viu. Ela chamava, mãe, mãe, bicoito, mãe, mãe. A mãe caminhava pelo corredor e falava no celular, discutia com alguém sobre prazo de entrega, horário de entrega de alguma coisa. A menina tentava botar o pacote, não alcançava no carrinho. O pacote caiu no chão, a mãe empurrou o carrinho que passou por cima do pacote. A menina se desequilibrou e caiu sentada no chão. A mãe gritou, disse que a menina tinha derrubado tudo no supermercado, desligou o celular e começou a gritar com a menina, que começou a chorar. A mãe viu os biscoitos quebrados, botou na prateleira, ergueu a menina pelo braço e continuou gritando enquanto ela chorava. Eu me aproximei, queria estar invisível. Não estava, a mulher olhou para mim e perguntou o que foi. Eu dei um soco no rosto dela, acho que acertei a boca e o nariz. Ela caiu, gritando de dor. A menina começou a gritar e a chorar. Tinha sangue na minha mão, não sei se meu ou dela. A mulher me olhava, apavorada, gritando e tapando o nariz e a boca com a mão. Ela viu sangue na mão dela e começou a gritar, a menina chorando. Um casal saiu correndo, algumas pessoas se aproximaram. Um garoto de uniforme me olhou com medo. Um segurança se aproximou, me olhando e falando num rádio.

Um segurança do supermercado me deu um tapa na cabeça. Me assustei, mas não doeu muito. Um policial veio e foi embora. Meu pai chegou, muito nervoso. Pediu desculpas para todo mundo, disse que eu era doente. Olhei para o meu pai, sofrendo, triste, tentando não aparentar toda a tristeza que realmente sentia, com vergonha de imaginar uma parte dele em mim, e tive certeza de que ele estava falando a verdade, eu era doente mesmo.

Meu pai, minha mãe e meu irmão sugeriram que eu fosse internado, ficasse um tempo numa clínica. Achei ótimo, eu não queria mais ficar olhando para as pessoas que estavam sofrendo por minha causa. Meu irmão me ajudou a fazer a mala. Meu pai me deu um beijo, fazia muito tempo que eu não via ele tão feliz. Minha mãe chorou um pouco mas também estava feliz. Só quem parecia triste era a minha irmã. Eu disse que ia me tratar e ia voltar logo. Ela perguntou se podia pegar o meu videogame, eu disse que sim.

Eu falei com um médico e com uma médica. Contei de tudo, dos remédios e do fato de eu ficar invisível. Eles me disseram que eu nunca fiquei invisível e eu acabei concordando. Ele perguntou se eu tinha tremores, dor ou tensão muscular, se eu me irritava ou ficava nervoso com facilidade, se eu sentia as mãos frias e pegajosas, se às vezes eu tinha dificuldade para engolir, sentia aquele nó na garganta, se às vezes sentia a boca seca, suor, enjôo ou diarréia. Eu disse que tinha tudo, menos diarréia. Ela perguntou se eu ficava muito preocupado com as minhas notas na escola ou num jogo de futebol, se eu me preocupava muito em chegar na hora, se costumava chegar muito cedo nas festas, se eu me preocupava com terremotos ou com a guerra, se eu costumava refazer uma coisa muitas vezes, até achar que estava perfeito, se eu costumava perguntar para as pessoas se o que eu fiz estava bem-feito ou não. Eu respondi sim para tudo, menos para a guerra.

Eles tinham certeza de que eu era um sessenta ponto seis, personalidade ansiosa. Eles me disseram que os sintomas da personalidade ansiosa são um sentimento de tensão constante, um sentimento de insegurança e inferioridade, um desejo permanente de ser amado, de ser aceito, hipersensibilidade à crítica e à rejeição, uma dificuldade ou desconforto para encontrar pessoas ou para

sair da rotina, sempre com medo que aconteça alguma coisa de ruim.

