6 de novembro de 2014

Na saliva da vida


Na saliva da vida
(André Anlub - 4/4/13)

Sem rumo, faz do instinto sua bússola,
Anda com a cara e a coragem;
Não mata um leão por dia,
Mas encara a besta macabra.

É dono dos prós e contras,
Um pé na frente e outro atrás;
Constrói seus moinhos de vento
Ao som de um clássico do jazz.

A cada lua minguante,
Pinta um cômodo da casa
E rega o jardim das camélias...
Que vibram nas águas dançantes.

O cachorro deitado num canto
E o canto dos pássaros belos:

- O pica-pau e o trinca-ferro
- O bem-te-vi e um melro...
Dão mais vida ao montante.

O voo da tranquilidade
Num céu azul de espaço,
Abraço da vida em liberdade
É o beijo na sede no riacho.

Não mais submerso em vil fachada,
Brinda os versos da mãe natureza;
Em aquarelas muito além das janelas
Que atravessa seguindo as pegadas.

Agora não são mais quimeras,
Novas paixões o esperam...
Sem sonho, sem pouco, sem mera
Nas mil opções de chegadas.



5 de novembro de 2014

Acalmando a alma VI


Dia da Cultura - 5 de Novembro

Comemora-se hoje o Dia da Cultura Brasileira, homenagem a Ruy Barbosa, nascido em 5 de novembro de 1849. 




O JUSTO E A JUSTIÇA POLÍTICA
Sexta-feira, 31 de março de 1899.
Rui Barbosa

Para os que vivemos a pregar à república o culto da justiça como o supremo elemento preservativo do regímen, a história da paixão, que hoje se consuma, é como que a interferência do testemunho de Deus no nosso curso de educação constitucional. O quadro da ruína moral daquele mundo parece condensar-se no espetáculo da sua justiça, degenerada, invadida pela política, joguete da multidão, escrava de César. Por seis julgamentos passou Cristo, três às mãos dos judeus, três às dos romanos, e em nenhum teve um juiz. Aos olhos dos seus julgadores refulgiu sucessivamente a inocência divina, e nenhum ousou estender-lhe a proteção da toga. Não há tribunais, que bastem, para abrigar o direito, quando o dever se ausenta da consciência dos magistrados.

Grande era, entretanto, nas tradições hebraicas, a noção da divindade do papel da magistratura. Ensinavam elas que uma sentença contrária à verdade afastava do seio de Israel a presença do Senhor, mas que, sentenciando com inteireza, quando fosse apenas por uma hora, obrava o juiz como se criasse o universo, porquanto era na função de julgar que tinha a sua habitação entre os israelitas a majestade divina. Tão pouco valem, porém, leis e livros sagrados, quando o homem lhes perde o sentimento, que exatamente no processo do justo por excelência, daquele em cuja memória todas as gerações até hoje adoram por excelência o justo, não houve no código de Israel norma, que escapasse à prevaricação dos seus magistrados.

No julgamento instituído contra Jesus, desde a prisão, uma hora talvez antes da meia-noite de quinta-feira, tudo quanto se fez até ao primeiro alvorecer da sexta-feira subseqüente, foi tumultuário, extrajudicial, a atentatório dos preceitos hebraicos. A terceira fase, a inquirição perante o sinedrim, foi o primeiro simulacro de forma judicial, o primeiro ato judicatório, que apresentou alguma aparência de legalidade, porque ao menos se praticou de dia. Desde então, por um exemplo que desafia a eternidade, recebeu a maior das consagrações o dogma jurídico, tão facilmente violado pelos despotismos, que faz da santidade das formas a garantia essencial da santidade do direito.

