31 de outubro de 2014

ALGUNS MINICONTOS

Era simplesmente estar ali. Por isso toda a dificuldade para simplesmente estar ali.


- Essa coisa de paixão é muito complicada, rapaz. Você diz que sim, ela diz talvez; você diz que não, ela diz vamos ver; você diz eu quero, ela diz vou pensar.
- Pois é, rapaz. E quando você diz talvez e ela diz que sim?!
- Então! Não é uma barra?


O silêncio floria. Era uma flor silenciosa, claro, feita de recolhimentos, introspecção e alguma timidez. Mas era uma timidez diferente: já havia corrido o mundo e falado com muitos pássaros.


Zalla, a louca, não era louca. Alguém loucamente metera na cabeça que Zalla era louca, conseguira convencer mais alguém e quase convenceram Zalla. Para manter a fama e seu lugar na clínica, Zalla até dava umas risadas estranhas e arregalava os olhos, de vez em quando. Davam-lhe um sedativo, ela perdia um capítulo da novela, mas por uma semana ou dez dias consideravam seu dever para com ela cumprido. Ela também.


A zona rural estava encolhendo. A cidade avançava em direção aos campos com a fome de um leão magro. E o que ela abocanhava não devolvia nunca mais. A zona rural preocupava-se em escrever sua história, pelo menos, para o dia em que tudo fosse a cidade e não houvesse nada além da lembrança. Mas ela escrevia com suspiros num pergaminho de lamentações. Nenhuma biblioteca da cidade receberia este livro. Talvez um museu.


- Eu já li todos!
- Mas são dois mil, oitocentos e vinte e quatro!
- Tô dizendo, eu já li todos.
- Pela ordem, alternado ou de trás pra frente?


- Eu ainda não cheguei a este estágio.
- E você sabe para que estágio está indo?


- Me ensina a ser feliz?
- Claro. Quando é que tu tens tempo?


O neonazista estava muito preocupado: sua suástica virou ao contrário e não havia jeito de desviar. A cada vez que ele tentava força-la a isso, ela girava, ameaçando decepar-lhe o dedo. Quando tentou com um pedaço de madeira, ela partiu-o em vinte. Quanto tentou com um ferro, tomou um choque violento. O neonazista chorou de desespero, as lágrimas pingaram na suástica e evaporaram no mesmo instante.


- Não pode ser assim!
- Então como é que está sendo?
- N´~ao brinca comigo!
- Não estou brinjcando. Pelo contrário, estou fazendo uma pergunta muito séria.
- Você está confundindo o “pode” moral com o “pode” factual.
- Tem certeza de que sou eu que estou confundindo os dois?


Muito elegante nas suas alpargatas marrons, suas meias vermelhas, sua bombacha azul, sua camisa branca, seu lenço verde, seu chapéu de feltro, bigode aparado, sorriso abundante, Gevinácio não entendeu nada quando lhe bateram a porta na cara dizendo “vai embora senão eu chamo a segurança!” Que diabo de mundo era aquele?


Volta e meia não há meia volta: é seguir em frente e seguir reto, sem pausa para o cafezinho e o papo furado.


A vida é melhor quando não quer ser melhor e não se sente pior porque não é melhor.


Beprilina deixou que sua mão saísse flutuando mundo afora, levada por uma brisa brejeira que, quando Beprilina pediu sua mão de volta, riu gostoso e respondeu:
- Vem buscar.

(Rogério Camargo)

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Agradecemos pela leitura.

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.