É perfeito, é exatamente isso. Finalmente eu encontrei alguém que descobria o que eu tinha. Só que eles tinham dúvidas se a minha ansiedade era generalizada e já se manifestava na infância, ou se era induzida por substância. A ansiedade induzida por substância surge com a intoxicação ou a abstinência. A ansiedade primária, que vem da infância, pode provocar o uso da substância. Enfim, eles tinham dúvidas se eu era louco porque me drogava ou me drogava porque era louco. Perguntaram se eu tinha ataques de pânico ou alguma fobia. Contei da vez que eu ataquei a menina no banheiro da festa, da namorada do meu irmão e do soco na mulher no supermercado, mas isso eles já sabiam. Eles conversaram um pouco e concordaram que eu devia tomar nervium. Princípio ativo: bromazepam. Indicado para distúrbios emocionais, tensão nervosa, agitação e insônia, ansiedade e humor depressivo ansioso. É exatamente o meu caso, humor depressivo ansioso.

Antes de sair da clínica e encontrar meus pais e minha irmã, e todo mundo ficar feliz por eu fingir tão bem que estava curado, eu achei um disquete no lixo da clínica. O ferrinho do disquete estava um pouco torto mas eu trouxe para casa e um dia consegui abrir dois arquivos. Um era uma tabela, sem graça. O outro tinha várias anotações, nenhuma sobre mim. Todas eram parecidas.

J.S. estava aparentemente saudável. H.M.C tinha o comportamento normal. T.H.N vinha aparentemente bem. J.M.R. havia começado a ingerir álcool combinado com o uso de codeína (xarope para tosse) três anos antes da primeira hospitalização. N.T. vinha apresentando alterações do comportamento social associado à ingestão progressiva de álcool desde quatro anos antes da primeira hospitalização. Oito semanas antes da internação, ela fez uso de amineptina com álcool pela primeira vez. O paciente M.C.S. usou cannabis durante dois anos. O paciente N.G.F. mostra o semblante apreensivo. A paciente M.F, cuja mãe é esquizofrênica, vinha consumindo cannabis e, ocasionalmente, diazepam com álcool há três anos. O paciente B.T. vinha consumindo ecstasy regularmente durante dois anos e, ocasionalmente, cocaína. Uma grave perda da capacidade de conviver socialmente foi a causa de sua internação. A paciente D.J. teve alucinações auditivas importantes seguidas de delírios. Gesticula muito ao falar. Olhar triste. Uma grave disfunção cognitiva foi percebida pelos pais da paciente, que encaminharam a internação. Segundo a mãe do paciente, dois meses antes de ser internado o filho apresentou idéias paranóides e uma importante perda de função intelectual. Gesticula muito ao falar. Não consegue se concentrar. Quatro dias antes da hospitalização, ela tomou um comprimido de certralina associado com álcool e cannabis e apresentou imediatamente delírios e alucinações auditivas. Tomou LSD por um ano antes de ser hospitalizado. Não consegue ficar parado, gesticula muito ao falar. Ouvia vozes imperativas. Alucinações auditivas, delírios e disfunção cognitiva, percebida por seus pais. Esses sintomas persistiram durante nove meses e cessaram espontaneamente. Não tem energia para nada. Ao narrar suas brigas com a mãe, fica exaltada, com o olhar brilhante. Experimentou cogumelos alucinógenos. Afirma que não confia na namorada e que seu maior desejo é desmascará-la. Tem delírios e alucinações permanentes. Seis meses antes da internação, fez uso de LSD. Gesticula muito ao falar. Medos difusos e delírios culminaram com sua hospitalização. A partir daí, houve uma mudança em seu comportamento caracterizada por uma perda de sociabilidade seguida da presença de delírios, segundo declarações dos pais da paciente. Tem um olhar triste, perdido. Um dia antes de ser internada experimentou cocaína pela primeira vez. Um mês antes da internação, ela começou a ter idéias paranóides e hiperatividade motora. Tem a testa franzida, o olhar baixo, as mãos crispadas. Cinco semanas depois da ingestão de drogas, ela apresentou delírios paranóicos persistentes. Mostra-se muito aflito e exaltado durante a consulta. No dia da hospitalização, apresentava alucinações visuais. O uso de hipofagin com álcool culminou com delírios, alucinações e comportamento agressivo em relação aos pais. Gesticula muito ao falar. Foi observada uma diminuição de sua capacidade intelectual com problemas de concentração, segundo os pais da paciente. De acordo com os pais do paciente. Descrito pelos pais do paciente. Os pais do paciente. São eles que pagam as contas e limpam a sujeira. São eles que pagam para você ficar longe, normal. Um dia meus pais conversaram com os médicos e eles me mandaram para casa. Provavelmente acharam que eu era um efe treze ponto oito, transtorno de ansiedade induzido por ingestão de sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos. Eu podia ir para casa, provavelmente não ia sujar nada nem atacar ninguém. Estava curado. Precisava estudar, cuidar da vida, me concentrar. Foi o que eu fiz.