O próprio Cristo delas não quis prescindir. Sem autoridade judicial o interroga Anás, transgredindo as regras assim na competência, como na maneira de inquirir; e a resignação de Jesus ao martírio não se resigna a justificar-se fora da lei: "Tenho falado publicamente ao mundo. Sempre ensinei na sinagoga e no templo, a que afluem todos os judeus, e nunca disse nada às ocultas. Por que me interrogas? Inquire dos que ouviam o que lhes falei: esses sabem o que eu lhes houver dito". Era apelo às instituições hebraicas, que não admitiam tribunais singulares, nem testemunhas singulares. O acusado tinha jus ao julgamento coletivo, e sem pluralidade nos depoimentos criminadores não poderia haver condenação. O apostolado de Jesus era ao povo. Se a sua prédica incorria em crime, deviam pulular os testemunhos diretos. Esse era o terreno jurídico. Mas, porque o filho de Deus chamou a ele os seus juízes, logo o esbofetearam. Era insolência responder assim ao pontífice. Sic respondes pontifici? Sim, revidou Cristo, firmando-se no ponto de vista legal: "se mal falei, traze o testemunho do mal; se bem, por que me bates?"

Anás, desorientado, remete o preso a Caifás. Este era o sumo sacerdote do ano. Mas, ainda assim, não não tinha a jurisdição, que era privativa do conselho supremo. Perante este já muito antes descobrira o genro de Anás a sua perversidade política, aconselhando a morte a Jesus, para salvar a nação. Cabe-lhe agora levar a efeito a sua própria malignidade, "cujo resultado foi a perdição do povo, que ele figurava salvar, e a salvação do mundo, em que jamais pensou".

A ilegalidade do julgamento noturno, que o direito judaico não admitia nem nos litígios civis, agrava-se então com o escândalo das testemunhas falsas, aliciadas pelo próprio juiz, que, na jurisprudência daquele povo, era especialmente instituído como o primeiro protetor do réu. Mas, por mais falsos testemunhos que promovessem, lhe não acharam a culpa, que buscavam. Jesus calava. Jesus autem tacebat. Vão perder os juízes prevaricadores a segunda partida, quando a astúcia do sumo sacerdote lhes sugere o meio de abrir os lábios divinos do acusado. Adjura-o Caifás em nome de Deus vivo, a cuja invocação o filho não podia resistir. E diante da verdade, provocada, intimada, obrigada a se confessar, aquele, que a não renegara, vê-se declarar culpado de crime capital: Reus est mortis. "Blasfemou! Que necessidade temos de testemunhas? Ouvistes a blasfêmia". Ao que clamaram os circunstantes: "É réu de morte".

Repontava a manhã, quando a sua primeira claridade se congrega o sinedrim. Era o plenário que se ia celebrar. Reunira-se o conselho inteiro. In universo concilio, diz Marcos. Deste modo se dava a primeira satisfação às garantias judiciais. Com o raiar do dia se observava a condição da publicidade. Com a deliberação da assembléia judicial, o requisito da competência. Era essa a ocasião jurídica. Esses eram os juízes legais. Mas juízes, que tinham comprado testemunhas contra o réu, não podiam representar senão uma infame hipocrisia da justiça. Estavam mancomunados, para condenar, deixando ao mundo o exemplo, tantas vezes depois imitado até hoje, desses tribunais, que se conchavam de véspera nas trevas, para simular mais tarde, na assentada pública, a figura oficial do julgamento.

Saía Cristo, pois, naturalmente condenado pela terceira vez. Mas o sinedrim não tinha o jus sanguinis, não podia pronunciar a pena de morte. Era uma espécie de júri, cujo veredictum, porém, antes opinião jurídica do que julgado, não obrigava os juízes romanos. Pilatos estava, portanto, de mãos livres, para condenar, ou absolver. "Que acusação trazeis contra este homem?" Assim fala por sua boca a justiça do povo, cuja sabedoria jurídica ainda hoje rege a terra civilizada. "Se não fosse um malfeitor, não to teríamos trazido", foi a insolente resposta dos algozes togados. Pilatos, não querendo ser executor num processo, de que não conhecera, pretende evitar a dificuldade, entregando-lhes a vítima: "Tomai-o, e julgai-o segundo a vossa lei". Mas, replicam os judeus, bem sabes que "nos não é lícito dar a morte a ninguém". O fim é a morte, e sem a morte não se contenta a depravada justiça dos perseguidores.

