8 de novembro de 2014


ALGUNS MINICONTOS

O texto falava o que os textos raramente falam, porque os textos não são de falar, são de escrever. Tronúncio, então, em vez de ouvir o que o texto falava, só ficava lendo, coitado, e perdia tudo.


- Me chamou de mentiroso!
- Bem, você nem sempre fala a verdade.
- E me chamou de intransigente.
- Bom, você nem sempre é flexível.
- Também me chamou de violento.
- Já te vi dar alguns socos na mesa.
- Me chamou de...
- Peraí. Te chamou, te chamou. E você foi?


- Quando nós fomos dois-em-um era ótimo, não era, Lalinha?
- Era. Estragou tudo quando tivemos que ser três-em-um.


- Eu só quero saber de uma coisa!
- É mais feliz que eu então. Quero saber bem mais do que uma...


Atravessamos a cidade a pé. Muitas horas caminhando. Descobrimos várias cidades dentro da cidade. Vamos atravessar a cidade a pé outras vezes.


- Lembra quando nós éramos felizes?
- Não foi ontem?
- Parece que foi ontem...


- Eu nunca mais vi Jenumina.
- E é importante que vejas Jenumina?
- Não sei, só acho estranho. Antes eu via tanto Jenumina e agora não vejo mais.
- E quem é que estás vendo bastante hoje?
- Você, por exemplo.
- Então eu sou a Jenumina de amanhã.
- Não diz isso!
- Por que não?


Uma simples troca de olhar, ela disse. E Plinalvo acreditou. E trocou de olhar com ela. E então viu que não havia nada de simples naquilo.


Pensando outra vez em tudo que deixou de fazer, Fanitto sentiu um nó na garganta e um peso no peito. Então Fanitto pensou – outra vez – em tudo que não fez e se odiaria caso tivesse feito. O nó desatou-se na garganta e o peso saiu de seu peito.


Dolévio não conseguia emprego mesmo com ótimas qualificações. Formado, pós-graduado, estágios respeitáveis, de toda vez que batia na porta “certa” ela se fechava. Ou permanecia fechada. O que há de errado comigo?, lastimava-se. Será que vou ter que dar um tiro na cabeça? Deu. Não conseguiu morrer, todavia. E suas ótimas qualificações, depois disso, passaram a valer menos ainda.


Era capaz de mandar tudo às favas, de virar as costas e nunca mais voltar. Mas algo o impedia. Então ele olhava para a capacidade de mandar tudo às favas, fazia-lhe perguntas diretas e recebia respostas que não o agradavam, pois não estavam na sua capacidade de virar as costas e não voltar nunca mais.


- Vô, o que é globalização?
- É quando passa a mesma novela em todos os canais de televisão do mundo.
- Ah, vô, não brinca!
- E quem te diz que eu estou brincando, filho?


Solto no mundo, Gerardo Saralva preocupava-se apenas com o dia em que o mundo ia se incomodar com isso e exigir que ele ficasse preso. Enquanto não vinha esta desgraça, Gerardo Saralva pouco se importava. Mas quando ela viesse ele ia se importar muito.


- As coisas tristes também são bonitas.
- É, mas são tristes.
- Isso a gente já sabia desde o início...


Temos que comprar, temos que comprar, temos que comprar. Será mesmo que temos que comprar, temos que comprar, temos que comprar?


Astrovínio comprou um computador novo no exato dia em que seu computador velho disse que poderia durar ainda três anos, com folga. Astrovínio achou um desaforo seu computador velho dizer uma coisas dessas.

Rogério Camargo

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Agradecemos pela leitura.

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.