22 de dezembro de 2014

Dueto da tarde (XX)

Desenhando as estrelas, contornando as montanhas, alinhando os mares, criando os homens e seus pares
Com as mãos em sóis abertos e o coração de carne nua com a lua na sua paisagem.
O corpo é balão de gás hélio, a alma já está no espaço
E o espaço que o ocupa é o infinito na casca de noz, é tempo cabendo no tempo eternamente.
Defronte ao delírio do homem (ao ter que criar e expor a esperteza) fica arredio e temeroso, volta-se à natureza.
Naturalmente ela responde com suas estrelas, suas montanhas, seus mares – aos pares às vezes, às vezes não.
Quando se trata de criação, sempre existirá o incerto, como se fosse um incesto validando a ação.
As janelas da percepção escancaradas deixam entrar uma luminosidade que não entende, que tende a enquadrar 
O latente que é existir na parte da arte que não se submete à perfeição.
Por elas, desenhando montanhas, contornando estrelas, alinhado pelos mares, o criador dos homens e pares vai.

Rogério Camargo e André Anlub®
(22/12/14)


Joe Cocker, cantor britânico, morre aos 70 anos

Músico britânico lutava contra um câncer de garganta, segundo emissora.
Ele ganhou fama ao cantar 'With a little help from my friends', dos Beatles.

Manhã de quase Natal


Manhã de quase Natal

Veemência ao máximo, mas a corda ruída;
Troca-se a música erudita por um funk pesado.
Na beira do abismo com o pensamento equivocado,
Constrói-se o equilíbrio conforme a necessidade.

E atravessa-se o vale:
Agora se vê cedros secos e regadores lotados d’água;
Ave cinza voando ao redor de arco-íris.
Foca-se a íris em bocas que com todos falem,
Palavras inexatas – incoerências em dialéticas.

E retorna-se à corda, não se sossega o facho:
Acorda os olhos, pois agora é real perigo;
Nostálgico tempo, vento e desabrigo.
Pede-se o ofuscamento, pois coragem em andamento...
O sangue corre quente e rente à corda balança a mente.
(troca-se o funk alto por Ron Carter e seu contrabaixo)

E acorda-se do sonho, agora voa-se baixo:
Céu encoberto, nuvens à vera,
Ventos fortes de leste varrendo a estação;
O sol quente que preste, a cachoeira à espera,
Nos poemas – quimeras; para as feras, oração.
(fica Ron Carter e seu contrabaixo).

André Anlub®
(22/12/14)

21 de dezembro de 2014

Tempo de ser cágado

Top 10: árvores extraordinárias --->  http://viajeaqui.abril.com.br/materias/arvores-pelo-mundo?utm_source=redesabril_viagem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_ngbrasil#1


Baobá, um ecossistema em uma única árvore
O baobá pode sustentar a vida de incontáveis criaturas. Dos minúsculos insetos que perambulam por suas cavidades até o elefante, o maior mamífero terrestre, que procura a água estocada no tronco para sobreviver às duras condições dos desertos da África. Aves fazem seus ninhos nos galhos, babuínos devoram suas frutas, morcegos bebem o néctar de suas flores. É um mundo em forma de planta.

Tempo de ser cágado
(André Anlub - 2/3/12)

O dia amanhece com muitas nuvens
E a jornada de fome e reprodução.
Anda cabreiro com olhos céleres;
Lento, sujo e determinado...
Vendo de lado ao modo arredio.

Pisando em barro com passos calmos e vida mansa,
Como se houvessem as danças (balés solitários).