Aqui já o libelo se trocou. Não é mais de blasfêmia contra a lei sagrada que se trata, senão de atentado contra a lei política. Jesus já não é o impostor que se inculca filho de Deus: é o conspirador, que se coroa rei da Judéia. A resposta de Cristo frustra ainda uma vez, porém, a manha dos caluniadores. Seu reino não era deste mundo. Não ameaçava, pois, a segurança das instituições nacionais, nem a estabilidade da conquista romana. "Ao mundo vim", diz ele, "para dar testemunho da verdade. Todo aquele que for da verdade, há de escutar a minha voz". A verdade? Mas "que é a verdade"? pergunta definindo-se o cinismo de Pilatos. Não cria na verdade; mas a da inocência de Cristo penetrava irresistivelmente até o fundo sinistro dessas almas, onde reina o poder absoluto das trevas. "Não acho delito a este homem", disse o procurador romano, saindo outra vez ao meio dos judeus.

Devia estar salvo o inocente. Não estava. A opinião pública faz questão da sua vítima. Jesus tinha agitado o povo, não ali só, no território de Pilatos, mas desde Galiléia. Ora acontecia achar-se presente em Jerusalém o tetrarca da Galiléia, Heródes Antipas, com quem estava de relações cortadas o governador da Judéia. Excelente ocasião, para Pilatos, de lhe reaver a amizade, pondo-se, ao mesmo tempo, de boa avença com a multidão inflamada pelos príncipes dos sacerdotes. Galiléia era o forum originis do Nazareno. Pilatos envia o réu a Heródes, lisonjeando-lhe com essa homenagem a vaidade. Desde aquele dia um e outro se fizeram amigos, de inimigos que eram. Et facti sunt amici Herodes et Pilatus in ipsa die; nam antea inimici erant ad invicem. Assim se reconciliam os tiranos sobre os despojos da justiça.

Mas Herodes também não encontra, por onde condenar a Jesus, e o mártir volta sem sentença de Herodes a Pilatos que reitera ao povo o testemunho da intemerata pureza do justo. Era a terceira vez que a magistratura romana a proclamava. Nullam causam invenio in homine isto ex his, in quibus eum accusatis. O clamor da turba recrudesce. Mas Pilatos não se desdiz. Da sua boca irrompe a quarta defesa de Jesus: "Que mal fez ele? Quid enim mali fecit iste?" Cresce o conflito, acastelam-se as ondas populares. Então o procônsul lhes pergunta ainda: "Crucificareis o vosso rei?" A resposta da multidão em grita foi o raio, que desarmou as evasivas de Herodes: "Não conhecemos outro rei, senão César". A esta palavra o espectro de Tibério se ergueu no fundo da alma do governador da província romana. O monstro de Cáprea, traído, consumido pela febre, crivado de úlceras, gafado da lepra, entretinha em atrocidades os seus últimos dias. Traí-lo era perder-se. Incorrer perante ele na simples suspeita de infidelidade era morrer. O escravo de César, apavorado, cedeu, lavando as mãos em presença do povo: "Sou inocente do sangue deste justo".

E entregou-o aos crucificadores. Eis como procede a justiça, que se não compromete. A história premiou dignamente esse modelo da suprema cobardia na justiça. Foi justamente sobre a cabeça do pusilânime que recaiu antes de tudo em perpétua infâmia o sangue do justo.