Com a pança que arrasta,
Para e ensaia o sorriso.
O pescoço é farto
Para dez relicários.

Tarde caindo afogueada
Confunde-se com o vermelho dos flamboyants.
A garoa molha e limpa seu casco,
Olha a sequoia que é a direção,
Caminha bem lento, vagabundo...

Mastiga e engole algo alucinógeno
E elefantes voam por sobre o verão.

Ótimo dia aos amigos...

Os cineastas Henrique Ligeiro e Fausto Mota falam sobre o documentário "Domínio Público", que entre 2011 e 2014 investigou as transformações no Rio de Janeiro por conta dos megaeventos: UPPs nas favelas, remoções forçadas, privatizações de espaços públicos e revoltas populares.



Asas de anjo ou dragão

Vejam só os dois olhinhos, sinceros, impávidos,
Carregando a expressão das brasas dos entusiasmos.

O mundo deles também anda agitado,
E ainda mais quando estão juntos;

São avejões diversos...
No advérbio adjunto do anseio disponível no plasmático vulcânico...
Fundiram os neurônios e os versos.

Não há relógio no “slow motion”,
Tampouco o reviver das simples coisas.
A caneta dança na folha branca,
O sentimento canta a canção que voa...

Os dois olhinhos são escravos do tempo,
E o tempo não vive a mercê de porta aberta...
Não cumpre a cumplicidade que se torna seguro,
Simplesmente existe, e o quase é quase eterno.

Asas batendo, colorido das penas,
Bico bem largo e garras como dentes;
Com moderação se barganha com a vida,
Contínua rotina de distrair pensamentos
E tapear os momentos e as ideias baldias.

Criou-se o hábito saboroso e salutar,
Começou a lutar com as armas evidentes.
Vê a novidade de coisas iguais que nunca foram feitas,
Reinventa os trejeitos dos seus sujeitos (dá-se um jeito).

E a luta contra o colosso imortal continua,
O gigante que é anão, que espeta,
Que apunha, apunhala, compunha a mente incerta,
E a luta se enluta no negro alerta.

(...) nessa hora os olhos se emocionam mais uma vez,
Enchem-se d’água e desaguam...
E a vida: eles querem entendê-la, desvendá-la,
Querem enterrá-la para saber sempre onde está;
Irão confessar até o que nunca fizeram
E pelos campos e cidades aos ventos voarão...

Sendo perene ou não,
Sendo asas de anjo ou dragão.

André Anlub®

(3/7/14)

20 de dezembro de 2014

Dueto da tarde (XVII)

Como um felino nervoso cruzando a noite em passadas cuidadosas,
A relva afaga suas patas, e sua mente nada vaga foca num absoluto inquieto.
Os olhos varrem o que não encontram na escuridão densa e pensa, se pensa,
E se acha o que procura, se “fura” o seu destino, se deixa ao desatino de tal noite não achar.
A caminhada é longa como é longa a vida, sua expectativa, seu investimento e o momento... 
Será que e só seguir o instinto? Afinal, acima de tudo, ele pensa em se levantar
Do chão que não é só cuidado, ganhar a nuvem, também, que não é só ideal impossível
E atravessar o infinito, pois todo ser que é mais que um ser, quer superação, quer ser mais que o material
Em que se reconhece. Como um felino nervoso, então, palpando a noite com cuidadosa minúcia,
Larga por um momento a raiva, a relva e a astúcia, vê-se no espelho d’água como se pelúcia
A natureza mãe amante lhe ofertasse ao toque e vai a reboque da sua percepção ferina.

Rogério Camargo e André Anlub®
(19/12/14)

Dueto da tarde (XVIII)

Agora pela manhã caem, sedentos pelo encaixe, dilúvios de palavras desencaixadas e irritadiças à procura da cola da inspiração.
Ontem pela tarde elas levantavam-se, olhava o mundo bem fundo nos olhos e diziam não ter medo de nada, nem da alvorada.
Agora na onda do vento a inspiração e as palavras atravessam os campos de trigo e beijam os que lá trabalham; o tempo seria amigo ou apenas conhecido das palavras?
As palavras, desencaixadas, também se perguntam: que amizade temos com o tempo, que nos esquece e não nos esquece?
Às vezes todos se entendem e nascem magníficos filhos, nascem arte e desafio, amor concreto ou por um fio, tudo se agarrando no fio da meada.
Agora pela manhã, ontem pela tarde, o tempo todo pela noite das estrelas, pela sanha de entendê-las, sem medo de lembrar ou de esquecê-las
Nas arritmias do tempo e da criação segue o menino poeta, nesse momento vai criando o novo ou recriando o velho, dando luz ao sombrio, florindo as alvoradas e ajeitando as placas de mão e contramão.
Há sentido no sentido, nos cinco sentidos, nos duzentos sentidos dos cinco sentidos sentindo... muito.
Nasce na compreensão do momento o sentimento de poder, o sentir-se um Deus, o paladar apurado e revigorado de ver além, e ver, ver... muito.
Agora pela manhã, ontem pela tarde, o tempo todo pela noite das estrelas ver, ver muito. É o que dá sentido.

Rogério Camargo e André Anlub®
(20/12/14)


Crato 250 anos



19 de dezembro de 2014

Em breve e logo mais, não são “pra já!” (em doze tempos)


I

Saindo de Juazeiro, nuvens,
Sol quente, um pouco de sede e muito já de saudade;
Deixando o olhar dos cães
E os meus olhos úmidos para todos que tenho apreço...
Mas é breve, é coisa ligeira.

O tempo passa tão logo, tão “flash”, como os ponteiros do relógio,
Na pressa e na eternidade do tempo que sempre já foi.
Seguem avião e emoção,
Trocam-se óculos...
Escuros – de grau.

Vem bloquinho, vêm sonhos de realidades;
Ao meu lado na poltrona: ninguém!
Lugar vazio é coisa rara nos tempo de hoje...
Vai ver foi de sacanagem,
Para aumentar o vazio e duplicar a saudade.

II

Entrando em Brasília:
Nuvens parecem montes, montanhas;
Nunca as vi com tais formas.

Ao longe uma se destaca mais assanhada,
Como uma torre alta, feito um castelo.
Lá embaixo um rio longo
E a sensação de estarem todos dormindo.

III

Sábado (13/12/14):

Meu café, dia chuvoso – parque meio alagado,
Cabeça lenta, bate-papo com a vendedora de uma loja vazia
E o encontro com um amigo.

Já se foram àquelas pernas energéticas, descontroladas,
Que andavam de um canto ao outro
E nadavam, nadavam a esmo ou não,
E corriam, a esmo ou não, na mais infindável eficácia.

IV

Um rissole de camarão, café espresso
E a pressa de ir a lugar algum.
Uma farinha de maracujá e mais caminhar...
Algumas coisas mudaram/mudam e outras nem tanto,
Busco sempre a poesia velha/atual/nova; o bom, a meu ver, é isso!
E ela?! ela está em todo lugar... Quem?
- Agora não importa...
O celular vibra – é mensagem – é tecnologia!
Agora não; não largarei a caneta.

V

Vulcões estouram, à realidade da lâmina do vento,
Entre diversos contratempos: melancolia e saudade.
Seguimos espertos nos mares, nos maremotos cabreiros,
Nos peixes-espadas guerreiros e ingestão de ornamentos.

O tempo agora é amigo – parceiro, sombra e herdeiro;
Delicado, bem-humorado, sorri a mim com sarcasmo.
É meu ouvinte esse tempo, o grito que ensurdece os receios,
Segredos e vivencias e abrigos – antigos pensamentos são recentes.

VI

Barba enorme e o cabelo que não cresce,
Prece disfarçada de poesia.
Todo dia um bom-dia à “reprise”
E o “vixe” que procuro nas nuvens. 

Damos sempre “viva” aos mortos,
E tem aquele que se faz evidente;
Cantam descrentes e crentes à sorte,
Cantam ao norte na hipocrisia da vida.

VII

Enquanto o sol beija meu corpo
Na fria manhã dessa quarta,
A folhinha com os dias marcados,
Parece caçoar da minha cara.