De Anás a Herodes o julgamento de Cristo é o espelho de todas as deserções da justiça, corrompida pela facções, pelos demagogos e pelos governos. A sua fraqueza, a sua inconsciência, a sua perversão moral crucificaram o Salvador, e continuam a crucificá-lo, ainda hoje, nos impérios e nas repúblicas, de cada vez que um tribunal sofisma, tergiversa, recua, abdica. Foi como agitador do povo e subversor das instituições que se imolou Jesus. E, de cada vez que há precisão de sacrificar um amigo do direito, um advogado da verdade, um protetor dos indefesos, um apóstolo de idéias generosas, um confessor da lei, um educador do povo, é esse, a ordem pública, o pretexto, que renasce, para exculpar as transações dos juízes tíbios com os interesses do poder. Todos esses acreditam, como Pôncio, salvar-se, lavando as mãos do sangue, que vão derramar, do atentado, que vão cometer. Medo, venalidade, paixão partidária, respeito pessoal, subserviência, espírito conservador, interpretação restritiva, razão de estado, interesse supremo, como quer te chames, prevaricação judiciária, não escaparás ao ferrete de Pilatos! O bom ladrão salvou-se. Mas não há salvação para o juiz cobarde.

* Obras Completas de Rui Barbosa, "A Imprensa", vol. XXVI, tomo IV, 1889, p. 185-191.

Manjando o Kilimanjaro


Manjando o Kilimanjaro
(André Anlub® - 27/4/14)

Tanto tempo contemplando a inventiva montanha:
Mais tarde, quem sabe, a alma fale e olhe com olhar sedento;
Quem sabe exprime, em música e rima, a saudade e o lamento.
Mais tarde, quem sabe, tal angústia suave e em silêncio,
Desça sem freio e molhe o meu cúmplice de pano...
(meu travesseiro)

Submerso nas ilusões das palavras de tintas e nos fios de seda,
Procedo com medo, arredio, e coração cheio de ar, de vento, de ventania...
(porém, vazio).

Ficou tarde e agora troca-se o chá verde de menta
Por um copo cheio de camomila;
(quem sabe uma taça de vinho).

As torradas com mel e gergelim,
As estrelas da noite ou de um céu, enfim,
Quase tudo de quase todos,
Sumiram com a escuridão da saliva seca da saudade...

No céu da boca.
Foi-se a montanha, é o fim...
(eu e o horizonte, sós).

3 de novembro de 2014

Acalmando a alma V




Vozes na Praça II

2 de novembro de 2014

Le Petit Maurice




Le Petit Maurice

Depois de sair do seu banho...

Reparte o cabelo ao meio,
passa um pouco de Gumex,
no pulso seu belo Rolex.
Separa um trocado pra cerva,
não se esquece da erva
e a chave de seu Chevrolet Veraneio.

Coloca uma bermuda de marca,
um chinelo de dedo,
mesmo sabendo que é cedo,
um uísque e dois cubos de gelo.

Vai sem rumo pra Urca,
louco varrido na praia,
depois uma pizzaria famosa,
com gente bonita faz prosa
(nunca soube o que é uma árdua labuta!)

Esse ano fez trinta anos,
(nunca na vida fez planos!)
mede um metro e noventa,
um par de olhos azuis,
ama bala de menta,
pai rico, famoso juiz.

Estudou nos melhores ensinos,
fez inglês nos Estados Unidos;
mulheres ele coleciona aos quilos,
é inteligente e feliz.

Fundou uma confraria de solteiros,
charutos e bebidas - prostitutas e cavalos
Quando chegou aos quarenta,
dinheiro e saúde pro ralo.

A vida ficou antipática,
empilhando contas em sua mesa,
o burguês que migrou pra pobreza,
morreu de cirrose hepática.

André Anlub®
(1/10/12)

1 de novembro de 2014

Vozes na Praça...



Coquetel de lançamentos de livros solos das associadas Rosângela Souza Goldoni RosangelaSgoldoni, FIAPOS DE LUCIDEZ, Comendadora Sol Figueiredo, UM RAIAR DE SOL EM AMOR, 2ª 3 edição e Vany Campos, RELICÁRIO.

Lançamentos do infantojuvenil POR UM MUNDO MELHOR e Contos, Crônicas & Poesia, do grupo de associados e seguidores de Poemas à Flor da Pele, coordenados por Soninha Porto.
Serão relançadas as Antologias Poemas à Flor da Pele, volume 8 e III Poetas Fazendo Arte em Búzios.