Veio tranquilidade, mas logo a má notícia;
Veio no dia à perícia, para dar certeza ao estrago.
Mas ponho forte o cordão, meu São Jorge pendurado,
E faço o branco pendão, a paz em seu imaginário reinado.

VIII

Rigor na minha sábia decisão,
Mudanças nos planos da festa;
Há pudor, mas há tiro na testa,
Se houver algum ligeiro mau humor.

Tudo são fogos com o foco armado,
Embriagado de fortuna e sorriso.
Tudo são figas nas mãos dos amados,
E com torcida não há mais perigo.

IX

Ouço pássaros chamando meu nome,
Pela varanda novo dia de conceitos e afins.
Ouço músicas que me remetem ao sono/sonho profundo,
Talvez nostalgia.

Há a obscuridade de lembranças,
Mas há a claridade das promessas e esperanças;

Há um tempo muito novo – talvez amanhã ou daqui a uns anos;
Há um tempo antigo – talvez minha infância ou seis meses atrás.

Na adolescência o tempo era farto,
Mas aos nossos olhos tornava-se escasso;
Com a maturidade o tempo torna-se escasso
E não há espaço para colocarmos as farturas.

X

O Natal bate à porta,
Entorta e revive as letras já tortas e mortas;
O novo dia chega chegando,
Breve e erudito, compromissado compromisso
De haver algo novo e harmonia.

Beijo meu anel de São Jorge,
Ato falho, desnecessário...
Pois na fé sempre me agarro!
Coloco as chinelas que trouxe
De couro velho e sola de pneu de carro;
Coloco o pijama bem leve, 
E para o frio de Itaipava me preparo.

XI

Um “drops” e um drope no copo de café,
Lá vem, com cara de cinza, mais um dia.
Hoje nada de sol, só de só (mas sobrevivo).
A névoa que não se espalha traz um pedaço de bom dia,
Traz a fleuma, bela visão do horizonte,
Inspiração e todo o restante montante...
E, à revelia, me impute felicidade.
O frio não veio;
No velho que passa pela rua com frio,
Vejo seu pensar distante e seu andar sereno.
Na criança do vizinho, 
Sinto o dom da juventude.
No pássaro que canta no voo,
Ouço o som da liberdade...

Hoje sou o mesmo eu,
Mas mais suave,
Sou velho,
Menino
E sou ave.

XII

Agora é sentir a brisa e deixar o clico rolar,
É soltar o barco no mar e acreditar;
É curar o arrepio, ser pertinente e vadio.
A sujeira pode ser limpa
E o borrão tornar-se um belo desenho.

O arremate depende do escultor,
A escultura não está completada;
O que virá, veremos,
O que se foi, folguedo (não quis ser indelicado).
A justiça sempre é feita, de uma maneira ou de outra.

Agora me torno mais eu e bato o martelo;
Cumpro minha missão,
E na submissão, que assaz “sub”,
Meço-me.

André Anlub®
((...)19/12/14)


Ótima sexta!

On the road (Pé na estrada)
(...)
A South Main Street, por onde Terry e eu perambulávamos comendo cachorrosquentes,
era um fantástico carnaval de luzes e loucura. Policiais de coturno revistavam
pessoas em praticamente cada esquina. As calçadas fervilhavam com as personagens
mais maltrapilhas da nação — tudo isso sob aquelas suaves estrelas do sul da
Califórnia, perdidas na aura escura desse enorme acampamento no deserto que L.A.
realmente é. Podia-se sentir o cheiro de erva, de baseado, quer dizer, maconha,
flutuando no ar, misturado com o odor de feijão, chili e cerveja. Aquele incrível e louco
som de bop saía flutuando das cervejarias; o som embaralhava ainda mais aquela
confusão de cowboys de todas as espécies e boogie-woogie dentro da noite
americana. Todos se pareciam com Hassel. Negros muito loucos, com doidos bonés e
cavanhaques, passavam às gargalhadas, depois vinham hipsters cabeludos e
deprimidos, recém-saídos da Rota 66 de Nova York; e então velhos ratos do deserto,
com suas mochilas, indo em direção a um banco de parque na Plaza; logo a seguir,
pastores metodistas com as mangas arregaçadas, e um eventual garoto santo e
naturalista de barba e sandália. Eu queria conhecer todos eles, conversar com todo
mundo, mas Terry e eu estávamos ocupados demais, tentando arranjar uma grana
juntos.
(...)
On the road (Pé na estrada) - Jack Kerouac 
p. 37