Na oportunidade terão várias apresentações de música, dança e poesia.
Patricia Mihr, bailarina de Porto Alegre, confirmada.
VIVAPALAVRA, grupo de Porto Alegre, coordenador por Zaira Cantarelli, confirmado.
Maurício Oliveira, fotógrafo e músico de Porto Alegre, confirmado.
Marco Araujo, músico de Porto Alegre, confirmado. 
João Antônio Pereira, poeta e músico de Porto Alegre, confirmado.
Marcos Bahrone e Alana Haase, performances confirmado. 

Não deixem de comparecer, será imperdível!
O evento tem a cobertura do Jornal Sem Fronteiras de Dyandreia Portugal e Fábio Valverde Portugal.

Acalmando a alma IV

Caixa preta




Caixa preta
(André Anlub - 9/9/13)

Saboreio cada gesto como se fosse o último,
Tento adivinhar o manifesto do seu pensamento
Como se fosse o primeiro, como se fosse justo.
Nada é em vão.

A sua corrente quente me ajuda a nadar,
Fico mais confortável e feliz.
Aquela força resistente me diz:
Atravesse o oceano e me beija.

Pelejas amigas, cantigas antigas,
Caem bem, são bem recebidas.
Paixões passadas, cicatrizes fechadas,
Caem bem, na caixa preta trancada.

Pela manhã molho o rosto e constato minha sorte,
Perdi há tempos a necessidade de encenar.
A barba branca, o cabelo ralo
E da vivência o aguçado faro
- o voo mais acertado.

Limpo a poeira da caixa,
Às vezes passo um verniz,
Mas não abro.

O nosso presente já é tudo que me chega,
Me cega e me cerca, fazendo coerente o amor.
Já não acolho vozes externas, demagogias,
Orgias de picuinhas, não mais...
Enfim você chegou!
Está ardendo àquela prometida fogueira,
Com panos - papéis inúteis,
Quilos de baboseiras...
E a velha caixa queimou.

31 de outubro de 2014

Aniversário de Drummond

Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987) foi um poeta, contista e cronista brasileiro, considerado por muitos o mais influente poeta brasileiro do século XX.




Antologia Quinta Barnasiana


Antologia Quinta Barnasiana
do BAR DO ESCRITOR

O Bar do Escritor é um movimento literário que busca a divulgação do conhecimento, a amplitude do pensamento e a expansão da liberdade.

Quinta, em português da pátria-mãe, é um terreno rural, uma enfermaria para prostitutas ou o número ordinal feminino. Esta quinta antologia de contos, crônicas e poemas reúne 38 autores brasileiros e um de Moçambique, escrevendo sobre diversos sentimentos, do mais formal ao mais lisérgico, do mais brando ao mais brabo. São 240 páginas de entretenimento literário, focado na diversão das experiências vividas em assuntos debatidos em mesas de bares.

Entre os autores, destacam-se escritores consagrados, membros de academias de letras, jornalistas, compositores, vencedores de concursos literários, lutadores de MMA, vagabundos, poetas, sonhadores e amigos de toda espécie.

A apresentação é realizada por autores participantes das quatro obras anteriores: Ruy Villani, Magmah e Pablo Treuffar.

Para conhecer a história do bar: http://bardoescritor.blogspot.com.br/p/historia.html

Os Autores:
Andrade Jorge, André Anlub, André Giusti, Andrea Carvalho, Angela Gomes, Arthur Miranda, Carlos Alvarenga, Carlos Cruz, Cecília Mello, Cinthia Kriemler, Cristiano Deveras, Deliane Leite, Fernando Troncoso, Flá Perez, Giovani Iemini, Jorge Amâncio, Julia Pascali, Larissa Marques, Leonardo Macrô, Lourenço Dutra, Luan Luiz, Magmah, Mahara Damasceno, Mahiriri Ossuka, Marcio Takenaka, Maria Ligia Ueno, Mariângela Padilha, Pablo Treuffar, Rafael Albuquerque, Regina Vilarinhos, Renato Saldanha Lima, Roberto Klotz, Robson Lousa, Ruth Cassab Brólio, Ruy Villani, Simone Pedersen, Vinícius G. Ferreira, William Trapo, Wilson R..