18 de dezembro de 2014


ALGUNS MIONICONTOS

- Não te pedi para ficar sozinho um pouco? Não te disse que estava precisando me recolher?
- Mas isso já fazem três meses!
- Pra você ver como eu estava precisando.


A boca cheia falou à boca vazia umas coisas que a boca vazia invejou, pois queria encher-se também. Mas quando teve a fartura diante dos dentes, a boca vazia percebeu coisas que a boca cheia ainda teria que esvaziar-se para perceber.


Nada fazia Falippa mudar de ideia. “Tenho certeza, e quando eu tenho certeza vou até o inferno defendendo a minha opinião”. O que Falippa não percebia é que isso já era o inferno. E ela não perceber fazia parte dele.


A cabeça de Gápilo caiu no chão com um certo estrondo, chamou a atenção de meio mundo, foi uma correria para juntá-la e por de novo em cima do aflito pescoço. Gápilo nunca perdoou sua cabeça por este vexame. Ainda se caísse discretamente e pedisse ajuda com educação para três ou quatro mais próximos, tudo bem. Mas aquele escândalo, aquela falta de pudor histérica, fotos disseminadas pela internet, programas de tevê querendo entrevistá-lo, revistas de homem pelado querendo fazer capa com ele, isso Gápilo jamais perdoaria. Nem que sua cabeça nunca mais caísse no chão.


- Trouxe uma rosa pra você.
- Mas é a mesma de ontem!
- Claro que não é a mesma de ontem, amor. Só a cor é igual.
- Então. É a mesma de ontem!


Hacágio era um homem correto. Aparentemente, Hacágio era um homem correto. Quando se descobriu que ele havia casado duas vezes no mesmo dia com mulheres diferentes e que estas mulheres nunca souberam da amante que ele mantinha desde antes dos casamentos, foi um tremor de terra. Hacágio deu um meio sorriso para todo aquele frenesi em histeria e depois disse:
- Isso que vocês nunca viram minha declaração de renda.
Houve primeiro um pequeno choque, um instante em que tudo pareceu paralisado. Logo após, uma corrida à escrivaninha de Hacágio.


- Quero deixar bem claro que deixar bem claro é coisa pra alvejante e pra sabão em pó. Se vocês querem mesmo clareza procurem um albino.
- O que ele quer dizer com isso?
- Que não quer dizer nada.


Acabou se ferindo na cerca. Ela estava ali para dizer “não passe”. Passou. Mas passou se ferindo, deixando carne e sangue no arame e levando corte fundo e ferrugem consigo. Nada bom. Mais adiante é preciso que haja mais do que outra cerca.


- Não serviu. Bota fora e compra outro.
- Mas custou 50 reais!
- Tu tens 50 reais pra comprar outro?
- Tenho.
- Então bota este fora e compra outro.
- Mas tá novinho, é uma pena.
- É, tá novinho. Mas não serviu...


Aquele poço parecia não ter fundo.
- Quem cavou isso?
- A Natureza, será?
- Olha as paredes. A Natureza costuma fazer desenhos assim?
- Pois é. Quem faria desenhos nas paredes de um poço?
- Pode que nem sempre tenha sido um poço.
- Pode. Mas pra que alguém cavaria um buraco tão fundo, com quatro metros de diâmetro e com desenhos nas paredes?
 - Não sei. Pode ser que lá embaixo a gente encontre a resposta.


- Eu espero muita coisa de ti, meu filho!
- E eu espero que esta sua espera não me desespere...