As antologias anteriores do Bar do Escritor: http://bardoescritor.blogspot.com.br/p/livros-do-bde.html

www.bardoescritor.com.br
ALGUNS MINICONTOS

Era simplesmente estar ali. Por isso toda a dificuldade para simplesmente estar ali.


- Essa coisa de paixão é muito complicada, rapaz. Você diz que sim, ela diz talvez; você diz que não, ela diz vamos ver; você diz eu quero, ela diz vou pensar.
- Pois é, rapaz. E quando você diz talvez e ela diz que sim?!
- Então! Não é uma barra?


O silêncio floria. Era uma flor silenciosa, claro, feita de recolhimentos, introspecção e alguma timidez. Mas era uma timidez diferente: já havia corrido o mundo e falado com muitos pássaros.


Zalla, a louca, não era louca. Alguém loucamente metera na cabeça que Zalla era louca, conseguira convencer mais alguém e quase convenceram Zalla. Para manter a fama e seu lugar na clínica, Zalla até dava umas risadas estranhas e arregalava os olhos, de vez em quando. Davam-lhe um sedativo, ela perdia um capítulo da novela, mas por uma semana ou dez dias consideravam seu dever para com ela cumprido. Ela também.


A zona rural estava encolhendo. A cidade avançava em direção aos campos com a fome de um leão magro. E o que ela abocanhava não devolvia nunca mais. A zona rural preocupava-se em escrever sua história, pelo menos, para o dia em que tudo fosse a cidade e não houvesse nada além da lembrança. Mas ela escrevia com suspiros num pergaminho de lamentações. Nenhuma biblioteca da cidade receberia este livro. Talvez um museu.


- Eu já li todos!
- Mas são dois mil, oitocentos e vinte e quatro!
- Tô dizendo, eu já li todos.
- Pela ordem, alternado ou de trás pra frente?


- Eu ainda não cheguei a este estágio.
- E você sabe para que estágio está indo?


- Me ensina a ser feliz?
- Claro. Quando é que tu tens tempo?


O neonazista estava muito preocupado: sua suástica virou ao contrário e não havia jeito de desviar. A cada vez que ele tentava força-la a isso, ela girava, ameaçando decepar-lhe o dedo. Quando tentou com um pedaço de madeira, ela partiu-o em vinte. Quanto tentou com um ferro, tomou um choque violento. O neonazista chorou de desespero, as lágrimas pingaram na suástica e evaporaram no mesmo instante.


- Não pode ser assim!
- Então como é que está sendo?
- N´~ao brinca comigo!
- Não estou brinjcando. Pelo contrário, estou fazendo uma pergunta muito séria.
- Você está confundindo o “pode” moral com o “pode” factual.
- Tem certeza de que sou eu que estou confundindo os dois?


Muito elegante nas suas alpargatas marrons, suas meias vermelhas, sua bombacha azul, sua camisa branca, seu lenço verde, seu chapéu de feltro, bigode aparado, sorriso abundante, Gevinácio não entendeu nada quando lhe bateram a porta na cara dizendo “vai embora senão eu chamo a segurança!” Que diabo de mundo era aquele?


Volta e meia não há meia volta: é seguir em frente e seguir reto, sem pausa para o cafezinho e o papo furado.


A vida é melhor quando não quer ser melhor e não se sente pior porque não é melhor.


Beprilina deixou que sua mão saísse flutuando mundo afora, levada por uma brisa brejeira que, quando Beprilina pediu sua mão de volta, riu gostoso e respondeu:
- Vem buscar.

(Rogério Camargo)

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.