ROGÉRIO CAMARGO

Dueto da tarde (XVI)

Olhos de lince que alcançam “no lance” a paixão que passa em relance...
Instante mágico de saber e não saber, de ter certeza e afogar-se em dúvidas
E a plenitude absoluta, inspiração e labuta (que engorda e faz crescer).
Não há desculpas para não ter visto: aos olhos de penetração aguda nada escapa.
Não se trata de ser caça, nem caçador; não é preciso haver dor ou desgraça,
Também não é preciso intoxicar-se de felicidade, enlouquecer de coisa boa vista/vivida.
Há a disponibilidade da escolha, mas há de se ter equilíbrio e o brio de enxergar sempre a boa renovação.
O lince caça, a fome consome, mas o olhar de matar também é o olhar da vida tida,
A ansiedade da continuidade, a herança de tempo idos e a necessidade de se concretizar o amanhã,
Quando isso é aquilo apenas em pensamento projetado e aquilo é isso apenas em ilusão cultivada.
Essa “coisa” é o ciclo do natural; assim como mergulhamos nos sonhos com a incumbência de torná-los reais (ou não),
Ela vem e ela vai, porque é dela ir e vir, como é do lince olhar, ter fome, atacar.

Rogério Camargo e André Anlub®
(18/12/14)


17 de dezembro de 2014

Ótima noite aos amigos...





Carro-chefe da vida




Carro-chefe da vida
(André Anlub - 11/10/12)
 
Dizem que vive de pão e água,
É intocável e onipresente
Seguidora do fluxo da vida
E violentamente inocente.
 
Pai e mãe da maioria dos desejos,
Manifesta os sabores e dissabores,
Inexauríveis amores e desamores...
De calibre incoerente.
 
Pula pelos corações inflamados,
(cutuca, grita, devora)
Delibera-se nos canteiros que aflora,
Corrente casta invisível.
 
Do atual lirismo à nostalgia inerente,
Em serenatas e poesias...
Faz-se mais que presente.

Mais alguns "tempos"




Em breve e logo mais, não são “pra já!” 
(em doze tempos)
André Anlub®

V

Vulcões estouram, à realidade da lâmina do vento,
Entre diversos contratempos: melancolia e saudade.
Seguimos espertos nos mares, nos maremotos cabreiros,
Nos peixes-espadas guerreiros e ingestão de ornamentos.

O tempo agora é amigo – parceiro, sombra e herdeiro;
Delicado, bem-humorado, sorri a mim com sarcasmo.
É meu ouvinte esse tempo, o grito que ensurdece os receios,
Segredos e vivencias e abrigos – antigos pensamentos são recentes.

VI

Barba enorme e o cabelo que não cresce,
Prece disfarçada de poesia.
Todo dia um bom-dia à “reprise”
E o “vixe” que procuro nas nuvens.

Damos sempre “viva” aos mortos,
E tem aquele que se faz evidente;
Cantam descrentes e crentes à sorte,
Cantam ao norte na hipocrisia da vida.

VII

Enquanto o sol beija meu corpo
Na fria manhã dessa quarta,
A folhinha com os dias marcados,
Parece caçoar da minha cara.

Dueto da tarde [XV]

Depois que a sombra tomou conta da lua, fazendo-se menina também,
Desenhou um sorriso (lá e cá), e agora almeja ir além.
Depois que a lua mostrou à sombra que era ela e mais ninguém,
Desvendou os mistérios, trouxe a paz que apraz o “porém”.

Estavam as duas como sempre estão as duas quando o mar se acalma,
Ponto de luz cintilando no espelho, desvanecendo o receio de um futuro breu na alma.
Para a imagem de sol que guardava ainda na lembrança, ergueu as mãos, mostrou as palmas,
Sentiu o respeito, o respiro, o silencio, a saliência e o bendito dos peixes e de todas as finas floras e faunas.

Era um tempo gasto em se mirar nos espelho das águas mansas e reticentes,
Em ver o próprio rosto sorridente, ver felicidade e futuras pulcras nascentes
Onde reconhecer a sombra das coisas e a sombra das gentes.

Assim molda-se a vida, construindo as saídas pelos naturais caminhos
Que dão à sombra da lua modo e razão para amar seus desalinhos
E ela se dispensa; entra em cena e põe a mesa a energia dos astros vizinhos.

Rogério Camargo e André Anlub®
(17/12/14)



Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.